Trinta anos a menos

Foi o tempo que venceu Fidel, é o tempo que está a vencer Raúl, e é contra o tempo que Díaz-Canel tem de lutar. A questão é se o quer fazer.

Díaz-Canel tem menos 30 anos do que o Castro que vem substituir. Nasceu depois da revolução, nunca conheceu outra vida que não seja a da luta ao capitalismo passada a cantar loas à Sierra Maestra. E agora foi entronizado com ovações na Assembleia Nacional cubana, mantendo-se virtualmente desconhecido da generalidade dos cubanos. A revolução cubana nunca se compadeceu com minudências como a democracia ou a representação popular, porque essas modernices não entram na cartilha de Havana. E foi isso que se viu ontem, com a escolha de Díaz-Canel decidida por Raúl Castro e seguida por 603 dos 605 deputados.

Se o novo Presidente teve os olhos abertos nos últimos anos, também viu as décadas de repressão, a absoluta dependência do turismo e a miséria de uma economia paralela que condena à desgraça quem nasce fora da elite dos negócios e dos privilégios. E se manteve o cérebro a funcionar, percebeu que o rumo da Cuba actual vai conduzir à necrose: a economia está desesperada por uma reforma monetária, as leis da propriedade e do trabalho estão atrasadas 50 anos, a função pública é uma anedota e a sociedade civil não existe. 

A única oposição à liderança de Cuba é o tempo. Foi o tempo que venceu Fidel, é o tempo que está a vencer Raúl, e é contra o tempo que Díaz-Canel tem de lutar. A questão é se o quer fazer. O novo Presidente não tem grande pegada diplomática nem experiência internacional, e os cinco anos que passou colado ao poder devem ter-lhe dado mais vícios do que frescura. Sem a Venezuela a apoiar nem os americanos a aguentar, esta nova liderança está sob pressão do tempo, que será menos paciente porque já não há a legitimidade histórica a espaldar crimes. 

Díaz-Canel estará certamente grato à família Castro por lhe suceder e, por isso, não deverá afrontar o poder instituído — até porque o velho Raúl vai continuar a liderar o vetusto Partido Comunista, e não há margem para mexidas enquanto este estiver vivo. Por isso, o melhor a que os cubanos podem aspirar é a uma morte rápida de Raúl Castro e a um módico de democracia generosamente concedido pelo novo líder. Será melhor esperar sentado, debaixo de um coqueiro, porque sempre pode aparecer um turista com mais alguns dólares.

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