Pode a desactivação de uma proteína impedir a propagação do linfoma?

Dez projectos foram distinguidos com os prémios do programa Gilead Génese deste ano. Ao todo, foram atribuídos 300 mil euros – com valores diferentes para cada projecto.

Ilustração do vírus da sida
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Ilustração do vírus da sida Petrovas et al./<i>Science Translational Medicine</i>
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Robert Badura, coordenador do projecto do o Instituto de Medicina Molecular DR
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Nuno Rodrigues dos Santos, coordenador do projecto do Ipatimup DR
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Cristina Mora da AJPAS DR
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Fábio Simão da MAPS DR

Distinguir a inovação em saúde e a melhoria da qualidade de vida ligada ao VIH são os objectivos dos prémios do programa Gilead Génese, da empresa farmacêutica norte-americana Gilead Sciences. Este ano foram distinguidos dez projectos: seis de investigação científica e quatro de intervenção comunitária. A cerimónia de entrega de prémios desta quinta edição é esta terça-feira à tarde, na Estufa Fria, em Lisboa. 

Este programa foi criado em 2013 e já apoiou 63 projectos com mais de um milhão e trezentos mil euros (no total). Concorreram a esta edição 32 projectos portugueses de entidades científicas e da sociedade civil. Aos dez projectos seleccionados foram atribuídos, no total, 300 mil euros. Nem todos foram apoiados com o mesmo valor e o montante máximo que poderia ser concedido a um projecto é de 40 mil euros.

Investigar o VIH ao pormenor

Quatro dos projectos de investigação científica distinguidos propõem-se a estudar (melhor) o VIH. Um dos projectos vencedores do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho quer perceber a forma como a variabilidade genética do vírus VIH-1 afecta a resposta imunitária ou a velocidade de progressão da doença nas pessoas com sida. “Os avanços obtidos neste projecto poderão permitir uma adequação personalizada da terapêutica de acordo com o subtipo específico de VIH-1”, lê-se no comunicado do programa Gilead Génese.

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Eliane Pimenta da Silva, coordenadora da Universidade do Porto DR

O mesmo instituto, com outro projecto, estudará a actividade do sistema imunitário em amostras de sangue de doentes com VIH. Para isso, quantificará os compostos que circulam no soro e investigará os linfócitos T reguladores (Treg, na sigla em inglês), que regulam o “estado de alerta” do sistema imunitário. “O objectivo é relacionar alterações das células Treg com os níveis de compostos no soro e explorar cenários de melhoria do sistema imunitário dos doentes através da manipulação dessas células.”

Já o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (da Universidade Nova de Lisboa) pretende desenvolver um pequeno íman que capture, a partir da amostra de um doente, quer o VIH quer o bacilo da tuberculose. Tudo isto para que, depois, os procedimentos clássicos de diagnóstico sejam mais eficazes e eficientes. “Em vez de trabalharmos com centenas de amostras negativas, este nanoconcentrador magnético permite aumentar a sensibilidade dos procedimentos. É uma forma muito simples, usando a física dos materiais, para concentrar VIH e tuberculose simultaneamente a partir da amostra do mesmo doente, o que vai ter imensas vantagens sobretudo para sistemas de saúde de países onde não há um laboratório sofisticado que permita colher a amostra do doente e processá-la por centrifugação para a concentrar, tudo isto é caro e precisa de tecnologia desenvolvida.”

Por fim, na linha da investigação do VIH, o Instituto de Medicina Molecular (em Lisboa) quer compreender o impacto das terapias precoces, nomeadamente na seroconversão – o período de tempo em que os anticorpos se desenvolvem como resposta a um agente patogénico e se tornam detectáveis no soro.

Uma “nova” forma de infecção de hepatite

Não há muito tempo, identificou-se uma “nova” forma de infecção de hepatite: a infecção oculta da hepatite C, que se identifica pela verificação do vírus no fígado e em células mononucleares do sangue periférico, assim como a não existência de anticorpos contra o vírus no soro. A Universidade do Porto vai agora tentar identificar a existência em Portugal desta “nova” infecção em diferentes grupos de doentes que fizeram um transplante de rim e que têm anticorpos contra o vírus da hepatite C (um dos grupos fez tratamentos com antivirais e o outro eliminou o vírus de forma espontânea). “Este projecto contribuirá para uma estimativa da prevalência de infecção oculta pelo vírus de hepatite C nos grupos de doentes que foram estudados, assim como para prevenir e aumentar a qualidade e esperança de vida dos pacientes e do ‘novo rim’.”

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Miguel Viveiros, coordenador do projecto do Instituto de Higiene e Medicina Tropical DR

E um novo alvo contra linfomas

Também da Universidade do Porto foi distinguido o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (Ipatimup). Este projecto quer compreender melhor o papel da proteína a PSGL-1 (recentemente descoberta e importante para o controlo imunitário) como um alvo terapêutico em linfomas. “Um aspecto interessante desta proteína é que pode estar presente não só nas células imunitárias mas também nas células do linfoma”, indica-se no comunicado. O estudo será feito em células de linfoma humano e de ratinho e as experiências realizar-se-ão em modelos animais. Tudo para testar se, ao desactivar-se esta proteína, se consegue impedir a propagação do linfoma e aumentar a eficácia das células imunitárias.

Prevenir o VIH e informar sobre a hepatite

Um dos quatro os projectos de iniciativa da comunidade galardoados é da associação juvenil afro-portuguesa Bué Fixe, na Amadora, e que vai sensibilizar os jovens sobre a importância da prevenção do VIH. Mas também quer que os jovens criem conteúdos multimédia, por exemplo, e espalhem a palavra. “Espera-se também que alguns desses jovens adquiram não só conhecimentos sobre a prevenção do vírus VIH mas, também, sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação e, acima de tudo, se sintam motivados para se tornarem agentes activos da sociedade.”

Já o projecto vencedor da Liga Portuguesa Contra a Sida destina-se a uma população com idade igual ou superior a 50 anos. Através do Agrupamento de Centros de Saúde de Loures e Odivelas, a instituição vai trabalhar em conjunto com os cuidados de saúde primários para detectar (precocemente) e apoiar o tratamento da infecção de VIH, sida e outras infecções sexualmente transmissíveis. Entre vários objectivos, o projecto quer aumentar os serviços dos centros de saúde primários com um espaço especializado para as infecções sexualmente transmissíveis. 

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Maria Eugénia Saraiva da Liga Portuguesa Contra a Sida DR

No Algarve, a MAPS – Movimento de Apoio à Problemática da Sida, com sede em Faro, também vai promover o aconselhamento e a detecção precoce da infecção do VIH e dos vírus da hepatite B e C através da prevenção. Para isso, haverá uma unidade móvel que viajará pelo Algarve com uma equipa especializada em testes rápidos.

Por último, a AJPAS – Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde (Amadora) também irá ter com as pessoas. A ideia do seu projecto é sensibilizar os utilizadores de drogas intravenosas sobre a importância do seu estado serológico, dizer-lhes quais os tratamentos existentes e as possibilidades de cura do vírus da hepatite C. “No caso das pessoas com vírus da hepatite C e com o seu consentimento, os mediadores [comunitários] procederão à toma observada directa da terapêutica até ao fim do tratamento”, informa o comunicado. A associação espera intervir em seis locais de consumo identificados e conseguir que a maioria das pessoas abordadas faça o rastreio, assim como as pessoas infectadas cumpram o calendário das consultas e dos exames e façam os tratamentos até ao fim.

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