Portugal comprou 272 milhões de moedas de 1 e 2 cêntimos à Irlanda

“A maior operação logística” desde o fim do escudo envolveu exportação de moedas de 2 euros.

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Negócio com Irlanda permite “adiar, por alguns anos, a produção nacional” das moedas de pequeno valor Mário Lopes Pereira
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Não se fabricam moedas de 2 euros em Portugal desde 2006 Mário Lopes Pereira
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Banco de Portugal, que tem uma fábrica no Carregado, entrou no capital de uma produtora de papel para notas Rui Gaudêncio

Portugal celebrou um novo tipo de acordo comercial com Irlanda: no ano passado, importámos moedas de 1 e de 2 cêntimos, e exportámos moedas de 2 euros. A estratégia, acertada entre o Banco de Portugal e o seu congénere neste país da zona euro, envolveu a aquisição de 272 milhões das moedas de menor valor (148,8 milhões de dois cêntimos e 123,2 milhões de um cêntimo) e a venda de 2,1 milhões de moedas de dois euros. Os montantes envolvidos, com o custo a corresponder ao valor facial, chegam aos 4,2 milhões para cada um dos lados.

As transacções foram acordadas, segundo explicou o Banco de Portugal ao PÚBLICO, no final de Junho do ano passado.

No seu relatório da emissão monetária 2017, divulgado na segunda-feira, o banco central diz que esta troca foi “a maior operação logística na área do numerário ocorrida desde a introdução do euro e retirada do escudo”. Por isso, se reparar na nacionalidade das moedas mais pequenas que lhe entregam, a probabilidade de ser irlandesa é agora bastante elevada.

Milhões de moedas retidas

Todos os anos, são levantados várias dezenas de milhões de moedas, mas apenas uma pequena parte volta ao banco central por via dos depósitos. A maior diferença ocorre precisamente no caso das moedas menos valiosas. Se por um lado são fundamentais para a prática de estratégias de venda, com os clássicos 9,99 euros, por outro acabam por ficar retidas na casa dos particulares ou nas caixas das empresas.

É o Banco de Portugal quem sublinha que estas moedas “muito requisitadas e produzidas anualmente em grandes quantidades, não regressam ao banco central nem são reportadas como excedentes para troca”. “Crê-se”, acrescenta esta instituição, que uma parcela destas moedas “esteja retida devido ao seu baixo valor e aos custos associados à sua troca e processamento”, com os bancos a cobrarem comissões pelo depósito em moedas.

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A este facto acresce o de haver moedas de 2 euros em excesso no país, devido à elevada quantidade que entra nos bolsos dos turistas e de ser menos usada a nível interno do que a de 1 euro.

Assim, esta moeda “tem-se acumulado no Banco de Portugal” e já não é fabricada na Imprensa Nacional-Casa da Moeda desde 2006. No entanto, as moedas de 2 euros fazem falta à Irlanda que, por seu lado, juntou pilhas e pilhas de moedas de 1 e de 2 cêntimos a partir do momento que estas deixaram de ser usadas na sequência da adopção “voluntária e bem-sucedida, da regra de arredondamento” em 2015 (em 33,32 cêntimos passam a 33,30 cêntimos, por exemplo, e 33,38 cêntimos a 33,40 cêntimos).

“Uma vez que os custos de produção das moedas de 1 e 2 cêntimos ultrapassam o seu valor facial e, por outro lado, não havendo expectativa de colocação, no curto e no médio prazo, das moedas de 2 euros”, a operação “foi duplamente vantajosa para o Estado Português” diz fonte oficial do banco central. No caso das moedas de um cêntimo, o custo de fabrico é 65% superior ao valor facial.

Planos para o futuro

A estratégia, diz a instituição, já teve impactos em 2017 e permite “adiar, por alguns anos, a produção nacional” das moedas de pequeno valor. A encomenda à Irlanda corresponde ao triplo do valor que foi levantado no ano passado em Portugal em moedas de 1 e de 2 cêntimos. A experiência foi tão positiva, diz o banco central, que este espera “poder estabelecer acordos semelhantes com outros Estados-membros”. Assim, adianta-se, poderá ser possível “encontrar moedas de euro com faces estrangeiras menos habituais”.

Accionista de fábrica de papel

No ano passado, Banco de Portugal, através da sua subsidiária Valora (responsável pelo fabrico de dinheiro no Carregado, onde imprimiu 219 milhões de notas de euros em 2017) entrou também no capital da Europafi, uma empresa produtora de papel para notas detida maioritariamente pelo banco central francês (dono de 98,75%). O negócio foi fechado no final de Dezembro, ficando o Banco de Portugal com 0,25% do capital por 349.200 euros (os outros accionistas são banco central da Irlanda, o impressor do banco central da Áustria o banco central da Itália).

Conforme explicou fonte oficial do Banco de Portugal, esta instituição pode agora adquirir à Europafi “o papel fiduciário necessário à produção da quota de notas de euro que lhe é atribuída anualmente pelo Eurosistema, a um preço igual ou inferior ao praticado no mercado”.

A parceria, diz a mesma fonte, “prevê ainda a possibilidade de o Banco de França, nos períodos em que não tiver capacidade suficiente para satisfazer as suas encomendas”, recorrer à Valora que, assim, “terá um melhor aproveitamento da capacidade produtiva”.

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