Hospital Santa Maria cumpre tempos de espera na oncologia

O administrador do Centro Hospitalar de Lisboa Norte assegura que os problemas apontados pelo director do serviço foram resolvidos. Ordem dos Médicos e Liga Portuguesa Contra o Cancro diz que situação é "muito preocupante".

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O administrador do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN), Carlos Martins, assegurou nesta quinta-feira que os tempos de espera na oncologia são cumpridos e que os problemas apontados pelo director do serviço foram resolvidos na quarta-feira.

"Tenho o maior respeito e consideração pelo professor Luís Costa, é um excelente director de departamento, é um excelente director de serviço, é uma pessoa responsável e, portanto, quero crer que tudo aquilo que ontem [quarta-feira] foi dito na reunião e que foi resolvido constituirá a resposta devida para algumas pequenas preocupações que existiam", disse Carlos Martins à agência Lusa.

No que respeita a contratações, Carlos Martins disse não há "nenhum pedido pendente". Também "não há nenhum pedido de equipamento ou obras que tenha sido recusado, nem de novas áreas. Portanto, estou tranquilo", frisou.

Em declarações à TSF, o director do serviço de Oncologia de Santa Maria, Luís Costa, disse que tem aumentado a procura por causa da lei que abre a hipótese de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e queixa-se de falta de espaço e de meios humanos.

"Estou quase a abrir [lista de espera] porque não tenho médicos para tantos doentes nem tenho espaço. (...) Começámos na semana passada, não conseguimos tratar os doentes que estavam previstos e tivemos que adiar [os tratamentos] uma semana", afirma Luís Costa.

Ordem alerta para situação "muito preocupante"

A Ordem dos Médicos (OM) considerou já nesta quinta-feira "muito preocupante" que o Hospital de Santa Maria se tenha visto obrigado a adiar tratamentos oncológicos por "falta de médicos, outros profissionais e espaço adequado".

Em comunicado, o presidente do Conselho Regional do Sul da OM. Alexandre Valentim Lourenço, considera que "criar listas de espera em Oncologia é correr o risco de perda de vidas", o que considera "inadmissível e cujas responsabilidades são totalmente do Ministério da Saúde".

Segundo Alexandre Valentim Lourenço, a liberdade de escolha dos doentes pelo hospital onde querem ser tratados é "uma excelente medida, mas falha redondamente porque falta regulamentação legislativa, financiamento e planeamento que permitam a autonomia dos serviços e dos hospitais".

Também o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro manifestou-se nesta quinta-feira muito preocupado com a hipótese de o Hospital de Santa Maria vir a ter uma lista de espera para tratar doentes oncológicos por falta de meios.

Questionado pela Lusa, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Veloso, recorda que já tinha sido noticiada a existência de listas de espera para cirurgia nestes doentes, mas que se o mesmo acontecer aos tratamentos "pode fazer a diferença entre a cura e a curta sobrevivência".

"O adiamento de tratamentos e o aumento das listas de espera de cirurgia [oncológica] pode fazer a diferença entre uma cura e uma sobrevivência pequena e com má qualidade de vida", sublinha Vítor Veloso.

"Surpreendido com a notícia"

Mas o administrador do CHLN disse nesta quinta-feira que ficou "surpreendido com a notícia", sublinhando que se impõe repor a verdade. "Importava repor a verdade porque a área oncológica não pode, nem deve ser, uma área onde haja dúvidas sobre as capacidades desta instituição, até porque somos um dos maiores serviços de oncologia do país em termos de resposta e qualidade", comentou.

No caso concreto da oncologia médica, um dos serviços que cresceu mais em termos de recursos, disse que foram contratados mais cinco médicos e que recentemente houve mais uma contratação autorizada. Ainda na quinta-feira chegaram mais três autorizações de especialistas.

"Não só crescemos em termos de novos médicos, o serviço de oncologia tem mais cinco médicos, perdemos um neste período, formados no hospital, e também crescemos na nossa responsabilidade de formação de novos especialistas", frisou.

No cômputo geral, entre os internos que saíram e os que entraram há mais 11 médicos.

"O que nós temos é uma situação que nos orgulha a todos, ou seja, não ultrapassamos nenhuma mediana, mal era, estamos a falar de oncologia", afirmou Carlos Martins a propósito das listas de espera, sendo o tempo médio de espera de 20 dias, salientando que houve um "crescimento assinalável", uma média de 15%, nas primeiras consultas nos últimos dois anos.

"Este crescimento tem a ver com a liberdade de escolha. Nós costumamos dizer que são as dores de crescimento, as dores da qualidade, as dores da credibilidade da instituição, é o mesmo que a urgência. Somos a única urgência do país que cresce a dois dígitos", frisou.

Anunciou ainda que vai ser feito "um grande investimento na área da oncologia", que será numa primeira fase de 7,5 até 10 milhões de euros, dos quais há um co-financiamento comunitário.

"Vamos duplicar a área física da radioterapia, o número de aceleradores lineares, vamos ter uma nova TAC [Tomografia Axial Computorizada] na área da radioterapia e isto permitirá aumentar em muito a capacidade de resposta", afirmou, salientando que "será o equipamento mais avançado da Península Ibérica".

Segundo Carlos Martins, a obra arrancará nos próximos 30 dias e deverá estar ao serviço público em Janeiro de 2019.

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