Ministério da Saúde gorou as expectativas dos autarcas algarvios e urgências de Faro vão de mal a pior

Todos os presidentes de câmara estão de acordo na avaliação negativa ao Serviço Nacional de Saúde, mas quando chega a altura de criticar o Governo, o PSD está de um lado e do PS do outro. Sobram as listas de espera e caos nas urgências hospitalares.

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VASCO CELIO/STILLS (colaborador)

A degradação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) no Algarve continua a agravar-se sem solução à vista. Os autarcas, com o Verão à porta, temem que o caos nas urgências do Hospital de Faro venha a piorar e os centros de saúde entrem em ruptura. O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, foi apenas uma vez à região, há cerca de dois anos, levando uma promessa ambiciosa: “Resolução da maioria dos problemas que estão identificados, no SNS, até 31 de Maio” de 2016. As expectativas saíram goradas.

Os autarcas convergem na crítica à “degradação” do serviço público de saúde mas divergem na forma como reclamam a solução. Esta foi a questão que dominou, nesta sexta-feira, a reunião da Comunidade Intermunicipal do Algarve — Amal, com o PSD a criticar o Governo e PS a defender. “O consenso, que tem dominado as decisões da Amal, morreu”, declarou o presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau, PSD, autor de uma moção que exige do Governo as “medidas que se impõem para inverter a crescente degradação das condições de acesso dos doentes aos cuidados de saúde do SNS”. A presidente da câmara de Portimão, PS, Isilda Gomes, acha que houve melhorias e contra-ataca: “Estão a esquecer o que existia até há dois anos”.

Adalberto Campos Fernandes, nos últimos tempos, tem andado um pouco por todo o país a visitar hospitais e a anunciar investimentos, deixando de fora o Algarve: “Vamos pedir ao senhor ministro que venha aqui à Amal dar uma explicação”, decidiram os autarcas, queixando-se do abandono a que região tem sido votada. “As urgências do hospital de Faro estão caóticas, os tempos de espera para consultas hospitalares continuam a aumentar nos últimos anos, obrigando milhares de doentes a esperar largos meses, por vezes anos”, acusou o autarca de Faro. Isilda Gomes reconhece que as “coisas não vão bem” mas recusou alinhar na denúncia pública dos problemas, contrapondo com uma moção em que destaca os investimentos feitos pelo Governo em equipamentos adquiridos ou em fase de concurso para o Hospital de Faro e Portimão, a melhoria das Unidades de Saúde Familiar (USF) de Albufeira, Quarteira e Loulé e a aquisição de dez novas Unidades de Saúde Móvel. “O Hospitala das Gambelas [unidade privada] está a abarrotar”, observou Bacalhau, lembrando que a fuga para os privados se deve à falta de resposta do sector público. “E não foram vocês [PSD] os responsáveis?”, perguntou o autarca de Loulé, Vítor Aleixo, socialista.

O presidente de Castro Marim, Francisco Amaral, PSD, insistiu em que fosse convocado o ministro da Saúde para se justificar das promessas não cumpridas. A troca do nome de Centro Hospitalar do Algarve (CHA) por Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) foi apenas isso e não bastou para solucionar a falta de investimentos nos hospitais de Faro e Portimão. “Não goze connosco, senhor ministro”, desabafou. Nesta altura da discussão no seio da Amal, o fogo cruzado com argumentos prós e contra Governo entre PS e PSD, ficou ao rubro. “Eu sou o primeiro a estar contra usar este órgão como arma política contra o Governo”, declarou Aleixo, o autarca que, no governo de Passos Coelho, se colocou à porta de centro de saúde de Loulé a entender público em sinal de protesto contra o então ministro da saúde. A presidente da câmara de Silves, Rosa Palma, CDU, fez sinal de que queria intervir, mas o pingue-pongue entre os autarcas de Faro e Portimão não lhe deu hipótese. Abandonou a reunião antes dos trabalhos terminarem.

Novo secretário da Amal

O preenchimento de altos cargos, por indicação das câmaras, é outra das matérias que opõe PS e PSD no seio da estrutura representativa dos municípios. O lugar de 1º secretário da Amal (com um vencimento equiparado a presidente de câmara) foi nesta sexta-feira votado numa situação inédita. O nome do candidato, Brandão Pires, antigo vice-presidente da CCDR

Algarve, obteve dez votos a favor e quatro em branco. O presidente da câmara de Faro, Rogério Bacalhau, ausentou-se no momento da votação. “Nada tenho contra a pessoa em causa mas não aceito participar numa votação sem ter conhecimento prévio — só em cima da hora é que nos informaram”, justificou. O autarca de Olhão, António Pina, não compareceu à reunião nem se fez representar.

O lugar de administrador da Algar, em representação dos municípios, é outro dos cargos ainda em aberto. A decisão estava agendada para se realizar nesta sexta-feira à tarde mas foi adiada durante a reunião da Amal de manhã. “Não faço a mínima ideia do nome que vai ser indicado”, disse Rogério Bacalhau, criticando o PS por não partilhar informação embora peça consensos. “Pelo menos, respeitem-nos”, apelou. O autarca de Monchique, Rui André, social-democrata, deu mais uma alfinetada: “Têm maioria mas lá por isso não têm de fazer as coisas como querem e lhes apetece”. Por fim, o presidente da Amal, Jorge Botelho, declarou: “Por mim, estou sempre aberto a encontrar consensos”. A discussão e votação sobre as duas moções referentes ao SNS ficou adiada para a próxima reunião.

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