Caravana de imigrantes que "irritou" Trump chega à fronteira norte-americana

A chegada à fronteira de San Ysidro, em San Diego, EUA, uma das mais movimentadas do país, marca o fim de uma jornada que durou um mês.

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Um cartaz contra as deportações e vários migrantes, sentados na vedação entre os EUA e o México Reuters/EDGARD GARRIDO

Uma caravana com duas centenas de migrantes, provenientes de vários países da América Central, conseguiu chegar à fronteira dos EUA. Apesar dos tweets enfurecidos do Presidente norte-americano, que disse ter pedido à secretária de Segurança Interna que impedisse a entrada destes migrantes, os recém-chegados preparam-se para pedir asilo político nos EUA.

Várias centenas de migrantes, muitos deles a viajar com crianças, deixaram este domingo o abrigo em Tijuana, México, onde têm permanecido, para fazer a última parte do caminho até aos EUA. Foram as próprias autoridades mexicanas que iluminaram o caminho até à fronteira. Agora, espera-os a incerteza: de saber se vão conseguir asilo ou se vão ser separados das suas famílias.

Uma jornada que durou um mês

A chegada à fronteira de San Ysidro, em San Diego, EUA, uma das mais movimentadas do país, marca o fim de uma jornada que durou um mês. Percorrendo a maior parte do caminho a pé, mas também de comboio e de autocarro, a maioria dos migrantes encetou a viagem porque não conseguia mais viver nos países de origem e tem motivos para pedir protecção internacional.

Isabel Rodriguez, 52 anos, viaja com os seus dois netos, com sete e 11 anos, desde El Salvador. Disse à CNN estar grata por estar em Tijuana, mas preocupada com o que vem a seguir. “Ouvi dizer que vão separar as pessoas que não são pais das crianças”, disse, afirmando que está pronta para chegar à fronteira.

Quem pede asilo normalmente tem de ficar três dias na fronteira antes de ser entregue aos Serviços de Imigração e Fronteiras. Se passar a primeira triagem, pode ser detido ou libertado nos EUA com pulseira electrónica. A fronteira de San Ysidro impõe ainda mais um desafio: como só garante protecção para 300 pessoas temporariamente, muitos deles poderão ser obrigados a esperar ainda mais tempo pela decisão.

Uma caravana que é uma ameaça

Escreve a CNN que conseguir asilo nos EUA é difícil. Mais de três quartos de imigrantes que procuraram asilo vindos de El Salvador, Honduras e Guatemala, entre 2011 e 2016, não o conseguiram, de acordo com os dados fornecidos pela Universidade de Siracusa.

E Donald Trump promete dificultar ainda mais a situação. O Presidente e vários membros da sua Administração afirmam que esta caravana representa uma ameaça para os norte-americanos desde Março, data em que chegaram à cidade mexicana de Tapachula, perto da fronteira com a Guatemala. Por essa altura, o Presidente norte-americano escreveu uma data de tweets onde apontava o dedo às autoridades mexicanas por não conterem a caravana. Também no Twitter, informou ter pedido à secretária de Segurança Interna “que não deixasse entrar essas Caravanas de pessoas no nosso País”. “É uma desgraça. Somos o único país no mundo que é tão ingénuo. MURO”, escreveu Trump.

Kirstjen Nielsen, secretária de Segurança Interna, disse que os pedidos de asilo seriam resolvidos de forma “eficiente e expedita”. Mas deixou o aviso: qualquer pedido baseado em afirmações falsas vai ser investigado.

Pedir asilo “não é uma violação da nossa lei de imigração”

Jeff Sessions, procurador-geral dos EUA chamou a esta caravana “uma tentativa deliberada de minar as nossas leis e sobrecarregar o nosso sistema” e ameaça enviar mais juízes de imigração para o local se forem necessários para resolver os casos, cita a AP. A representante democrata do subcomité de imigração da Câmara dos Comuns, Zoe Lofgren, diz, por seu turno, que pedir asilo “não é uma violação da nossa lei de imigração”. “É parte da nossa lei de imigração”, cita a CNN.

Trump e os seus braços direitos culpam a “lei-apanha-e-liberta”, que deixa os imigrantes ilegais entrarem no país. Só que essa lei não existe. O Presidente refere-se, de forma enganadora, à prática das autoridades de deixarem em liberdade os imigrantes sem documentos considerados inofensivos, até que os tribunais decidam sobre os seus pedidos de entrada nos EUA – uma prática que o actual Departamento de Justiça tem tentado combater, mas que resulta da falta de instalações nos EUA para acolher todos os imigrantes e não de qualquer lei ou iniciativa do Partido Democrata.

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