Cambridge Analytica anuncia encerramento

O grupo que detém a empresa, acusada de usar indevidamente os dados de milhares de utilizadores do Facebook, declarou insolvência.

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Alexander Nix, o fundador da Cambridge Analytica pedro nunes/reuters

A Cambridge Analytica, empresa acusada de ter usado de forma imprópria os dados de milhares de utilizadores do Facebook, anunciou o seu encerramento esta quarta-feira. Como razão, a empresa aponta o "cerco" dos meios de comunicação, que ao veicularem notícias negativas sobre a empresa afastaram "clientes e fornecedores".

A notícia foi avançada em primeira mão pelo Wall Street Journal, que tinha ouvido Nigel Oakes, dono do grupo SCL e detentor da Cambridge Analytica. A confirmação da notícia chegaria mais tarde, com o comunicado oficial da empresa, que fez saber que foram iniciados os procedimentos de insolvência no Reino Unido e nos EUA.

“Hoje, a SCL Elections Ltd, e todos os afiliados britânicos Cambridge Analytica LLC preencheram os requerimentos para iniciar os procedimentos de insolvência no Reino Unido. A empresa irá cessar imediatamente todas as operações”, lê-se no comunicado, publicado no site da empresa. A empresa acrescentou ainda que "os procedimentos de bancarrota de alguns dos afiliados norte-americanos” também foram postos em marcha.

“Apesar da confiança inabalável da Cambridge Analytica nos seus trabalhadores” que acredita terem agido de forma “ética e de acordo com as leis”, o “cerco da cobertura mediática levou consigo quase todos os clientes e fornecedores da empresa”, lê-se. Por essa razão já não é viável que a empresa continue a operar.

A empresa aponta o dedo aos media por diversas vezes ao longo do comunicado e tenta defender-se dizendo que as actividades de que é acusada são amplamente usadas na publicidade comercial e política. “Ao longo dos últimos meses, a Cambridge Analytica foi alvo de inúmeras acusações infundadas e, apesar dos seus esforços de corrigir o que tem sido dito, foi denegrida por actividades que não só são legais, como são aceites enquanto uma parte da publicidade online, tanto nas arenas políticas quanto comerciais.”

“Esta decisão foi extremamente difícil para os líderes da Cambridge Analytica” mas, reconhecem, a situação é “cada vez mais difícil" para os seus trabalhadores, "que descobriram hoje que iam perder os seus trabalhos” devido a uma cobertura mediática “negativa” e “injusta”.

Em Março, tornou-se público que os dados de 87 milhões de utilizadores do Facebook foram usados pela Cambridge Analytica para efeitos de consultoria política. Nesse mesmo mês, Alexander Nix, presidente da Cambridge Analytica à data dos acontecimentos, foi suspenso.

A Cambridge Analytica foi acusada de ter recuperado esses dados, sem o seu consentimento dos utilizadores da rede social, para elaborar um programa informático destinado a influenciar o voto dos eleitores, favorecendo a campanha de Donald Trump. 

O caso levou Mark Zuckerberg, fundador e actual dono do Facebook, a depor perante o Senado norte-americano, em Abril. Durante a audição, Zuckerberg considerou-se culpado e afirmou que ambiciona “proteger as eleições de todo o mundo”.

Apesar do encerramento, a Cambridge Analytica não se livra da investigação sobre o uso abusivo dos dados retirados do Facebook. A empresa de Mark Zuckerberg anunciou que a auditoria à Cambridge Analytica, que foi suspensa enquanto os reguladores britânicos completavam a sua própria investigação, vai continuar. O facto de a Cambridge Analytica ter decidido abrir bancarrota não muda o "compromisso e determinação" da rede social em “perceber exactamente o que aconteceu”, disse um porta-voz do Facebook, citado pela BBC. "Continuamos a investigar em cooperação com as autoridades competentes."

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