Mais do que aprendê-la, os jovens têm de viver mais a Europa

O ensino básico e secundário tem de introduzir na sua organização curricular conteúdos que ajudem os jovens a perceber o quanto a Europa está presente em todas as horas da sua vida.

No dia 9 de maio, Dia da Europa, vale a pena falar sobre o conhecimento e a ligação afetiva que os jovens portugueses têm com a União Europeia. Vale a pena porque, com toda a franqueza, esta relação tem de ser melhorada. Os portugueses mais jovens – aqueles que já nasceram e sempre viveram integrados no projeto europeu – quase não se distinguem, neste capítulo, das gerações mais velhas: conhecem pouco a influência que os projetos europeus têm sobre a sua vida, assim como as instituições da União como o Parlamento Europeu, a Comissão ou o Conselho da Europa.

A Cascais 2018 – Capital Europeia da Juventude confirmou isso mesmo ao fazer, de forma bastante informal, um inquérito de rua perguntando aos jovens qual é o seu conhecimento da União Europeia. A maior parte não sabe quantos países formam a União, nem consegue enumerar mais do que dez. Não se lembram do nome de nenhum presidente da Comissão Europeia (nem sequer Durão Barroso...), não conseguem dizer como é feita a escolha dos deputados europeus, não fazem ideia de quantos deputados portugueses vão ser eleitos.

A culpa disto não é certamente dos jovens, eles que são a “geração easyJet”, a geração que por 20 euros voa quando pode para as principais capitais europeias. A responsabilidade deste desconhecimento tem a ver com a baixa qualidade da nossa democracia no que respeita a uma “literacia cidadã”. Ora, é isto que importa mudar: é fundamental criar uma verdadeira cultura cidadã, missão que não compete apenas à escola, mas que também passa pela escola. 

O ensino básico e secundário (já para não falar no universitário...) tem de introduzir na sua organização curricular conteúdos que ajudem os jovens a perceber o quanto a Europa está presente em todas as horas da sua vida: na luz que acendem quando acordam, na água da torneira que abrem para lavar os dentes, na estrada por que vão a caminho das aulas, no edifício da escola – tudo isto (e muito mais) tem diretamente a ver com a Europa, foi financiado com fundos europeus, respeita regras e regulamentos europeus.

O tema da Capital Europeia Cascais 2018 é a “Glocal Youth”, juventude “glocal”, ou seja: os jovens devem viver localmente uma Europa global. O ponto é precisamente esse – mais do que aprender sobre a Europa (que é imprescindível), é preciso vivê-la! Isto pode justificar um maior investimento no Erasmus+, dobrando, como está previsto, o financiamento para o programa Erasmus. Ou – como o Fórum Europeu da Juventude mais arrojadamente reclama – multiplicar por dez esse financiamento. Como seria se todos os jovens pudessem ter uma experiência de mobilidade europeia?

Da Cascais 2018 queremos que parta a vontade de desenvolver este conceito: os jovens europeus precisam de saber mais sobre a Europa e, para isso, é fundamental que a vivam cada vez mais. Os jovens, entre os quais os portugueses, têm de conhecer direta e pessoalmente as realidades dos outros países da União, partilhar boas práticas, mudar as suas culturas e conhecimentos sobre a Europa e os seus cidadãos.

Só depois de colocar esse comboio em marcha – reclamando mais recursos para a juventude, seja pela capacitação, seja pela partilha, seja pela experiência – é que se deverá procurar evidências na avaliação da cultura das novas gerações sobre a Europa. Nessa altura, creio eu, justificar-se-á a criação de um Observatório Europeu da Juventude.

Neste 9 de maio, Dia da Europa, a Cascais 2018 vai dar mais um contributo “glocal” a esta causa. No futuro campus da Universidade Nova em Carcavelos, durante a manhã, o comissário Carlos Moedas e a eurodeputada Marisa Matias irão falar com jovens dos três Clubes Europeus existentes nas escolas do concelho. Sob a moderação do presidente da câmara, Carlos Carreiras, os jovens irão falar e ouvir sobre a União Europeia, o seu modo de funcionamento e a forma como esta influi nas nossas vidas.

Neste processo de cultivar o espírito europeu nos cidadãos, começando pelos jovens, todos os passos contam. Será na convivência, na partilha de experiências, no conhecimento mútuo, que se irão formar os europeus do futuro.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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