Primeiro prisioneiro transferido desde que Trump chegou à Casa Branca

Apesar de ter prometido encher Guantánamo de "tipos maus", o número de prisioneiros decresceu no mandato de Trump: são actualmente 40.

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Entrada do campo Delta de Guantánamo Reuters/Joe Skipper

Um prisioneiro de Guantánamo oriundo da Arábia Saudita e acusado de ter cometido crimes de guerra vai ser devolvido ao país de origem. É a primeira vez que um prisioneiro sai daquela prisão desde que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, em 2017.

Ahmed al-Darbi, de origem saudita, foi declarado culpado em 2014 por um crime que cometeu em 2002. Nesse ano, Darbi colocou uma bomba num cargueiro petrolífero com bandeira francesa, que navegava nas águas do Iémen e fez um morto e doze feridos. Foi levado em 2002 para a base militar norte-americana em Cuba, mas só soube o seu destino em 2014, quando foi condenado a uma pena de 13 anos de prisão. Ainda tem nove anos por cumprir pela frente – e deve ser encarcerado assim que chegar à Arábia Saudita.

“As minhas palavras não farão justiça ao que vivi nestes anos e aos homens que deixei para trás na prisão”, escreveu Darbi num comunicado tornado público pelo seu advogado, Ramzi Kassem, citado pelo New York Times. “Ninguém devia ser mantido em Guantánamo sem um julgamento. Não há justiça nisso.”

Durante o tempo em que esteve sob custódia norte-americana, Darbi cooperou com os investigadores e viveu longe da maioria dos outros detidos, de acordo com o relato do jornal norte-americano.

Darbi fez parte do grupo de 780 homens que foram detidos na base naval norte-americana nos anos iniciais da luta contra o terrorismo. O antigo Presidente George W. Bush defendia que podia mantê-los nessa prisão indefinidamente, sem julgamento ou revisão judicial e sem obedecer ao que dita a Convenção de Genebra – que um prisioneiro de guerra deve ser tratado com humanidade e que as punições colectivas estão proibidas. Por todas estas razões, a prisão de Guantánamo ficou conhecida como um símbolo dos abusos aos prisioneiros e do poder norte-americano.

Bush acabou por voltar atrás na sua palavra e consentiu que se fizessem intervenções judiciais, dando alguns direitos aos prisioneiros. Tentou, inclusive, fechar a prisão no seu segundo mandato por se ter tornado, nas suas palavras, numa ferramenta de “propaganda para todos os nossos inimigos e uma distração para os nossos aliados”.

Quando Barack Obama chegou à Casa Branca, herdou de Bush 242 detidos – número que desceu sucessivamente até chegar aos 41 presos, em 2016. Agora, com a transferência de Darbi, sobram 40. A transferência para Guantánamo começou a ser olhada como último recurso pelos norte-americanos e, por isso, a prisão não recebe reclusos desde 2008, ano em que o Supremo Tribunal decretou que os prisioneiros tinham o direito constitucional de pedir habeas corpus para desafiar a base das suas detenções.

Trump começou por dizer, ainda durante a campanha, que queria encher Guantánamo de “tipos maus” – mas ao contrário daquilo que a retórica fazia prever, o número de detidos decresceu desde que entrou para a Casa Branca: de 41 passou para 40 com a saída de Darbi.

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