Adesão à greve dos trabalhadores da saúde ronda 80% no turno da manhã

Segundo o sindicato, no Hospital São João as consultas externas funcionam a 50%. Centros de saúde de Lagos e Albufeira estão fechados. No Hospital Central do Funchal a "adesão foi total" nas consultas externas e cirurgia em ambulatório.

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Nelson Garrido

A adesão à greve dos trabalhadores do sector público da saúde no turno da manhã rondava, até às 9h30 desta quarta-feira, os 80%, segundo fonte sindical, adiantando que há perturbações nas consultas e serviços de apoio. Há serviços encerrados em Viana do Castelo, Coimbra, Algarve e Alentejo. No Porto, estão apenas a funcionar quatro das 11 salas de consultas de cirurgia do Hospital São João, adiantou fonte sindical.

"Temos regiões como o Funchal , Viana do Castelo, Portimão, Faro, e no São José, em Lisboa, em que a adesão à greve ronda os 80%. Na Figueira da Foz, o hospital teve até de recrutar estagiários para substituir trabalhadores em greve", disse durante a manhã à Lusa o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap), destacando que a "paralisação está a superar as expectativas".

De acordo com o dirigente sindical, no turno da noite (que começou à meia-noite) a adesão à greve rondou os 70% e no da manhã (que teve início às 8h) os 80%. A paralisação nacional prolonga-se até às 24h de quinta-feira.

José Abraão adiantou também que nos Hospitais da Universidade de Coimbra e no que diz respeito às urgências, os trabalhadores estão praticamente todos em greve.

A greve de dois dias, que arrancou nesta quarta-feira, foi convocada pelo Sintap e abrange todos os trabalhadores da saúde, excepto médicos e enfermeiros, dos serviços tutelados pelo Ministério da Saúde, como hospitais ou centros de saúde. O protesto exige a aplicação do regime de 35 horas de trabalho semanais para todos os trabalhadores, progressões na carreira e o pagamento de horas extraordinárias vencidas e não liquidadas.

Adesão "aquém da expectativa" no Porto

Na primeira manhã de paralisação, apenas quatro das 11 salas de consultas de cirurgia do Hospital São João estão a funcionar e metade das consultas externas também foram afectadas. Números que ficaram "um pouco aquém" do previsto pelo Sintap, mas que levaram o dirigente Carlos Lopes a afirmar que, ainda assim, a adesão é grande.

"Neste momento, temos apenas a funcionar quatro das 11 salas de cirurgia, pois apenas apareceram quatro das auxiliares", disse. Segundo o responsável do Sintap, "ao nível das consultas externas, verifica-se também um grande atraso". A adesão, afirmou, andará à volta dos 50%, "um número que fica um pouco aquém da expectativa".

Para o sindicalista, os números da adesão devem-se ao facto de "a grande maioria das pessoas ter medo de perder o seu posto de trabalho", situação que Carlos Lopes considerou "compreensível".

A greve dos trabalhadores do sector público da saúde não pareceu repercutir-se entre as pessoas que acorreram às consultas externas daquele hospital, como deu disso conta Manuela Silva, da Maia. "Vim para uma consulta de controlo de sangue e correu tudo dentro da normalidade", disse à agência Lusa.

Também Adão Brito, de Lousada, que se deslocou ao Porto para "uma consulta de cirurgia", garantiu ter sido "atendido dentro do tempo previsto". "Estou neste hospital pela segunda vez numa semana e não noto diferença nenhuma", reforçou.

Serviços encerrados em Coimbra

Já em Viana do Castelo, onde a adesão à greve atinge os 80%, segundo o sindicato, os utentes do centro de saúde Gil Eanes manifestaram-se surpreendidos e indignados com o encerramento da unidade. À porta da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), onde mais de meia centena de trabalhadores participavam numa concentração, os utentes abordados pela Lusa disseram não ter notado os efeitos da paralisação.

Na região Centro, o sindicato diz que a adesão tem sido significativa e, em Coimbra, há vários serviços encerrados. No Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), registaram-se, durante a noite, níveis de adesão de cerca de 70% nos internamentos e de 100% nas urgências e cuidados intensivos, números que se reflectem no turno da manhã, disse Ricardo Domingos, membro dos órgãos regionais do Sintap.

"Há serviços encerrados como o secretariado clínico. Nas enfermarias, há uma média de 70% de adesão e há blocos de cirurgia programada fechados e consultas em que o secretariado está fechado", sublinhou.

O coordenador regional do Sintap, Jacinto Santos, afirmou  que os níveis de adesão nos hospitais da Figueira da Foz, Coimbra, Aveiro, Estarreja e Santa Maria da Feira estão entre "os 80 a 90%".

Centros de saúde fechados no Algarve

No Algarve, os centros de saúde de Lagos e Albufeira estão encerrados. A adesão à greve situa-se entre os 60 e os 70%, causando atrasos nas consultas externas, afirmou João Barnabé, coordenador regional do Sintap, destacando que a unidade de Olhão também "está a funcionar a meio gás".

O dirigente sindical lembrou que "há serviços mínimos" a serem garantidos, mas "mesmo assim deve-se verificar atrasos nas marcações de consultas", porque "os serviços mínimos apenas abrangem tudo o que é urgência e oncologia previamente marcada".

Ana Paiva, dirigente sindical do Sintap no hospital do Barlavento, disse que "em Portimão a greve está a rondar os 70%, com vários serviços fechados", valor "ligeiramente superior ao verificado em Faro".

Já no Funchal, segundo o sindicato, a adesão rondou os 100% nas consultas externas e na cirurgia em ambulatório do Hospital Central, no turno da manhã. "O bloco operatório e os andares têm serviços mínimos assegurados, mas nas consultas externas e na cirurgia em ambulatório a adesão foi total", afirmou Carlos Moniz, delegado do Sintap.

A greve não está, contudo, a afectar o funcionamento de várias unidades de saúde e tão pouco está a gerar protestos por parte dos utentes, como por exemplo no Centro de Saúde de Santo António, um dos maiores do Funchal e da Madeira, onde constatamos que nenhum trabalhador aderiu à paralisação na parte da manha.

No Hospital dos Marmeleiros e no Hospital João de Almada, também na área do Funchal, o sindicato informou que a adesão foi de 25% e 45% respectivamente.

Consultas canceladas e "lentidão nos serviços" de atendimento devido à falta de funcionários são constrangimentos também sentidos nas principais unidades hospitalares do Alentejo. "Deveriam ter quatro e cinco funcionários, mas só estão com dois" em determinados serviços, afirmou Joaquim Grácio, coordenador da secção regional do Sintap, que coloca a adesão nos 70% nos hospitais de Beja, Évora e Portalegre. Esta será ligeiramente superior, na ordem "dos 75%", em Santiago do Cacém (Setúbal), precisou.

No dia 25 deste mês, trabalhadores do sector da saúde voltam a cumprir um dia de greve, uma paralisação marcada pelos sindicatos afectos à CGTP. Já na próxima semana, são os sindicatos médicos que têm uma greve de três dias agendada, para os dias 8, 9 e 10.

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