Mesas e sobremesas

É escusado perder tempo a tratar de coisas que não interessam, porque rouba tempo de convívio e de prazer.

Tendo já escolhido o dia para a última ceia, Jesus Cristo entra num restaurante e pede uma mesa para 26 pessoas. O empregado olha para o grupo e diz “Mas vocês são 13.” Responde Jesus: “Sim, mas vamos todos sentar-nos do mesmo lado.”

Li esta anedota no último Spectator, contada por Rory Sutherland. É pena que as anedotas sejam anónimas. Dão trabalho a inventar (e a escrever) e, no entanto, ao contrário de tweets e posts, não têm qualquer protecção legal. Torço pelo primeiro processo de violação de copyright baseado num simples “Alto aí que essa anedota é minha!”

Ou seria isso civilização a mais? No domingo recebi uma lição disso dum grupo de turistas dinamarqueses. Entraram no restaurante e pediram uma mesa para 18. O empregado começou a explicar que só tinham mesas para quatro e para seis. Ainda ele não tinha chegado ao fim da explicação já estavam todos sentados em quatro mesas: uma de seis e três de quatro. Não discutiram quem é que se sentava onde e com quem. Falavam alegremente uns com os outros como se já estivessem sentados há uma hora. Falavam de mesa para mesa mas sem fazer barulho. As crianças iam mudando de mesa. Uma alternava entre a mesa onde estava a mãe e aquela onde estava o pai.

Pareciam combinados. E estavam. Era um imperativo cultural: é escusado perder tempo a tratar de coisas que não interessam, porque rouba tempo de convívio e de prazer.

Noutra mesa uma família portuguesa levou meia hora, com birras e tudo, a decidir onde se sentavam. E almoçaram chateados.

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