“Portugal foi desafiado, teve mesmo de lutar”

Charlotte Evans, da Condé Nast Johansens, esteve em Lisboa para reunir com alguns dos hotéis de luxo e faz uma avaliação do turismo em Portugal.

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Charlotte Evans no Hotel Santiago de Alfama, onde decorreu o encontro Sebastião Almeida

Charlotte Evans, publishing director do guia de viagens com propriedades de luxo Condé Nast Johansens, esteve recentemente em Lisboa para uma reunião com alguns dos hotéis portugueses que fazem parte do respeitado guia publicado anualmente e disponível também em versão digital, na plataforma online.

Com 22 propriedades no guia de 2018, entre um total de 204 hotéis e spas de luxo, Portugal representa um dos mercados chave para a empresa. Distribuídos por Lisboa, Porto, Amarante, Douro, Algarve, Madeira e Açores, figuram nomes como o Heritage Avenida Liberdade Hotel, em Lisboa, a Casa da Calçada, em Amarante, Tivoli Palácio de Seteais, em Sintra e o Vintage House Hotel, no Douro.

“Se me permitem dizer, Portugal em termos de hospitalidade sempre foi o underdog”, comenta. “Sempre tiveram de trabalhar dez vezes mais do que alguns dos tradicionais mercados de hospitalidade, como França. Eles tinham a gastronomia, o vinho, a experiência e as histórias por detrás”, justifica em entrevista no Hotel Santiago de Alfama.

De acordo com a responsável da Condé Nast Johansens, havia também uma lacuna significativa nos hotéis de luxo em geral: a falta de profissionalismo em relação ao serviço. Algo que os espaços conseguiram resolver ao longo dos últimos anos. Ao mesmo tempo, essa luta para competir com outros mercados acabou por ter alguns efeitos positivos, argumenta. “Acho que, enquanto outros mercados tradicionais continuaram como sempre, Portugal foi desafiado, teve mesmo de lutar”

PÚBLICO: Em que aspectos é que a oferta de hotéis de luxo ainda precisa de evoluir?
Charlotte Evans: As pessoas queriam vir para Portugal porque os habitantes eram tão amigáveis e era uma experiência genuína, mas faltava aos hotéis de luxo algum profissionalismo, em particular com o seu serviço. Agora acredito que o consolidaram, mantendo um toque pessoal e alguma autenticidade. Com o profissionalismo extra que não tinham há alguns anos.

A oferta já é suficiente para atrair o público que procura hotéis de luxo?
Definitivamente. E todos os dias oiço falar de uma nova propriedade que está a abrir em Portugal.

Que oportunidades é que vê para indústria hoteleira de luxo?
Acho que atingiram um certo nível e agora precisam de o manter. Manter a autenticidade — que faz com que a hotelaria em Portugal seja um sucesso —, mas também continuar a investir no treino do seu pessoal. É algo que todos os hotéis de luxo — e todas as empresas em todos os sectores — deveriam estar a fazer: assegurar que há um retorno do investimento no treino do staff.

O que acha que levou a esta evolução na qualidade da oferta?
Terá a ver com a economia, o clima e a vontade de competir com outros países. Aquilo que é mais especial na hotelaria actualmente é o story telling, a autenticidade e a capacidade de oferecer uma experiência diferente.

Há limites em relação a quão sustentável um hotel possa ser, correspondendo ainda assim aos vossos critérios de hotel de luxo?
Não acho que deva haver um conflito. Tem sempre a ver com o ter capacidade de gerir a situação e a localização onde se está. Olhem para o resort do Marlon Brando, da Polinésia Francesa — é absolutamente maravilhoso. Eles estão a tentar tornar-se 80% autossuficientes e é uma propriedade de luxo total.

Já existe uma exigência por parte do público para ter hotéis com práticas sustentáveis?
Está a começar a haver. Sempre houve uma percepção de que se vou gastar bastante dinheiro, quero a sensação total de luxo. Mas se eu tiver produtos de luxo [no quarto], empacotadas de forma linda e, ao mesmo tempo, souber que essa embalagem é sustentável e feita de forma orgânica vai fazer toda a diferença. Com a nossa pesquisa recente, percebemos que se houver a escolha entre dois hotéis — online ou no papel — e um promover práticas sustentáveis, as pessoas autoconscientes vão escolhê-lo em detrimento do outro.

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