Cristina Bacelar: “Acabei por me reaproximar e encantar com o fado”

No rescaldo das 3 Marias, a cantora e compositora portuense lança a solo Nem Tudo é Fado, agora em apresentação nas Fnac.

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Cristina Bacelar fotografada para o disco Nem Tudo é Fado ALBERTO ALMEIDA

Um ano depois do terceiro disco das 3 Marias, que entretanto chegaram ao fim como grupo, Cristina Bacelar lança o seu primeiro disco a solo, Nem Tudo é Fado. Um título joga com a intenção de cruzar sonoridades e géneros musicais, já patente nas 3 Marias e também nos Frei Fado D’El Rei, grupos a que pertenceu. “Inicialmente tinha pensado fazer um disco só com versões de fados”, diz a cantora ao PÚBLICO. “Depois mostrei um original ao meu produtor, o José Lourenço, e acabámos por ter uma discussão muito engraçada em estúdio sobre o que é afinal este conceito de fado, se é alma, sentimento, destino. E acabei por achar que podia fazer sentido incluir alguns originais.”

O fado, aqui, acaba por ser o regresso a uma memória antiga. “Fui escolhendo fados com os quais me identificava. No último ano frequentei bastante casas de fado aqui no Porto, descobri coisas maravilhosas, acabei por me reaproximar e encantar com o fado.” E todos os  que escolheu para gravar estão ligados à sua própria vida e história. “O Novo fado da Severa foi o meu primeiro contacto com a música, havia uma empregada que me adormecia a cantar esse fado. A Lágrima foi o primeiro fado que eu ouvi ao vivo, na primeira vez que fui a uma casa de fados, e fiquei impressionadíssima.” Este ganhou uma versão swingada: “A procura dessa sonoridade do jazz, que o saxofone acaba por salientar, foi feita para sair ainda mais dos originais. Quando nós fazemos uma versão de uma música, é uma possibilidade de a mostrarmos de outra forma. Não me considero fadista, mas gosto de cantar fado e tenho legitimidade para o fazer.”

Como se fossem fado

No disco, além dos fados antigos já citados, ouve-se Perseguição, com “uma versão muito flamenca e muito crua”; o Fado Carriche, de Raul Ferrão, com uma letra nova, dela, e o título Não é amor… é só alma; e, a abrir, Meu corpo, letra de Ary dos Santos e música de Fernando Tordo. “Apaixonei-me pelo tema e o poema é absolutamente brilhante. Costumo dizer, a brincar, que tem palavras quase perfeitas. E não tem uma história, dá-nos a possibilidade de fazermos nós a própria história. Musicalmente, já o disse ao Tordo, é um fado mas podia ser outra música qualquer, é muito bem feito.”

O resto são originais: Laralai, Já não sei das palavras, Fado de papel, o instrumental Paris, às vezes (todos de Cristina Bacelar) e Não hesitava um segundo, este com letra e música de Tozé Brito. “Dou muitas vezes comigo a entoar os originais como se eles próprios fossem fado. Isso acaba por ser curioso e eu própria sou uma curiosa. Não fiz isto para provocar puristas, fiz este trabalho com o maior respeito pelos fados e porque eles faziam sentido dentro da minha cabeça. E tudo isso tinha uma lógica, com esta fusão e esta nova sonoridade.” O que é que se encontra neste disco? “Temas, desde as versões aos originais, completamente heterogéneos; mas há uma homogeneidade. E o tema Meu corpo resume todas as influências musicais que fui buscar para este disco.”

Já apresentado ao vivo nas Fnac de Sta. Catarina, Gaia Shopping, Cascais e Chiado, o disco está ainda na agenda das lojas de Almada e do Colombo, respectivamente nos dias 5 e 6 de Maio, às 17h.

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