Carlos Tavares marca "transformação" do Montepio para Setembro

O antigo presidente do regulador de mercados acumula dois cargos, na comissão executiva e no conselho de administração. Em Setembro tem de escolher um. Nesse mês, prometeu aos trabalhadores o arranque do "Programa de Transformação".

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MANUEL DE ALMEIDA

Até Setembro, o actual chairman e CEO da Caixa Económica Montepio Geral, Carlos Tavares terá de comunicar ao Banco de Portugal em que lugar pretende manter-se na instituição financeira detida pelo grupo Montepio, ou seja, se quer ficar a presidir à comissão executiva (CEO) ou se, pelo contrário, prefere liderar o conselho de administração (chairman), onde não terá funções executivas. Sexta-feira passada, Carlos Tavares dirigiu-se aos trabalhadores para lhes dizer que em Setembro começará a aplicar o “Programa de Transformação” do banco Montepio, que será o resultado das conclusões de um trabalho que começou agora.  

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Até Setembro, o actual chairman e CEO da Caixa Económica Montepio Geral, Carlos Tavares terá de comunicar ao Banco de Portugal em que lugar pretende manter-se na instituição financeira detida pelo grupo Montepio, ou seja, se quer ficar a presidir à comissão executiva (CEO) ou se, pelo contrário, prefere liderar o conselho de administração (chairman), onde não terá funções executivas. Sexta-feira passada, Carlos Tavares dirigiu-se aos trabalhadores para lhes dizer que em Setembro começará a aplicar o “Programa de Transformação” do banco Montepio, que será o resultado das conclusões de um trabalho que começou agora.  

A exigência de separação de competências no topo da governação da CEMG, onde Carlos Tavares acumula desde 21 de Março as presidências da Comissão Executiva e do Conselho de Administração, respeita uma recomendação do Banco Central Europeu.

Na sequência, o Banco de Portugal, que validou, a título transitório, o actual esquema de gestão concentrado na mesma pessoa, deu seis meses, a partir da data em que Carlos Tavares assumiu as duplas funções, para a Associação Mutualista Montepio Geral, a dona da CEMG, responder. Até Setembro saber-se-á, portanto, se o ex-presidente da CMVM fica como CEO da CEMG ou se prefere ser chairman. E quem será o segundo homem forte do banco Montepio.

Mas há uma pista que já chegou aos trabalhadores do banco, na sexta-feira da semana passada, via correio electrónico. Por carta, enviada a meio da tarde para o email de trabalho de cada um, Carlos Tavares dirigiu-se aos colaboradores dando nota de que “o mês de Setembro marcará o final da fase que hoje se inicia [quatro de Maio]”, pois o “diagnóstico profundo” da CEMG estará então concluído e, em consonância, “definida uma visão” para o futuro. 

Do trabalho que agora começou, e que a gestão vai desenvolver, “em colaboração com uma equipa de colaboradores criteriosamente seleccionados e um grupo de consultores externos com ampla experiência”, sairá o "Plano de Transformação" da CEMG, cuja finalidade é produzir “resultados num espaço de três a quatro anos”. Em 2021, o mais tardar 2022, Carlos Tavares esperar ter concluído o processo de reorganização do banco.

O ex-presidente da CMVM classifica “o momento” actual de muito “importante para a instituição centenária”, com 174 anos (a mais antiga do país), mas esclarece que não irá “fazer tábua rasa do que foi feito no passado”, embora considere ser esta a altura “ideal para acelerar de forma substancial o processo de adaptação às novas realidades e desafios do sector”.

O "Plano de Transformação” deverá incluir algumas metas, como, por exemplo, “reforçar o apoio à economia social, trabalhando nos segmentos da população menos beneficiados pelos serviços bancários”, tornar a CEMG “um banco de referência para as PME e para os diferentes segmentos de clientes particulares” ou trabalhar para reforçar “os rácios de qualidade de crédito” e reduzir o risco nos sectores de actividade da construção e promoção imobiliária”.

Objectivos que implicam “uma profunda reorganização” do grupo CEMG, banco e participadas, e investimentos “em processos tecnológicos avançados”, o que se traduzirá, segundo Carlos Tavares, na “eliminação de redundâncias e 'silos' organizativos”. 

Pelo meio, o presidente da CEMG recorreu ao “fino humor de Oscar Wilde”, escritor, poeta e dramaturgo britânico, e de quem lembrou um comentário: “Sou um homem de gostos simples, contento-me com o melhor”. A seguir Tavares concluiu: “É esta busca obsessiva da excelência que precisamos de incorporar nas nossas práticas”.

Recorde-se que assim que a AMMG indicou Carlos Tavares para encabeçar a CEMG, a nova administração avançou com a revisão das contas, não auditadas, anunciada pela equipa antecessora chefiada por José Félix Morgado. Uma iniciativa que deverá fazer cair os lucros de 30,1 milhões de euros (como foi divulgado), para um valor em torno dos cinco milhões (até 6,5 milhões).

A nomeação de Carlos Tavares para liderar a CEMG, foi confirmada em assembleia geral e depois deste ter cessado o vínculo com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), onde era, desde 2016 (quando saiu da CMVM) assessor da administração. Tavares sucedeu a José Félix Morgado, cujo mandato (de 2015 a 2017) ficou marcado por divergências com Tomás Correia, à frente da Associação Mutualista Montepio Geral.

Além de Carlos Tavares a comissão executiva da CEMG integra Nuno Mota Pinto, o nome inicialmente indicado para presidir ao banco, mas que passou a administrador na sequência da divulgação de que tinha uma dívida em incumprimento ao Novo Banco, Carlos Leiria Pinto (que tal como Mota Pinto veio também do Banco Mundial), José Mateus, Pedro Alves (este ainda apreciação no BdP), Helena Costa Pina e Pedro Ventaneira (ex-BESI). Já como administradores não executivos a AMMG nomeou Amadeu Paiva, Rui Heitor, Luís Guimarães, Vítor Martins e Manuel Teixeira.