Facebook vai ter uma ferramenta de encontros “para gente séria”

A funcionalidade anunciada por Mark Zuckerbeg destina-se a criar relações “a longo prazo” e não “encontros casuais”. Vai competir directamente com o Tinder, apesar de ser apresentada com uma lógica diferente.

A interface da nova ferramenta de encontros
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A interface da nova ferramenta de encontros Reuters/STEPHEN LAM
Chat de vídeo e realidade aumentada para o Instagram
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Chat de vídeo e realidade aumentada para o Instagram Reuters/STEPHEN LAM
O novo Oculus
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O novo Oculus Reuters/STEPHEN LAM

Está para chegar um novo gigante à arena dos encontros online, para competir com plataformas como o Tinder e o Bumble: o Facebook. Sim, a rede social vai acrescentar uma funcionalidade à aplicação já existente para permitir conhecer pessoas novas e fomentar encontros online – desta feita para construir relações a “longo-prazo” e não “encontros casuais”, esclareceu Zuckerberg. A novidade foi anunciada esta terça-feira, na conferência anual F8 com os programadores da plataforma, em San Jose, na Califórnia. No lote de novidades encontra-se ainda uma ferramenta de “Histórico Limpo”, filtros de realidade virtual para o Instagram e videochamada em grupo para o Whatsapp. Até os óculos de realidade virtual da empresa ganham uma nova vida, para tentar competir com um rival de peso — a Playstation.

Para uma empresa que se gaba de ligar pessoas online, a função de encontros só chega depois de 14 anos de vida. “Há 200 milhões de pessoas no Facebook que se consideram solteiras”, começou por dizer Mark Zuckerberg, antes de anunciar as novidades.

“Isto vai ser para construir relações reais e a longo-termo – não é para encontros casuais”, disse Zuckerberg, em tom de brincadeira. A ferramenta vai estar dentro da aplicação do Facebook, mas será opcional. “Desenhamos isto com a segurança e a privacidade [dos utilizadores] em mente”, esclareceu Zuckerberg, fazendo uma referência indirecta ao caso Cambridge Analytica, que lançou questões sobre a forma como os dados são tratados na empresa. “Os vossos amigos não vão ver os vossos perfis e só vão ser sugeridos a pessoas que não são vossas amigas”.

A partir daqui Chris Cox tomou conta da apresentação para mostrar os detalhes. Munido com imagens da forma como os perfis vão ser mostrados aos potenciais interessados – com bastantes semelhanças de design a aplicações como o Tinder ou o Bumble, com as fotografias em grande destaque – Cox explicou que a abordagem do Facebook vai ser mais integrada. Em vez de “gosto” ou “passo” os utilizadores vão poder ver a que eventos tencionam ir os interessados e meter conversa com base nisso. O chat é independente do Messenger e do Whatsapp. E nada do que for feito na ferramenta de encontros vai aparecer no feed de notícias.

“Gostamos mais desta forma porque imita a forma como as pessoas se conhecem, que normalmente acontece em eventos”, explicou Cox. “Esperamos que isto ajude mais gente a conhecer-se e, se tudo correr bem, a encontrar companhia”. Só faltou anunciar uma data de lançamento. 

Esta ferramenta entra em competição directa com gigantes dos encontros, como OkCupid, Tinder ou Bumble. Logo após o anúncio, as acções do grupo Match (que detém o site OkCupid e a aplicação Tinder) caíram mais de 20%, de acordo com a Bloomberg. Já as acções da Sparks Networks, dona de empresas de encontros online de nicho, como o JDate (para encontros judaicos) ou o ChristianMingle (para encontros cristãos) caíram 7,3%.

Criou-se “um grande problema” para essas plataformas, conforme explicou James Cordwell, analista da Atlantic Equities, à Reuters. Ressalvando, no entanto, que “as funcionalidades iniciais [oferecidas pelo Facebook] são relativamente básicas quando comparadas pelas oferecidas pelos serviços do grupo Match”.

Contactados pelo Guardian, os representantes do Tinder, do OkCupid e do Match.com não quiseram comentar. Já o Bumble, através do seu porta-voz, disse que estava muito “entusiasmado com as notícias de hoje”. “A nossa equipa executiva já contactou o Facebook para encontrar formas de colaborar”, cita o jornal britânico.

"Histórico Limpo" e novidades para Instagram e Whatsapp

A funcionalidade de encontros surgiu depois de Zuckerberg ter reconhecido que foi um ano particularmente “intenso” para a empresa. Em Março, o escândalo Cambridge Analytica revelou que os dados de milhões de norte-americanos foram recolhidos pelo Facebook e usados de forma abusiva.

Admitindo a “grande falha de confiança” que nunca se deve repetir, Zuckerberg anunciou também a criação de uma ferramenta “Histórico Limpo”, que pretende dar aos utilizadores mais controlo sobre a informação usada pelo Facebook. Com esta nova ferramenta, os utilizadores vão saber quais são as empresas com acesso aos seus dados. Também vai permitir apagar informação e impedir que o Facebook a volte a adicionar ao perfil no futuro. A empresa sublinha, no entanto, que esta funcionalidade vai demorar vários meses a ser desenvolvida e que vai haver sempre alguma retenção de informação, “em casos raros”, por razões de segurança.

Há outras novidades para os utilizadores das empresas detidas pelo Facebook. O Instagram vai passar a ter chat de vídeo e filtros de realidade aumentada. Já o Whastapp terá chamadas de vídeo em grupo. Esta revelação surge no rescaldo da demissão do co-fundador do Whastapp, Jan Koum, na segunda-feira, por não concordar com o rumo que a empresa está a tomar. Zuckerberg dedicou-lhe umas palavras de homenagem: “Uma das coisas que mais me orgulho foi de termos construído uma das maiores redes completamente encriptadas do mundo”.

O Oculus, o sistema de realidade virtual da empresa, vai voltar em força com um novo dispositivo que não precisa de ser ligado a um computador ou smartphone. “É a maneira mais fácil de começar a usar a realidade virtual”, avalia Zuckerberg, apresentando as lentes “com a melhor qualidade óptica” que alguma vez foram feitas pela sua empresa. O dispositivo vai custar cerca de 199 dólares (nos EUA) e pretende-se que compita directamente com os óculos de realidade virtual da Playstation.

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