Luta contra "poder absoluto" vai ser central, diz Jerónimo de Sousa

O líder do PCP voltou a criticar as opções orçamentais de redução do défice tomadas pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças

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Jerónimo de Sousa criticou a redução do défice no Programa de Estabelidade LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou este domingo que a luta contra um “poder absoluto” vai ser uma questão central, defendendo que a influência dos comunistas, com o PS sem um Governo maioritário, foi decisiva para os avanços desta legislatura.

“Estes são avanços que só se tornaram possíveis com a luta e numa correlação de forças em que o PS não dispõe de um Governo maioritário. Avanços que vão para além do que o Governo do PS previa e admitia”, afirmou Jerónimo de Sousa no almoço comemorativo do 44.º aniversário do 25 de Abril, em São João da Talha, em Loures.

“Não nos iludamos, camaradas, porque lemos o programa do PS, porque lemos o programa do Governo. Não teria sido feito nem meio caminho se não fosse a persistência, a acção, a intervenção, o papel e a proposta do PCP neste quadro da correlação de forças”, sustentou, afirmando que disso resulta “uma conclusão óbvia” para o futuro próximo.

“A questão central que se vai colocar é se entregamos qualquer poder absoluto, ou se reforçamos o PCP, para ter mais voz, para ter mais possibilidade de dar força à luta e conseguir novos avanços, e a reposição de rendimentos e direitos, e dar mais força à ideia de uma política alternativa, patriótica e de esquerda de que Portugal precisa”, acrescentou.

Sobre o Programa de Estabilidade, o secretário-geral do PCP referiu que os valores previstos para o pagamento de juros da dívida nos próximos quatro anos ultrapassam os 30 mil milhões de euros: “Isto significaria, camaradas, três orçamentos anuais para todo o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Isto significaria, noutras áreas, resolver problemas estruturais com que o nosso país é confrontado”.

Em seguida, lamentou: “Mas não, decidiram que esta questão do défice é uma questão de ditadura, em que a União Europeia quis reduzir para 1,1%, depois o Governo, mais papista que o papa, resolveu 0,7%.” Para questionar: “Por que razão tem de ser 0,7%, ou até mesmo 1,1%, se precisamos como de pão para a boca de investimento público para resolver os nossos problemas, os problemas do país, na saúde, da educação, nas infraestruturas, no plano do desenvolvimento económico? Porquê?” E acrescentar : “Pois, esta é uma forma de dizer que continuam bem comportados perante a União Europeia.”

Quanto aos acordos que o primeiro-ministro, António Costa, assinou com o presidente do PSD, Rui Rio, sobre descentralização e fundos comunitários, o secretário-geral do PCP disse que têm "inegável significado político, significado expresso não só na relevância política das matérias tratadas, mas pela ostensiva visibilidade e pompa espalhafatosa com que o ato se realizou".

“Não vai na direcção certa, na direcção de Abril, o PS e o seu Governo quando procura a solução para os problemas dos trabalhadores, do povo e do país com o PSD e o CDS-PP, como não segue um bom caminho que vá ao encontro de Abril quando alarga essa convergência a novos domínios”, considerou.

Jerónimo de Sousa criticou em particular a proposta de descentralização, defendendo que “descentralizar é bem mais do que PSD e PS preparam” e “envolve a regionalização”, assim como “exige a reposição de freguesias” e “uma proposta de Finanças Locais que não seja uma mão cheia de poucas garantias”.

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