A revolução estudantil (incompleta) de há 50 anos

As revoluções são demasiadamente incompletas, sem continuidade ou fecho. Tantas vezes são, até, retrocessos. E violentos. Outras (e não poucas), disfarçadas de libertadoras, mas objectivos totalitaristas. E nunca acabam…

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Foi no 3 de Maio de há 50 anos que começou, no Quartier Latin, de facto, a revolução estudantil conhecida como Maio de 68. Há já alguns meses que no campus de Nanterre se sucediam os conflitos entre estudantes e autoridades, os quais culminaram no seu encerramento a 2 de Maio.

No dia seguinte, os estudantes do campus da Sorbonne encontraram-se para protestar contra esse encerramento e a ameaça de expulsão de vários alunos, o que originaria protestos que tiveram o seu auge no dia 6, quando os estudantes tiveram ao seu lado professores, trabalhadores e outros simpatizantes da causa, totalizando mais de 20 mil manifestantes a caminho da Sorbonne, a caminho dos bastões da Gendarmerie.

Pergunto: ficarão claros, em algum momento, os objectivos revolucionários, para além da rejeição da opressão?

Provoco: as revoluções terão em si alguma proposta real de evolução (ainda que utópica)?

As revoluções independentistas criaram o espaço para a autodeterminação dos povos que as operaram como, por exemplo os Estados Unidos da América (1775-1783), a América Latina (1808-1833) na libertação da Espanha e de Portugal, a Grécia (1821-1832), a Irlanda (1798 e, mais tarde, em 1919-1921), a Tuqruia (1908), a China (1911-1949), o “Outubro Vermelho” na Rússia (1917), a Argélia (1954-1962), o Ruanda (1959-1961), Angola (1961-1974), o Irão (1978-1979), entre muitas mais que preencheram e preenchem a história.

As revoluções ideológicas, um pouco por todo o mundo, visaram o fim das ditaduras ou outros totalitarismos (monárquicos, feudais, tribais, etc.), mas, não poucas vezes, levaram o espectro político de um extremo para o oposto.

Nem sei se fale na revolução francesa (1789-1799), que levou a França da monarquia ao imperialismo. E muito menos da Primavera Árabe (2010-2012) que, na prática, se arrasta até aos dias de hoje.

As revoluções são demasiadamente incompletas, sem continuidade ou fecho. Tantas vezes são, até, retrocessos. E violentos. Outras (e não poucas), disfarçadas de libertadoras, mas objectivos totalitaristas. E nunca acabam…

As únicas que ganham com estas características são as revoluções culturais e as científicas. Nessas, o impulso dado, o desconforto gerado e os novos paradigmas propostos são, por si próprios, os meios e os fins, estando felizmente “condenadas” ao sucesso, em todo o seu decurso.

Nas revoluções político-sociais, no fim de contas, à sublevação parece faltar um método e um propósito, mais do que um motivo (o qual é óbvio) para que cheguem ao seu fim (final e finalidade, ambos!).

Até no Maio de 68, que todos concordaremos ter tido um impacto à escala global, terá ficado um fecho de ciclo por fazer, então.

Se, por um lado, De Gaulle aceitou fazer algumas reformas, concedeu vários perdões, chegou mesmo a dissolver o parlamento e a convocar eleições para o mês seguinte, o que é facto é que estas não o derrotaram, muito pelo contrário, deram-lhe uma das maiorias absolutas mais amplas da história da democracia francesa, legitimizando as suas acções e políticas.

Muito incompleta, não? Como se esperava.

Como não estou a apelar ao conformismo, o que faltará fazer?

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