A Cossoul vai para a Casa dos Mundos. Resta saber até quando

A solução encontrada pela câmara foi reinstalar temporariamente a histórica colectividade num espaço próximo do actual, mas que a direcção da Cossoul diz ser insuficiente para acolher todas as actividades que promovem. Câmara diz que está "a providenciar a utilização pontual" de outros espaços que possam receber as actividades de ensaio e espectáculos da associação.

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Daniel Rocha
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Na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul começa a ser tempo de encaixotar 133 anos de música e literatura, festas e bailes, e o legado que nomes do teatro como Raul Solnado ali deixaram. Abandonar as históricas instalações na Avenida D. Carlos I, até ao final do primeiro semestre do ano, era já uma certeza. O que quem dirige a Cossoul pedia era que câmara e junta de freguesia os ajudasse a encontrar uma nova casa para evitar o fim da centenária colectividade. 

Ainda que não haja uma solução definitiva para a Cossoul, a câmara de Lisboa arranjou-lhes um espaço, “a título transitório”, na Casa dos Mundos, umas ruas acima da actual sede, na Rua Nova da Piedade. Segundo o que a direcção da sociedade avançou esta quinta-feira ao PÚBLICO, a previsão é a de que a Cossoul ali permaneça durante cerca de um ano e meio. Depois, esperam conseguir mudar-se para o Centro Comunitário da Madragoa, que pertence à junta da Estrela. 

Falando com algumas reservas, já que não existirá, para já, qualquer “documento escrito”, nenhum protocolo assinado, a confirmar a mudança da Cossoul para a Casa dos Mundos, Cláudio Henriques, adjunto da direcção, diz que há apenas um “acordo verbal” com a autarquia. Questionada pelo PÚBLICO, a câmara municipal confirmou, ao final da tarde desta sexta-feira, que colectividade irá "ocupar provisoriamente" aquele espaço. E que está "a providenciar a utilização pontual de outros espaços, nomeadamente no Pólo Cultural Gaivotas, para as actividades de ensaio e apresentação de espectáculos da associação".

Os responsáveis da Cossoul já visitaram o espaço, que consideram ser pequeno, e dividido em pequenas salas, face ao que tiveram nas últimas décadas no número 61 da Avenida D. Carlos I. “Não há sequer uma sala de teatro”, diz Cláudio, que é também actor do colectivo Prisma, um grupo residente na Cossoul. 

“Basicamente, é um escritório para fazer alguma produção. Não dá para dar uma aula de interpretação e teatro, nem há espaço para a galeria”, sublinha. 

Para manter as suas actividades, a sociedade terá de conseguir parcerias com outras associações que possam acolher os cursos de formação de actores e outros eventos culturais que ali costumavam decorrer. O Reverso, um encontro que recebe autores, artistas e editores independentes, com convidados internacionais, ainda se vai realizar ali este mês. “Mas para o ano não sabemos se vamos conseguir fazê-lo”, nota o responsável. 

Chegar a bom porto

Há quase dez anos que pairava sobre a Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul a ideia de que, mais cedo ou mais tarde, esta centenária colectividade teria de abandonar as suas instalações históricas. O edifício, na zona de Santos, foi vendido e o senhorio deu à sociedade até ao fim de 2017 para procurar nova casa.

Depois disso, os dirigentes da Cossoul começaram a bater a várias portas. A câmara de Lisboa interveio e conseguiu chegar a acordo com o dono do prédio, para que a colectividade ali permanecesse até ao fim de Junho.

A junta da Estrela propôs que se mudassem para o centro comunitário e a autarquia também já havia dito, no final de Janeiro, e em resposta a uma petição entregue na assembleia muncipal em defesa da colectividade, que encontrara uma solução temporária para a sociedade.

Certo é que, a dois meses de terem de encaixotar a Cossoul, ainda não há certezas absolutas quanto ao futuro da sociedade, que cumpre, em 2018, 133 anos, depois de ter nascido pela mão de alunos de Guilherme Cossoul, maestro e violoncelista português, que foi também fundador da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa. 

Depois deste período “transitório”, o plano é ocupar uma parte do Centro Comunitário da Madragoa, que será transformado num pólo cultural. “A freguesia já tinha apresentado essa alternativa à Cossoul, mas carecia de confirmação por parte da câmara municipal, uma vez que não cabe à junta resolver o problema [da sociedade]”, afirma ao PÚBLICO o presidente da junta da Estrela, Luís Newton. 

“Hoje [quinta-feira] tivemos uma reunião com a Guilherme Cossoul e ficamos a saber que ainda não há uma solução para a colectividade e não há nenhum compromisso por parte da câmara municipal”, nota o autarca. 

No entanto, essa parece ser a alternativa mais viável para a colectividade. Tendo em conta que fazia já parte dos planos da junta a requalificação do centro comunitário, a ideia é que esse espaço se torne num “pólo cultural”, onde a Cossoul se possa instalar e ficar responsável pela sua gestão e acolher outros projectos culturais. 

“Como instituição cultural, [a colectividade] promove um conjunto de iniciativas e espectáculos que não são compatíveis com salas de 11 metros quadrados”, repara Luís Newton, admitindo que a colectividade se vê, neste momento, com um “espaço transitório, que não tem condições nenhumas, e que vai obrigar a outras soluções complementares”. 

“Para evitar a morte anunciada da Guilherme Cossoul vai ser necessário encontrar um conjunto de soluções, mesmo para o período de transição. E transição pressupõe que haja já uma solução definitiva acordada e neste momento não existe”, nota Luís Newton. A última palavra caberá à autarquia.

“Gostaríamos que não se prolongasse além desse ano e meio”, pede o dirigente. Nos últimos meses, tiveram já “de abdicar do espaço de livraria”, que tinha uma montra para a entrada, mas que acabou por ser desmontada e transferida para o interior. O prédio já está praticamente desocupado. Sobra a colectividade e uma família. 

Neste novo espaço, vão tentar montar uma livraria. “É o mínimo para este período transitório”, admite Cláudio Henriques. Contam agora com a câmara de Lisboa e com a junta da Estrela para “chegarem a bom porto” e para que não seja o ponto final numa história com 133 anos. 

Notícia actualizada às 20h28, de 4 de Maio, com a resposta da Câmara Municipal de Lisboa

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