Wenger deixa Arsenal ao fim de 22 anos

Treinador francês, de 68 anos, abandona clube londrino no final da época. Ao serviço do Arsenal conquistou três campeonatos, sete Taças de Inglaterra e sete Supertaças.

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Arsène Wenger chegou ao Arsenal em 1996 Darren Staples / Reuters
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Treinador conquistou três campeonatos SCOTT HEPPELL / Reuters

É o fim de um longo reinado. O treinador francês Arsène Wenger, de 68 anos, vai deixar o Arsenal no final da época, ao fim de quase 22 anos no comando da equipa londrina e um ano antes do final do seu contrato.

“Após uma cuidada ponderação e conversações com o clube, sinto que a altura certa para sair é no final da época”, disse Arsène Wenger num comunicado publicado no site do Arsenal. “Estou grato por ter tido o privilégio de servir o clube por tantos anos memoráveis.”

Stan Kroenke, um dos accionistas maioritários do clube, citado no mesmo comunicado, afirma que “este é um dos dias mais difíceis” que já viveu no desporto. “Uma das razões que nos levou a apostar no Arsenal foi tudo aquilo que Arsène trouxe ao clube, dentro e fora de campo. A sua longevidade e consistência nunca vão ser igualadas”, disse o empresário. 

Kroenke salienta ainda o “recorde excepcional” do francês, que se manteve durante mais de duas décadas a treinar o Arsenal e que é apenas suplantado, em termos de longevidade à frente de um só clube, pelo mítico Alex Ferguson, que esteve 27 anos ao serviço do Manchester United (1986-2013). No principal escalão do futebol inglês, Wenger disputou 823 jogos – logrando 473 vitórias e 1549 golos marcados.

O anúncio da saída de Wenger gerou uma onda de mensagens nas redes sociais de homenagem e de agradecimento ao manager, muitas delas partilhadas por personalidades do futebol inglês e mundial, como Cesc Fàbregas, Gary Lineker, Mark Hughes ou Jurgen Klopp.

Arsène Wenger comanda a equipa do Arsenal desde Outubro de 1996, tendo conquistado o campeonato em três ocasiões (1998, 2002 e 2004), além de ter vencido sete Taças de Inglaterra (1998, 2002, 2003, 2005, 2014, 2015, 2017) e sete Supertaças (1998, 1999, 2002, 2004, 2014, 2015 e 2017).

Antes do Arsenal, Wenger treinou os japoneses do Nagoya Grampus (1995-1996) e os franceses do Mónaco (1987-1994) e Nancy (1984-1987). Ao serviço do clube do principado conquistou um campeonato (1988) e uma Taça de França (1991).

O Arsenal ocupa actualmente o sexto lugar na Premier League, a 33 pontos de distância do líder e já campeão Manchester City, e deverá falhar o apuramento para a Liga dos Campões pelo segundo ano consecutivo – está a 14 pontos do quarto e último posto que dá acesso à prova milionária, ocupado pelo Tottenham.

O foco de Wenger e dos seus jogadores está por isso virado para a Liga Europa, cuja conquista vale um lugar na próxima edição da Champions. Para atingir a final da prova secundária europeia os “gunners” terão de ultrapassar o Atlético de Madrid.

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Últimos anos não foram fáceis. Adeptos dividiram-se entre os anti-Wenger e os pró-Wenger Stefan Wermuth / Reuters

Revolução e declínio

Aos comandos do Arsenal, Wenger viveu períodos contrastantes. Ao sucesso alcançado nos primeiros dez anos, em termos de resultados, estilo de jogo e impacto no futebol inglês, somou-se um ciclo de claro declínio, que se mantém até aos dias de hoje, com ausência de títulos e, mais do que isso, com a perda de notoriedade interna e europeia. 

No álbum dos grandes feitos do manager francês constam as duas “dobradinhas” – campeonato e taça na mesma época – de 1998 e 2002 e a fabulosa campanha da equipa na Premier League de 2003-2004, que coroou Wenger como o primeiro treinador, desde 1889, a conquistar um campeonato inglês sem qualquer derrota. 

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Wenger conquistou duas 'dobradinhas' ao serviço do Arsenal, em 1998 e 2002. Reuters

Aos títulos, Wenger acrescentou ainda a potencialização de jogadores como Thierry Henry, Patrick Vieira ou Dennis Bergkamp e a implementação de uma forma de jogar reconhecida por adeptos e treinadores como uma das mais atractivas do futebol inglês.

A conquista da Taça de Inglaterra em 2005 marcou, no entanto, o início de uma longa “seca” de títulos, que beliscou a reputação do treinador e que coincidiu com a chegada de José Mourinho à Premier League, aos comandos do “novo rico” de Londres – o Chelsea.

O português e o francês foram protagonistas de um dos relacionamentos mais belicosos dos últimos anos no futebol inglês, que incluiu trocas de insultos, constantes insinuações maldosas e até empurrões junto ao bancos de suplentes. No campo, porém, Mourinho foi implacável, tendo logrado uma série de 25 jogos consecutivos sem perder para Wenger. 

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Relação com José Mourinho foi sempre atribulada Reuters

O Arsenal teve de esperar nove anos para voltar a levantar um troféu – Taça de Inglaterra em 2014 – e deixou de fazer parte do lote de principais candidatos à conquista do campeonato inglês, perdendo protagonismo para Chelsea, Manchester United e Manchester City. 

Pelo meio perdeu uma final da Champions – derrota por 2-1 frente ao Barcelona em 2006 – e somou uma série de eliminações precoces na prova. Nas últimas sete edições da liga milionária em que o Arsenal participou foi derrotado nos oitavos-de-final.

Como consequência dos resultados desportivos menos consecutivos e da perda de capacidade para competir desportiva e financeiramente com outros clubes da Premier League, o Arsenal de Wenger mostrou-se incapaz de segurar os seus principais jogadores. Ashley Cole (Chelsea), Cesc Fàbregas (Barcelona/Chelsea), Emmanuel Adebayor (Manchester City), Robin Van Persie e Alexis Sánchez (ambos para o Manchester United) foram algumas das antigas estrelas do Arsenal que decidiram mudar de ares para conquistar títulos.

Nem as vitórias das Taças de Inglaterra em 2014, 2015 e 2017 ajudaram o francês a recuperar a aura de outros tempos e os jogos do Arsenal há muito que são disputados num verdadeiro palco de contestação vocal entre os adeptos pró-Wenger e os anti-Wenger.

Tuchel na calha?

Finda a “era Wenger” no final da temporada, fica apenas a faltar o nome do próximo treinador do Arsenal. O alemão Thomas Tuchel, antigo treinador do Borussia Dortmund e actualmente sem clube, parece partir na pole position – o Bayern quis contratá-lo mas este comunicou aos bávaros que já tem clube –, embora o alegado interesse do Paris Saint-Germain (França) nos seus serviços possa afastá-lo de Londres.

A imprensa inglesa diz que na lista de potenciais candidatos ao lugar constam os nomes de Joachim Low, Carlo Ancelotti, Luis Enrique, Mikel Arteta, Patrick Vieira, Rafa Benítez e Brendan Rodgers.

A direcção do Arsenal esconde para já o jogo, limitando-se a informar que o sucessor de Arsène Wenger será anunciado “o mais brevemente possível”.

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