Trump adia um mês guerra comercial com UE, Bruxelas diz não negociar “sob pressão”

EUA estendem até 1 de Junho as negociações sobre as importações de aço e alumínio com UE, Canadá e México. Comissão Europeia "toma nota" mas avisa que a decisão "prolonga a incerteza do mercado".

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Tal como o Presidente francês, também a chanceler alemã saiu de Washington sem garantias LUSA/MICHAEL REYNOLDS

O Governo dos Estados Unidos anunciou ter adiado por 30 dias a imposição das novas tarifas sobre as importações de aço e alumínio dos países da União Europeia (UE), México e Canadá. A isenção provisória vigora agora até ao próximo dia 1 de Junho e é o resultado visível das conversas de Donald Trump com Emmanuel Macron e Angela Merkel na semana passada.

"A administração [do Presidente norte-americano, Donald Trump ] estendeu as negociações com o Canadá, o México e a UE por mais 30 dias. Em todas as negociações, o Governo concentra-se em quotas que restrinjam as importações e protejam a segurança nacional", lê-se no comunicado, segundo a Lusa.

Na semana passada, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron deslocaram-se a Washington com o objectivo de tentar convencer Trump a tornar permanente a excepção da UE na aplicação das tarifas alfandegárias, de 25% para as importações de aço e de 10% para as de alumínio.

De acordo com o comunicado da administração norte-americana, a Argentina, o Brasil e a Austrália estão isentos por tempo indefinido. Já a Coreia do Sul está isenta permanentemente, após ter chegado a um acordo definitivo com Washington. O Governo dos Estados Unidos anunciou que o acordo com a Coreia do Sul "é final" e que os acordos com a Argentina, Brasil e Austrália são "princípios de concordância", cujos pormenores serão anunciados em breve. A China não foi incluída nas isenções e depois retaliou com seus próprios direitos sobre algumas importações dos EUA. Trump respondeu pedindo mais tarifas dos EUA contra a China, aumentando as tensões comerciais entre os dois gigantes.

A administração norte-americana anunciou, em Março, a aplicação de taxas alfandegárias de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio, mas dando um período de transição à UE, Canadá e México. Na altura, a UE disse que estava aberta a negociações, mas avisou: "Como parceiro de longa data e amigo dos EUA, não negociaremos sob ameaça".

UE quer isenção total e permanente

Agora, insiste neste avisto. Num comunicado divulgado em Bruxelas, a Comissão Europeia diz "tomar nota" da decisão dos Estados Unidos de prorrogar "por um curto período" a isenção da União Europeia das tarifas de importação de aço e alumínio, até 1 de junho de 2018. "A decisão dos EUA prolonga a incerteza do mercado, que já está a afectar as decisões de negócios. A UE deve ficar total e permanentemente isenta destas medidas, uma vez que não podem ser justificadas por razões de segurança nacional", lê-se no comunicado europeu.

"A sobrecapacidade nos sectores do aço e do alumínio não é originária da UE. Pelo contrário, a UE tem, ao longo dos últimos meses, envolvido em todos os níveis possíveis com os EUA e outros parceiros, para encontrar uma solução para esta questão", afirma a Comissão Europeia. A UE recorda que tem afirmado "consistentemente a sua vontade de discutir questões actuais de interesse de mercado para ambos os lados", mas também deixou claro que, "como um parceiro de longa data e amigo dos EUA, não negoceia sob ameaça". "Qualquer futuro programa de trabalho transatlântico deve ser equilibrado e mutuamente benéfico", declara.

A comissária européia para o Comércio, Cecilia Malmström, esteve em contacto com o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, e com o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, nas últimas semanas. "Essas discussões vão continuar", remata o comunicado.

A Alemanha, cujo superavit comercial atraiu críticas de Trump, também espera uma isenção permanente. "Estou firmemente convencido de que, no interesse dos empregos na Alemanha, na Europa e nos EUA, precisamos de uma provisão de longo prazo e que aumentar as tarifas é o caminho errado", disse o ministro da Economia alemão, Peter Altmaier, pedindo mais negociações com Washington. "Precisamos de menos, não mais, deveres no comércio global", disse.

Também a França disse que concorda com o argumento de que há excesso de capacidade nas indústrias de aço e alumínio, mas sublinhou que a UE não tem culpa e deve ser isenta permanentemente das tarifas para que a questão de excesso de capacidade possa ser negociada. "Estamos prontos para trabalhar com os EUA e outros parceiros para lidar com essas questões e desenvolver soluções rápidas e apropriadas", disseram os ministérios das Finanças e dos Negócios Estrangeiros da França, citados pela Reuters.

Já o ministro do Comércio da Grã-Bretanha, Liam Fox, disse estar satisfeito com o facto de Trump ter decidido estender a isenção temporária, mas afirma que tal não afecta as importações britânicas.

Por seu lado, o grupo dos socialistas e democratas no Parlamento Europeu advertem que um alívio da isenção prolongada da UE das tarifas de aço e alumínio dos EUA "não deve deter a atenção da persistente violação do direito internacional pela administração dos EUA". "Uma solução deve ser encontrada no âmbito da Organização Mundial do Comércio". lê-se num comunicado do Grupo S & D, que solicitou um debate em plenário para esta semana sobre a resposta da UE às tarifas dos EUA.

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