Wenger foi jogador-treinador aos 16 anos
O demissionário técnico do Arsenal não teve uma carreira brilhante como futebolista, mas ainda conseguiu ser campeão francês
Não há um caminho único para se chegar a treinador de futebol. Um académico que nunca deu um chuto numa bola pode ter uma cabeça de futebol maior que o mais dotado dos jogadores. Pelé nunca foi treinador, Maradona foi, mas não era grande coisa. Mas nada é mais natural que a maioria dos treinadores do futebol mundial tinham sido jogadores, deste “estrelas” aos que nunca passaram da obscuridade. Cruyff foi genial dentro e fora do campo, tal como o seu herdeiro directo Guardiola. Arsène Wenger tem uma cabeça de futebol como poucos, faltavam-lhe era as pernas para jogar muito. Mas foi campeão francês como jogador. E cabeludo, à boa moda dos anos 1970.
A família Wenger vivia numa aldeia pequena na Alsácia e Arsène, o mais novo de três irmãos, começou a jogar futebol aos 12 anos no FC Duttleheim. No princípio, chamavam-lhe “Petit”, mas deixou rapidamente de ser pequeno (como adulto, passou a ter 1,91m de altura) e, aos 16 anos, foi jogar para os seniores desta pequena equipa da aldeia que nem treinador tinha – tinha apenas alguém a dar os treinos, mas sem qualquer preparação táctica. E foi aqui que começou a carreira de treinador para Wenger, um médio sem grande capacidade física mas com enorme visão de jogo e que mandava literalmente na equipa.
Depois de quatro anos na equipa da aldeia, Wenger começou a subir na pirâmide do futebol francês, transferindo-se para o vizinho Mutzig, da terceira divisão. Nesta altura, Wenger ainda não olhava para o futebol como o seu futuro, mas o seu crescente entendimento táctico do futebol levou-o a mudar de ideias. Lia tudo o que lhe aparecia à frente sobre futebol e fazia viagens frequentes com os amigos à vizinha Alemanha para ver jogos da Bundesliga, nunca deixando, no entanto, de estudar – estudou economia em Estrasburgo.
Do Mutzig, passou para o Mulhouse, mas cansou-se das viagens longas e voltou a Estrasburgo, primeiro para uma equipa de amadores, onde jogaria no meio-campo e teria funções de treinador adjunto, depois para o RC Estrasburgo, que o contratou para ser olheiro e jogar nas reservas. Wenger nunca esperaria jogar na primeira equipa, mas foi o que aconteceu aos 29 anos (fez um total de 11 jogos em três épocas), em Novembro de 1978, num jogo da Taça UEFA frente aos alemães do Duisburgo, e ainda conseguiu fazer dois jogos na Ligue 1, um pequeno contributo para o único título de campeão francês da história do clube alsaciano. Mas Wenger nem se juntou à festa. Estava mais preocupado em preparar os treinos da equipa de juniores.