As idades na música

As pessoas podem passar o tempo a ouvir música mas nunca podem ouvir mais música do que os anos que têm.

Estou a discutir um disco de 1980 com um amigo de 22 anos. Não percebo como é que ele não reconhece que é genial. Será mal de geração? Minha? Ou dele? Não sabe ele que sem essa música de 1980 não haveria a música de que ele hoje gosta?

Como fazer? Basta saber a diferença de idades e o ano da música. Entre nós há uma diferença de idades de 40 anos: ele nasceu em 1995 e eu em 1955. Subtrai-se o ano do disco e dá 15 anos negativos: o disco saiu 15 anos antes de ele nascer. Sendo assim, um disco de 1980 está para ele como para mim está um disco de 1940, 15 anos antes de eu nascer. Só assim é que percebo a
distância, porque não há muitos discos de 1940 que me interessem. 

Se o disco for de 1966 – um ano muito bom para a música – isso foi 29 anos antes de ele nascer. Corresponde assim, para mim, a um disco de 1926. Isso para mim é um disco muito, muito velho, que eu respeito como histórico mas não tenho vontade de ouvir mais do que uma vez, só por curiosidade.

É mais fácil fazer as contas usando a diferença de idades (40 anos). Basta subtrair 40 do ano do disco. Um disco de 1926 para ele equivale para mim a um de 1886. É verdade... É chocante, não é? As pessoas podem passar o tempo a ouvir música mas nunca podem ouvir mais música do que os anos que têm.

É por isso absurdo que uma pessoa de 62 anos, que passou 62 anos a ouvir música entre 1955 e 2018, com destaque para a música nova de cada ano, ralhe com uma de 22 anos por não conhecer os Velvet Underground, que para ele são de 1928.

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