Baldur Brönnimann: “Webern é música que olha para o futuro”

Maestro titular da Orquestra Sinfónica Casa da Música comenta a importância do programa Música & Revolução este ano dedicado ao compositor austríaco.

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Baldur Brönnimann Nelson Garrido

O maestro suíço Baldur Brönnimann vai dirigir a Orquestra Sinfónica do Porto em dois dos quatro concertos do programa dedicado a Anton Webern. Um compositor que considera ter revolucionado a história da música no século XX, e que calha bem com a estética da Casa da Música e da Sala Suggia.

Qual é o lugar do Webern na história da música?
Anton Webern foi o compositor mais importante para a história da música após o final da Segunda Guerra Mundial. Foi, dentro da Segunda Escola de Viena, aquele que chegou a um ponto mais avançado na construção da música, aquele que chegou mais perto da sua essência. Ele procurou essa pureza, numa altura em que a emoção e a subjectividade na música não eram muito bem-vistas. Durante a guerra houve tanto abuso – pelo fascismo, pelo nazismo, pelo comunismo – e tanta manipulação das emoções que os compositores estavam a precisar de um novo começo. E foi Webern quem o fez. Ele – como um Kandinsky, por exemplo – abriu todo um novo panorama para o desenvolvimento da música; fez uma autêntica revolução musical. As figuras da Segunda Escola de Viena não eram revolucionárias, eram burgueses, no sentido político como social, mas o seu potencial revolucionário está na música que compuseram.

No programa Música & Revolução, Webern vai ser interpretado por várias formações. Qual delas se adequa melhor à natureza – e ao desafio – da sua música?
Há muitos Weberns. No início da sua carreira, ele escreveu música que vinha da época de Strauss, de Wagner… E aí prestava-se muito para grandes orquestras, como a obra Passacaglia. Mas, com o avançar do tempo, foi reduzindo a sua música ao essencial. Assim, as suas obras podem ser tocadas por qualquer formação, porque a sua escrita, muitas vezes, é igual para os diferentes instrumentos. É um tipo de música como a do Renascimento, construída simplesmente por linhas.

Já trabalhou com a soprano Christina Daletska?
Sim. Fiz com ela uma ópera na Noruega. É uma cantora muito inteligente, que entende bem a estética desta música, e tem a afinação perfeita que ela exige. É uma das poucas que podem interpretar a música de Webern, que é muito difícil.

A Casa da Música dedica este ano todo o programa deste ciclo a um só compositor. E escolher Webern não parece uma decisão muito habitual.
Não seria fácil montar este programa em Londres ou em Paris. A diferença é que, aqui, há a convicção de que é preciso fazê-lo. E parece-me muito bem, porque tendo nós os vários grupos – a Orquestra, o Coro, o Remix –, e esta sala [Suggia], que tem a estética apropriada, não custa apresentar música que olha para o futuro. Sendo já, de algum modo, antiga, a música de Webern é muito mais moderna do que muita música contemporânea.

 

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