Acusado de violência física por quatro mulheres, procurador-geral de Nova Iorque demite-se

O democrata Eric Schneiderman tem sido uma voz activa na defesa dos direitos das mulheres e denúncias de abusos sexuais. Negou as acusações, mas aceitou afastar-se do cargo.

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Eric Schneiderman garante que tudo o que aconteceu durante as relações foi consentido Reuters/Brendan McDermid

O procurador-geral de Nova Iorque, Eric Schneiderman, demitiu-se na segunda-feira à noite depois de serem conhecidas acusações de abusos físicos de quatro mulheres com quem teve relações ou encontros amorosos. Schneiderman, que “contesta veementemente” as acusações, anunciou que vai aceder ao pedido do governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, e afastar-se do cargo.

“Nas últimas horas foram feitas sérias alegações contra mim. Alegações que contesto veementemente. Apesar destas alegações não estarem relacionadas com a minha conduta profissional ou actividades no cargo, [as acusações] impedem-me e chefiar o gabinete durante este período crítico”, afirmou Schneiderman em comunicado divulgado horas depois de a revista New Yorker ter publicado a história.

O democrata de 63 anos tem sido um defensor do direito das mulheres e uma voz activa no movimento #MeToo, uma vaga de denúncias de abusos sexuais que surgiu depois de conhecido o escândalo Harvey Weinstein, no final de 2017. A 16 de Abril, na atribuição dos prémios Pulitzer, Schneiderman elogiou o reconhecimento do New York Times e da New Yorker como veículos das histórias e denúncias que criaram o movimento bem como “as mulheres e homens corajosos que falaram sobre os abusos sexuais sofridos às mãos de homens poderosos”. 

Em Fevereiro, Schneiderman processou a empresa de Weinstein, responsabilizando a produtora por não ter conseguido proteger os seus funcionários. 

Das quatro mulheres que falaram com a New Yorker, duas preferiram manter o anonimato. Michelle Manning Barish e Tanya Selvaratnam escolheram expor-se para que “outras mulheres não sofram o mesmo”. Contam ter sido sufocadas e repetidamente agredidas por Schneiderman e de terem precisado de assistência médica. A maioria destas agressões, acrescentaram, acontecia quando Schneiderman bebia demasiado álcool. A terceira mulher conta ter sido esbofeteada na cara e a quarta relata episódios semelhantes, escreve a New Yorker. Todas elas tinham, à data das alegadas agressões, algum tipo de relação amorosa ou sexual com o procurador-geral de Nova Iorque.

As mulheres dizem não ter apresentado queixa na polícia na altura por terem sido ameaçadas de morte por Schneiderman. As mulheres argumentam ainda que a posição de Schneiderman na defesa dos direitos das mulheres tem sido usada como uma forma de desmotivar as suas vítimas a denunciarem os abusos.

A versão de Schneiderman

“Na privacidade das minhas relações intimas, pratiquei role-playing [fantasia sexual que consiste na representação de uma personagem] e outras actividades sexuais consentidas”, lê-se no comunicado. “Não abusei de ninguém. Nunca pratiquei sexo não consentido. É uma linha que nunca ultrapassaria”, garante Schneiderman.

As mulheres disseram que a violência não foi consensual.

Em defesa de Schneiderman surgiu a sua ex-mulher, Jennifer Cunningham. “Conheço o Eric há 35 anos, como marido, pai e amigo. Estas alegações são completamente inconsistentes com o homem que conheço e que sempre foi alguém de carácter, que rege a sua vida pelos valores em que acredita, e um pai carinhoso”, disse em declarações à Associated Press.

Um porta-voz disse à NBC News que foi aberta uma investigação às acusações feitas ao democrata.

Durante a madrugada, a conselheira de Donald Trump, Kellyanne Conway, recuperou uma publicação de Schneiderman onde o procurador-geral lembrava ao Presidente norte-americano que ninguém está acima da lei. “Apanhei-te”, escreveu Kellyanne Conway.

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