E se um capacete mapeasse o seu cérebro, enquanto se mexe?

Uma equipa de cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos desenvolveu um novo scanner que faz exames ao cérebro, enquanto a pessoa abana a cabeça ou se espreguiça.

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Com este novo scanner, as pessoas poderão mexer-se enquanto o seu cérebro é mapeado Wellcome Trust
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Técnica actual de magnetoencefalografia Wellcome Trust

Por vezes, fazer um exame ao cérebro pode não ser tarefa fácil. Tem de se ficar muito quieto e isso para as crianças ou para pessoas com transtornos de movimento pode ser um problema. Por isso, uma equipa de cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos desenvolveu o protótipo de um scanner em forma de capacete que consegue fazer exames ao cérebro enquanto a pessoa se mexe. Os cientistas salientam ainda que poderá ajudar a diagnosticar e a controlar doentes como psicoses ou pode servir para que os investigadores consigam aceder a funções no cérebro de pessoas com doenças degenerativas e de desenvolvimento.

Actualmente, a actividade de mapeamento do cérebro pode ser feita através da ressonância magnética funcional ou de magnetoencefalografia (MEG). Esta última mede os campos magnéticos associados à actividade eléctrica cerebral. Mas os scanners usados nesta técnica são grandes e podem pesar cerca de meia tonelada. Tudo porque os sensores para medir o campo magnético do cérebro precisam de ficar muito frios e a tecnologia de refrigeração é muito pesada. Além disso, as pessoas têm de ficar assim o mais quietas possível para que as imagens não fiquem inutilizadas.

Agora, uma equipa de investigadores, financiados pelo Wellcome Trust (e esta é apenas uma parte de um projecto de cinco anos), decidiu resolver as limitações dos scanners de MEG criando então um novo scanner em forma de capacete. Este capacete tem um novo sistema de magnetoencefalografia com novos sensores quânticos.   

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O protótipo do scanner tem sensores mais leves Wellcome Trust

“Como os novos sensores são muito leves e se pode trabalhar à temperatura ambiente, podem ser colocados directamente na superfície do coro cabeludo. E posicionar os sensores muito perto do cérebro aumenta a quantidade de sinais que podem ser captados”, lê-se num comunicado do Wellcome Trust. Para que os sensores funcionassem, os cientistas desenvolveram uma bobina electromagnética para que o campo magnético da Terra à volta do scanner fosse reduzido.

Na descrição do novo scanner na revista Nature, os cientistas demonstram como as pessoas podem utilizar o capacete enquanto se mexem. “Demonstrámos a capacidade de medição da electrofisiologia humana com uma resolução ao milissegundo enquanto os indivíduos fazem movimentos naturais, incluindo acenar com a cabeça, espreguiçar-se, beber e jogar raquete”, referem os cientistas no artigo científico. Ao longo do estudo, foram obtidos resultados robustos quando se comparou este scanner com os que já existiam.

Quando chega ao mercado?

“O scanner baseia-se em capacetes que podem ser usados por qualquer pessoas que precise de ser examinada”, lê-se no comunicado, acrescentando-se que os cientistas já estão a trabalhar em novos tipos de capacetes que poderão ter o aspecto de um capacete de bicicleta e ser utilizados tanto por crianças como por adultos. Prevê-se que o novo scanner aumente a sensibilidade do exame quatro vezes nos adultos e 15 ou 20 vezes nas crianças.

“Tem o potencial de revolucionar o campo da imagem do cérebro e transformar as questões científicas e clínicas que podem ser abordadas com a imagem do cérebro humano”, considera Gareth Barnes, da University College de Londres, no Reino Unido, e um dos autores do trabalho. “Esta nova tecnologia cria novas oportunidades interessantes para uma nova geração de imagens funcionais do cérebro”, diz por sua vez Matthew Brookes, da Universidade de Nottingham, também no Reino Unido, e o coordenador da investigação. “Ser capaz de examinar indivíduos enquanto se mexem dá-nos novas possibilidades, por exemplo, para avaliar as funções do cérebro durante tarefas reais ou interacções sociais verdadeiras. Isto tem um impacto potencial na nossa compreensão não apenas da saúde de funções cerebrais mas também de um conjunto de diagnósticos neurológicos, neurodegenerativos e mentais.”  

E para quando estará disponível num hospital, por exemplo? “É difícil de dizer”, responde Sven Bestmann, também da University College de Londres e outro dos autores do trabalho. “Mas a tecnologia dos sensores que usamos está a ser impulsionada pela indústria dos relógios atómicos. Por isso, sensores cada vez melhores e mais pequenos estarão disponíveis em breve. E também já colaborámos com clínicos para testar os primeiros doentes. Ainda nos falta desenvolver muito, mas estamos optimistas de que este scanner não seja ficção científica.”

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