Uma Cultura para todos

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa sempre viu na Cultura uma ferramenta fundamental no âmbito da sua intervenção social que diariamente faz junto da comunidade

A Cultura é um pilar fundamental para o bem-estar de uma sociedade, é uma fonte de aprendizagem e de conhecimento, de conforto emocional e de integração social. Por isso, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) sempre viu na Cultura uma ferramenta fundamental no âmbito da sua intervenção social que diariamente faz junto da comunidade. A Cultura, nas suas diversas vertentes, deve ser encarada como um investimento na melhoria da vida das pessoas.

É esse o paradigma em que assenta a política de Cultura da SCML, procurando materializar-se de diferentes formas, como recentemente o tem feito: ao apoiar a publicação integral da obra completa do Padre António Vieira, uma das maiores referências da língua portuguesa, deixando um legado cultural ímpar e que poderá ser usufruído por todos; ao restaurar a Capela de São João Baptista, uma obra única do barroco joanino sem paralelo em Portugal e no resto da Europa, permitindo preservar e potenciar um elemento de elevado valor histórico para o país, que anualmente atrai milhares de pessoas à Igreja de São Roque, junto ao Bairro Alto; ao reabilitar o edifício da antiga Hemeroteca em Lisboa (obra em curso) para lá instalar o arquivo/biblioteca da Brotéria, um espólio único dos jesuítas; ao integrar a coleção de arte asiática de Francisco Capelo, dando uma nova vida ao restaurado Palácio da São Roque em pleno Bairro Alto, com a abertura do novo museu “Casa Ásia – Coleção Francisco Capelo”, criando-se, assim, um novo polo cultural nesta zona da capital, constituído não só por este novo museu e a Brotéria, como também pela Igreja e Museu de São Roque, a Biblioteca e o Arquivo Histórico da Misericórdia de Lisboa, que aumentará a oferta à comunidade e atrairá ainda mais turistas nacionais e estrangeiros.

Mas em muitos mais projetos culturais poderíamos falar, como a Temporada de Música São Roque, que este ano vai celebrar o 30.º aniversário, sendo uma referência ao nível de festivais de música sacra em Portugal e no estrangeiro, e que, anualmente, serve de palco para artistas nacionais poderem apresentar as suas obras, algumas delas inéditas.

São apenas alguns exemplos de uma política de Cultura que, acima de tudo, pretende servir a comunidade. Todas estas obras culturais enquadram-se na missão da SCML, que está a celebrar 520 anos. Uma data que nos transporta para o Compromisso da Confraria da Misericórdia de Lisboa, datado de 1498, que constitui, ontem como hoje, o documento basilar da Instituição, cuja contemporaneidade se mantém inquestionável, porque foi sendo alvo de incessante atualização, mudando-se a forma de o praticar, mas mantendo-se imutável o espírito que o norteia.

A Cultura enquadra-se precisamente nesse espírito e tem desempenhado um papel relevante, enquanto fator agregador da comunidade Santa Casa, reunida em torno de valores éticos e humanistas, espelhados, por exemplo, no acervo do Arquivo Histórico da Misericórdia, nomeadamente na série documental dos “Sinais de Expostos”, que remetem para a vida de muitas crianças colocadas à guarda da Instituição.

Ainda no plano da interação da Cultura com a comunidade, poderemos salientar o seu papel na promoção do conhecimento e, consequentemente, no desenvolvimento individual e coletivo. É através do conhecimento que se potencia a capacidade reflexiva, o sentido crítico e a criatividade que conduzem a um melhor entendimento do que nos rodeia e nos permitem encontrar soluções inovadoras aos desafios contemporâneos.

Cultura é igualmente integração do outro, principalmente dos mais frágeis e sós, ao promover o sentido de pertença a um agregado que participa de uma História e de um Património comuns. Um livro, uma pintura, uma partitura… são motivo de diálogos, de viagens, de partilha, que reforçam a autoestima e ajudam a reconstruir laços com a sociedade. Exemplo disso é o projeto do “Voluntariado da Leitura” da Biblioteca da Santa Casa que leva o “mundo” a casa dos mais velhos.

Por outro lado, numa cidade como a de Lisboa, aberta ao mundo, com tantas comunidades de diversas origens, a Cultura pode ser elemento de união e valorização das mesmas, numa perspetiva de trabalhar com culturas diferentes, evidenciando o que as individualiza e estabelecendo pontes com a cultura portuguesa, promovendo-se a integração e uma educação para a cidadania.

O acesso à Cultura para todos é uma preocupação da Misericórdia, presente na sua programação Educativa e Cultural, designadamente do Museu de São Roque e restante património cultural. Pensada em função das necessidades dos diferentes públicos, em articulação com outras instituições da cidade, esta programação maioritariamente gratuita tem como eixos orientadores a educação, a participação ativa do público, a diversidade e a pluralidade de linguagens e recursos interpretativos.

No contexto atual de aumento substancial do fluxo turístico, a articulação entre Cultura e Turismo não pode ser descurada, colocando-se novos desafios que remetem para uma resposta de qualidade, que valorize o património nacional e promova, junto deste público, experiências únicas. Entre as muitas atividades que a SCML disponibiliza, destacam-se os “Itinerários em Lisboa”, pedestres ou de bicicleta, que associam o território da cidade à História da Santa Casa e o ciclo de visitas guiadas “Santa Casa Abre Portas”, em edifícios não abertos ao público, por cumprirem funções sociais ou de saúde. Salientar ainda a importância da formação especializada dos profissionais que orientam as atividades, nomeadamente nas áreas da Educação, História da Arte e Turismo.

Os 520 Anos de História que a SCML agora celebra traduzem-se num património cultural valioso e diversificado, resultante, em grande parte, de inúmeros beneméritos que, ao longo dos séculos, têm confiado os seus bens à Misericórdia de Lisboa, razão que reforça colocá-lo ao serviço do bem-estar da comunidade.

A Cultura na Santa Casa tem espaço próprio para a promoção de novas reflexões e para provocar curiosidades, em especial com o novo Polo Cultural de São Roque, que se assume como território de encontro entre o passado e o futuro, presente fecundo para o questionamento do individuo e do(s) mundo(s) em que habita.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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