Roman Polanski e Bill Cosby expulsos da Academia de Hollywood

Os dois nomes estão associados a crimes de abuso sexual. A instituição considera que violaram os “valores de respeito pela dignidade humana”.

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Roman Polanski LUSA/ENNIO LEANZA
Bill Cosby
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Christian Hartmann

Bill Cosby e Roman Polanski já não são membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que decide e premeia os melhores filmes do ano na cerimónia dos Óscares. A notícia da expulsão foi avançada esta quinta-feira. De acordo com um comunicado, citado pela ABC, os dois nomes foram riscados da lista por não agirem de acordo com as normas de conduta da organização.

A academia condena, desta forma, a violação dos “valores de respeito pela dignidade humana” por parte de Cosby e Polanski. Ambos estão associados a crimes de abuso sexual: o comediante Bill Cosby foi considerado culpado na semana passada e poderá enfrentar até 30 anos de prisão por ter drogado e abusado sexualmente de uma funcionária da Universidade de Temple, em 2004; Roman Polanski foi acusado de ter violado uma jovem de 13 anos, nos anos 70. A acusação assombra-o: o caso está em julgamento há 40 anos e o cineasta de origem polaca está impedido de entrar em território norte-americano, sob pena de ser preso se o fizer. 

Caso Polanski

Em 1977, Polanski teve relações sexuais com Samantha Geimer, depois de lhe ter dado champanhe e sedativos. A esse episódio seguiu-se quase um ano de violações contínuas, de acordo com a versão da jovem, que levou o caso a tribunal.

O processo durou meses e terminou com uma pena de 42 dias de prisão para Polanski, pelo crime de relações sexuais com uma menor. Depois de a cumprir, fugiu do país, em 1978, por medo de ser condenado a uma sentença de prisão longa. Não voltou ao território norte-americano desde então – se o fizer, poderá ser preso pelos dois crimes: o de violação e fuga à justiça.

Polanski chegou a ser detido, em 2009, na Suíça, por ter um mandado de captura pendente em seu nome. Esteve em prisão domiciliária enquanto esperava pela decisão da sua extradição para os EUA – que acabou por ser rejeitada, devido a “provas inconclusivas” sobre o caso de violação.

A vítima, agora com 50 anos, diz que perdoou ao cineasta e que quer pôr termo ao caso. Mas, para isso, será necessário que Polanski volte aos EUA, o que não tenciona fazer.

Apesar desta recusa e de toda a polémica que envolve a personagem de Roman Polanski, a academia atribuiu-lhe o Óscar de melhor realizador, pela longa-metragem O Pianista, de 2002.

Caso Cosby

O caso de Bill Cosby é mais recente e remonta a 2004, altura em que o comediante drogou e abusou sexualmente de Andrea Constand, antiga funcionária da Universidade de Temple. Cosby, actualmente com 80 anos, foi considerado culpado, mas para já aguarda em liberdade pela definição de uma sentença, que poderá oscilar entre os 15 e os 30 anos de prisão.

A acusação de que foi considerado culpado inclui três crimes de assédio agravado: “penetração nos genitais da vítima com uma parte do seu corpo sem consentimento”, “penetração da vítima sem consentimento enquanto ela estava inconsciente” e administração de “drogas, intoxicantes e outros meios com o propósito de impedir resistência”.

“Estou muito grata que o júri tenha conseguido ver para além das mentiras dos seus advogados. Espero que a longa lista de vítimas consiga encontrar algum tipo de paz”, citou a advogada de Andrea Constand, à saída do tribunal. “O movimento #MeToo chegou, está bem e vive neste condado e neste país”, acrescentou.

E foi no espírito #MeToo que a academia norte-americana resolveu reprovar inequivocamente o comportamento de ambos os actores. Esta é a primeira decisão sobre violações ao código de conduta que a academia toma, desde que o documento foi revisto em Dezembro de 2017, depois de ter rebentado o escândalo de abusos sexuais que envolveram o produtor Harvey Weinstein, em Outubro de 2017.

O código de conduta revisto estipula que a academia não aceita membros que “abusem do seu estatuto, poder ou influência de uma forma que viole os padrões de decência”. Essa alteração deu poder à academia para suspender ou expulsar os que violarem o código e “comprometerem a integridade” da organização. 

Com o advento do movimento #MeToo, a academia foi alvo de escrutínio porque alguns dos seus membros mais activos, como Bill Cosby, Roman Polanski ou Mel Gibson estão envolvidos em escândalos de abuso sexual. Woody Allen, inicialmente apontado como um dos membros da academia que arriscavam expulsão, não está, afinal, na secreta lista de associados.

Harvey Weinstein acabaria por ser expulso da academia. Até ao produtor, ainda só tinha havido uma expulsão da extensa lista de membros, com mais de 8400 nomes, entre cineastas, actores e outras figuras de Hollywood. Trata-se de Carmine Caridi, um actor que foi expulso em 2004 por ter emprestado DVD de filmes nomeados para os Óscares que acabaram online.

Contactados pela AP, os representantes de Bill Cosby e Roman Polanski ainda não reagiram à notícia.

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