Autor do ataque de Toronto poderá fazer parte de movimento anti-mulheres

Movimento Incel atribui a culpa por não encontrar nenhum par amoroso ou sexual ao sexo feminino e move-se nos círculos da extrema-direita, dizem especialistas.

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Memorial pelas vítimas do atropelamento de Toronto Reuters/CARLO ALLEGRI

Alek Minassian, o homem de 25 anos suspeito de ser responsável pelo atropelamento intencional de várias pessoas em Toronto, no Canadá, estará ligado a um movimento online de “celibato involuntário”, constituído por homens solteiros que se sentem rejeitados pelas mulheres.

Na segunda-feira morreram dez pessoas. O atropelamento causou ainda ferimentos a 15 outras. As vítimas são "predominantemente mulheres, disse o sargento da Polícia de Toronto Graham Gibson, citado pelo New York Times, sem no entanto avançar um motivo para o crime.

O que levou as autoridades a formular estas suspeitas sobre Minassian, um estudante de ciências informáticas de 25 anos, foi uma mensagem que surgiu na sua página do Facebook minutos antes de atirar uma carrinha alugada contra uma multidão de peões, na sua maioria mulheres, em Toronto. "A rebelião Incel já começou!", dizia, e invocava também o assassino em massa californiano Elliot Rodger.

Rodger matou seis pessoas e feriu 14 num ataque em 2014 e escreveu um manifesto em que atribui a culpa às mulheres em geral pela sua solidão e pelo facto de ainda ser virgem, explica a organização Southern Poverty Law Center, que acompanha a actividade de grupos fascistas, neonazis e afins nos Estados Unidos. "Sou o tipo perfeito e vocês atiram-se a estes homens horríveis em vez de mim, o supremo cavalheiro", escreveu este assassino que se suicidou depois de ter morto as suas vítimas. É visto como um santo padroeiro dos homens que se identificam com este movimento Incel.

O termo Incel terá sido criado há cerca de duas décadas, por uma mulher, para se referir a um grupo de pessoas “involuntariamente celibatárias”, que funcionava como uma comunidade de apoio online para pessoas solteiras. O termo criou a expressão “incel.

No entanto, agora a expressão ganha um novo significado, depois de ter sido adoptada pelo bizarro movimento misógino. Conta Mike Wendling, autor do livro Alt-Right: do 4Chan à Casa Branca e jornalista da BBC, que esta comunidade se assemelha aos grupos supremacistas brancos, na medida em que se movimenta nas mesmas plataformas e recorre ao mesmo tipo de terminologia.

"A Comunidade Incel é uma das áreas mais violentas da Internet", disse ao New York Times Heidi Beirich, que segue grupos de ódio para o Southern Poverty Law Center. "Para algumas pessoas podem parecer um grupo de homens brancos patéticos, vitimatizados e solitários. Mas não. É uma coisa muito dura", explicou.

Por exemplo, os incel têm nomes para as figuras nas quais destilam o seu ódio. As Stacys, por exemplo, são as mulheres bonitas. Os Chads são os homens atraentes. Depois existem os Normies¸ as pessoas que não são necessariamente atraentes, mas que conseguem encontrar um par amoroso. Os incels são o grupo que não consegue encontrar ninguém no campo amoroso e/ou sexual e por isso tornam-se violentos contra quem consegue.

Os incel atacam tudo e todos. Culpam os Chads por terem sexo com demasiadas mulheres. O que consideram um problema de poligamia, escreve o Guardian. Não obstante, para eles, o maior problema são as mulheres. E entre as ideias de ataques e “vinganças” discutem punições para estas mulheres, como violações em grupo, ou dicas de como perseguir mulheres, sem serem detectados. A culpa está no feminismo e no controlo contraceptivo, atiram os incel.

Apesar de não se saber a dimensão do movimento e quantos membros terá, o jornalista da BBC acredita que “não se trata de um pequeno grupo no Reddit”. “É grande. É substancial. É um movimento que atrai dezenas de milhares de pessoas que visitam estas plataformas e estes são locais seguros para eles”, acrescenta. No ano passado, o Reddit baniu o subreddit (um fórum online da plataforma) da comunidade incel, acusando-os de incitar a violência contra as mulheres. 

Obcecados com o seu aspecto físico, dividem-se entre “alphas” e “betas”. Adoptam as expressões usadas pelos movimentos de luta pela igualdade ou direitos civis, mas subvertem-no para afirmar que “os homens solteiros são tratados como lixo e isso tem de parar”.

Dizem ainda que “as pessoas no poder, as mulheres, podiam mudar isto, mas recusam-se a fazê-lo. Têm sangue nas mãos”, lia-se numa das publicações, quarta-feira, após o ataque de Toronto. Comparam a sua virgindade a uma discriminação semelhante ao apartheid.

A estratégia para conseguir uma mulher, é, defendem, fazê-las sentirem-se inseguras.  Os especialistas alertam que o papel deste movimento no ataque de Toronto não deverá ser diminuído.

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