Cinco Estrelas e Partido Democrático vão abrir negociações sobre governo

O diálogo entre o vencedor e o vencido das eleições italianas é um passo em frente. Mas os obstáculos são muitos. As alternativas são um governo de iniciativa presidencial ou eleições antecipadas já em Setembro

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Matteo Renzi tem-se oposto frontalmente a um acordo com o M5S Remo Casill/REUTERS
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Luigi di Maio, “chefe político” do M5S, saudou a abertura de diálogo Max Rossi/REUTERS

O diálogo entre o vencedor e o vencido das eleições é um passo em frente. Mas os obstáculos são muitos. As alternativas são um governo de iniciativa presidencial ou eleições antecipadas já em Setembro

O Presidente italiano, Sergio Mattarella, concedeu mais alguns dias ao Movimento 5 Estrelas (M5S) e ao Partido Democrático (PD) para abrirem um diálogo sobre a formação do futuro governo. “O mandato exploratório que o Presidente me confiou teve um desfecho positivo”, declarou à saída do Quirinal Roberto Fico, presidente da Câmara dos Deputados e dirigente do M5S. “O diálogo entre o M5S e o PD está encaminhado.”

Fico obteve um adiamento da decisão presidencial para aguardar o resultado da reunião da direcção do PD, a 3 de Maio, que se pronunciará sobre a possibilidade de acordo com o M5S. As expectativas não são elevadas, pelo contrário. Os obstáculos, de parte a parte, são muitos. O PD está dividido e no M5S há também vivas resistências ao PD.

Fico foi ao Presidente “pedir a única coisa que poderá tornar possível o que hoje parece impossível: tempo” — resumiu antes do encontro o diário La Stampa. “O tempo é uma categoria que tudo contém e tudo transforma, como uma espécia de divindade que move o destino dos protagonistas inconscientes da meta final.” Trata-se de tentar resolver uma situação completamente bloqueada. Luigi di Maio, “chefe político” do M5S, saudou a abertura de diálogo, sublinhou as divergências como o PD e disse querer um acordo “em alta” e não “em rebaixa”.

Mattarella começou por confiar um mandato exploratório à presidente do Senado, Maria Elisabetta Casellati, da Força Itália (FI, de Berlusconi), para verificar a possibilidade de uma coligação governamental entre os vencedores das eleições de 4 de Março: o centro-direita e o M5S. A tentativa fracassou porque o M5S apenas aceitava coligar-se com a Liga, de Matteo Salvini, exigindo a ruptura com Berlusconi, o que a Liga recusou. Fico foi depois encarregado de verificar a alternativa M5S-PD.

Segundo os analistas, a “missão” era afastar o risco de regresso a um acordo M5S-Liga, que o Presidente quer evitar. Diga-se que também Roberto Fico, que faz parte da corrente de esquerda do M5S, é contra um entendimento com a Liga e favorável à negociação com o PD.

Jogos perversos

O alargamento dos tempos também convém a Salvini. No domingo disputam-se as eleições regionais de Friuli-Veneza Júlia (Nordeste) em que se prevê um sucesso da Liga em detrimento da FI, o que a colocaria em decisiva vantagem perante o aliado Berlusconi. Salvini terá em mente “absorver” a FI em declínio mas ainda não lhe convém precipitar a ruptura com Berlusconi.

À esquerda e à direita, vencedores e vencidos prosseguem um jogo perverso. No PD, o ex-líder Matteo Renzi tem-se oposto frontalmente a um acordo com o M5S, que considera um suicídio político do PD.

Os “cinco estrelas” cresceram nestas eleições “roubando” maciçamente eleitores ao PD. Fazem-lhe agora concorrência nos temas sociais, que eram a bandeira da esquerda. O actual “regente” do PD, Maurizio Martina, apoiado por parte da direcção, quer um acordo com o M5S com um forte argumento: evitar eleições que seriam previsivelmente catastróficas para o partido. Mas a maioria dos parlamentares e da direcção apoiam o ex-secretário. A decisão está nas mãos de Renzi. Saberemos a 3 de Maio.

Também nas fileiras do M5S não há unanimidade. Luigi Di Maio seria aparentemente favorável a um acordo com Salvini. Esta seria tembém, segundo sondagens, a preferência da maioria dos eleitores, maioritariamente hostis ao PD. Mas há o obstáculo Berlusconi.

Se, como alguns analistas prevêem, as negociações PD-M5S falharem, resta a hipótese de um “governo de unidade”, de iniciativa presidencial, que o M5S e a Liga rejeitam. Ou — na Itália nunca se sabe — uma reaproximação entre Di Maio e Salvini, com Berlusconi de fora. A alternativa são eleições antecipadas, em Setembro ou Outubro.

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