Possibilidade de cultivo de marijuana foi retirada para "não contaminar a discussão", diz BE

A MGM reuniu neste sábado dezenas de pessoas em Lisboa, juntando-se a diversas iniciativas do mesmo género um pouco por todo o mundo, em defesa da legalização do consumo de cannabis para todos os fins.

Foto
Este sábado foi dia de Marcha Global da Marijuana em várias cidades do mundo (na foto Santiago, no Chile) EPA/Alberto Valdes

O deputado do Bloco de Esquerda Moisés Ferreira vincou neste sábado que a retirada do cultivo pessoal de cannabis da proposta legislativa sobre o consumo para fins terapêuticos serve para "impedir que um aspecto paralelo possa contaminar a discussão".

Em declarações aos jornalistas no arranque da MGM - Marcha Global da Marijuana, em Lisboa, o deputado vincou que as objecções à permissão de autocultivo já não são um problema na actual discussão, porque "já foi substituída e retirada essa parte".

A proposta do Bloco, vincou, "previa o autocultivo por razões de acessibilidade a esta terapêutica", mas o partido não deixa "que um aspecto paralelo possa contaminar o servir de pretexto para se chumbar a proposta".

O Bloco de Esquerda, lembrou, "defende a legalização da cannabis para todos os fins", mas, depois de ouvidas opiniões e outros organismos, percebeu-se que "outros estariam disponíveis para discutir se houvesse uma separação das discussões".

O grupo de trabalho sobre esta matéria no Parlamento "está em fase final, há propostas de alteração aos diplomas iniciais, e é preciso discutir as propostas, ver o que é integrado e depois fazer o diploma chegar a plenário", concluiu.

Questionado sobre uma eventual apresentação de uma proposta que permita o autocultivo depois de aprovada a venda controlada, Moisés Ferreira respondeu: "Vamos ver."

Marcha global

A MGM reuniu neste sábado dezenas de pessoas em Lisboa, juntando-se a diversas iniciativas do mesmo género um pouco por todo o mundo, em defesa da legalização do consumo de cannabis para todos os fins.

"O objectivo da marcha é defender uma alteração da política e avançar com a legalização para todos os usos, desde o medicinal ao recreativo e industrial, porque fazemos um balanço muito negativo da política proibicionista a nível global, que tem permitido a continuidade do tráfico e falhou um dos grandes objectivos, que era acabar com a demanda da droga e erradicar o consumo", disse Joseph da Silva, um dos organizadores.

"Isso não aconteceu, o tráfico aumentou e as pessoas consomem à mesma, mas consomem produtos sem saber a sua origem e qualidade, o que gera um problema de saúde pública", acrescentou.

No Parlamento, a possibilidade de cultivo pessoal de cannabis para fins medicinais foi posta definitivamente de lado nos vários projectos de lei sobre a matéria.

Bloco de Esquerda (BE) e Pessoas-Animais-Natureza (PAN) tinham apresentado projectos de lei de legalização do consumo para fins medicinais nos quais se preconizava o autocultivo. Perante a polémica e a oposição de outros grupos parlamentares, os dois partidos retiraram a possibilidade de serem os doentes a cultivarem.

No texto de substituição afirma-se que a prescrição é feita através de receita médica especial, que o produto pode ser dispensado em farmácia e que compete à Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) "regular e supervisionar as actividades de cultivo, produção, extracção e fabrico, comércio por grosso, distribuição às farmácias, importação e exportação, trânsito, aquisição, venda e entrega de plantas e produtos à base da planta da canábis destinadas a uso humano com fins medicinais".

O PSD, contra a possibilidade de autocultivo, propõe que a lei contemple que quando o produto se destine a um menor ou pessoa interdita ou inabilitada apenas seja dispensado a quem exercer o poder paternal ou a tutela.

Nas propostas de alteração o PSD mantém a dispensa em farmácia, mas o PCP, que também fez propostas de alteração na quarta-feira, propõe que os medicamentos e preparações sejam dispensados apenas em farmácias hospitalares.

No texto do BE e do PAN diz-se que o Estado deve estimular e apoiar a investigação científica sobre a planta canábis, as suas propriedades e aplicações terapêuticas, e a divulgação de informação sobre a planta junto dos profissionais de saúde.

Propõe-se também que o Governo aprove no prazo de 60 dias após a publicação da lei a respectiva regulamentação e que a lei entra em vigor no primeiro dia do mês subsequente à data da sua publicação.

 

Sugerir correcção
Comentar