Alex Atala vem falar de activismo ao simpósio Sangue na Guelra

Dia 23, cozinheiros, produtores e activistas juntam-se na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, para discutir o envolvimento da gastronomia em causas sociais, políticas e ambientais.

Foto
O brasileiro Alex Atala é o cabeça-de-cartaz do encontro Paulo Whitaker/Reuters

Cada vez mais os cozinheiros estão a assumir o papel de activistas. Preocupados com a fome no mundo, com a sustentabilidade, com o desperdício, tentam, através da visibilidade que conseguiram conquistar nos últimos anos, trazer esses temas para o debate público. É isso que vai acontecer também em Lisboa, no próximo dia 23, no Simpósio Sangue na Guelra 2018, sob o tema Cooktivism.  

O chef brasileiro Alex Atala (do restaurante D.O.M), que recentemente organizou no Brasil um evento chamado Fru.to, em torno destas preocupações, é o “cabeça-de-cartaz” do encontro. Através do seu Instituto ATÁ, onde trabalha em conjunto com ambientalistas, fotógrafos, publicitários, um antropólogo e um jornalista, tenta recuperar produtos endógenos do Brasil, alguns totalmente desconhecidos nas grandes cidades como São Paulo ou o Rio de Janeiro. Com eles, traz as histórias das pessoas que os produzem e que tudo fazem para que eles continuem a existir. 

Também Bo Songvisava e o seu marido Dylan Jones, vindos de Banguecoque, onde têm o restaurante Bo.Lan, vêm falar do esforço que aí fazem para criar uma cozinha mais sustentável, procurando assim influenciar a cena gastronómica na Tailândia através do seu exemplo. Este passa pelo uso de painéis solares ou pela reutilização de determinados ingredientes, combatendo assim o desperdício. O objectivo é que o Bo.Lan se torne, em breve, um espaço carbono zero.

Noutro ponto do planeta, mais exactamente em Brighton, no Sul de Inglaterra, Douglas McMaster tem o restaurante Silo e objectivos semelhantes aos de Bo e Dylan: conseguir chegar ao desperdício zero. Os seus esforços mereceram já o reconhecimento dos Observer Food Awards, que o consideraram Best Ethical Restaurant 2016. Explica o texto de apresentação do simpósio que “no Silo, os pratos são feitos a partir de sacos de plástico, os copos de frascos de doces, as bancadas de armários velhos” e todos os produtos usados são de pequenos produtores e vêm em embalagens biodegradáveis ou recicláveis.

Do Brasil, tal como Atala, vem a jornalista Alexandra Forbes, colunista da Folha de São Paulo e da GQ Brasil. Forbes falará do projecto Gastromotiva, um restaurante-escola que aproveita os excedentes dos alimentos e serve jantares gratuitos à população carenciada do Rio.

Aos convidados vindos de fora juntam-se três portugueses: Francisco Sarmento, responsável da FAO (Food and Agriculture Organization das Nações Unidas) em Portugal; Alfredo Sendim, produtor biológico da Herdade do Freixo do Meio, em Montemor-o-Novo, onde recuperou o sistema do montado e onde pratica a agroecologia; e Rita Sá, do WWF (World Wildlife Fund) em Portugal, dedicada à sustentabilidade na área das pescas.

O Simpósio começa às 9h e prolonga-se até às 18h30 na Gare Marítima de Alcântara e continua a trabalhar os temas lançados no ano passado pelo Sangue na Guelra, festival gastronómico organizado por Ana Músico e Paulo Barata. Depois de, em 2017, ter sido palco do lançamento do Manifesto para o Futuro da Cozinha Portuguesa, o evento dá continuidade ao tema focando-se no activismo ligado à cozinha e nos projectos concretos que estão a acontecer um pouco por todo o mundo.

Lembram os organizadores que “o contexto em Portugal está dado pelas discussões em curso visando obter um novo Estatuto para a Agricultura Familiar, um Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional ou ainda uma Lei de Bases do Direito Humano à Alimentação Adequada”.

Por isso, concluem “é absolutamente fundamental influenciar os decisores políticos e mobilizar cozinheiros e opinion leaders para a Campanha AlimentAÇÃO facilitada pela FAO Portugal” – o momento simbólico do apoio dos cozinheiros surgirá no final do simpósio. 

Antes disso, entre as 13h e as 15h, haverá um almoço feito por Manuel Liebaut (Loco), Luís Gaspar (Sala de Corte) e Carlos Mateus (Avenida SushiCafé). A entrada no Simpósio (bilhetes à venda na Ticketline) tem o preço de 60€ para o público, 45€ para estudantes de escolas de hotelaria e turismo e o almoço Symposium Redux tem o valor de 25€.

Sugerir correcção
Comentar