Os anos do polvo

Hoje é impossível discutir corrupção na política sem ler nas entrelinhas o nome de José Sócrates, seguido de outros como Manuel Pinho e Ricardo Salgado — mas também siglas como PT, EDP, BES, BPN.

A corrupção tem duas faces: a Justiça e a política. Há 18 meses o Presidente fez um apelo ao sistema judicial (que até agora não surtiu efeitos), agora faz um novo apelo ao sistema político. Faz bem. Esta é uma questão urgente e que não pode esperar pela década que vai demorar a resolução dos processos mais complexos. Este polvo que parece ter controlado o sistema político-económico precisa definitivamente de ser erradicado, de forma a que se afaste a ameaça populista ao próprio sistema.

É óbvio que os partidos devem tomar medidas sem olhar a casos concretos, mas hoje é impossível discutir corrupção na política sem ler nas entrelinhas o nome de José Sócrates, seguido de outros como Manuel Pinho e Ricardo Salgado — mas também siglas como PT, EDP, BES, BPN. E é natural que caiba ao PS a liderança deste processo — porque os anos Sócrates estão cada vez mais associados aos anos do apogeu do polvo, cujos tentáculos ainda estamos a descobrir.

Seria, aliás, importante que o PS fosse capaz de garantir que desta vez vai esforçar-se por fazer uma limpeza séria do regime, até porque o último líder socialista a afirmar um compromisso nesse sentido foi... José Sócrates. Em 2009, o então primeiro-ministro usou linguagem firme na moção ao XVI Congresso do PS para prometer “medidas de moralização em matéria fiscal e contributiva, de que destacamos: maior transparência dos diferentes tipos de remunerações obtidas pelos gestores das sociedades cotadas; tributação efectiva de benefícios remuneratórios que não assumem natureza salarial, mas representam de facto acréscimos de rendimentos ou redução de encargos pessoais; combate à utilização abusiva do tratamento fiscal de despesas empresariais, designadamente com viaturas de luxo e outras despesas sumptuárias”.

A moção apresentada no CCB foi aplaudida por 300 militantes e recebeu o apoio integral dos militantes no congresso de Espinho, com 1131 delegados a favor e apenas um voto contra. A lista incluiu nos dez primeiros lugares da lista António Vitorino, Augusto Santos Silva, Pedro Silva Pereira e Carlos César (Vieira da Silva era o 11.º). Foi este PS que chegou às legislativas de 2009 e conquistou 36,55% do eleitorado, num governo que se demitiu em 2011 e assinou o acordo com a troika pouco depois.

É esta parte da história que o PS precisa de rever no congresso de 2018. É bom que o faça, porque o país precisa dos partidos e de partidos limpos.

Sugerir correcção
Ler 12 comentários