Vítor Gaspar aconselha preparação para próximas crises económicas

"Os países vão estar mais bem colocados para enfrentar os riscos iminentes se construírem finanças públicas fortes durante os tempos positivos", defende o antigo ministro das Finanças português.

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O antigo ministro das Finanças português, Vítor Gaspar LUSA/JIM LO SCALZO

O antigo ministro das Finanças português e director do FMI, Vítor Gaspar, avisa que "nenhum país é excepção" e que todos devem usar o ciclo económico positivo para acumular “almofadas financeiras”, preparando-se para eventuais crises.

"O ciclo económico positivo deve ser usado para acumular 'almofadas financeiras' para períodos tempestuosos que vão chegar eventualmente", afirma Vítor Gaspar na apresentação do Fiscal Monitor, relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre as previsões orçamentais do mundo e que coordenou.

Nesse sentido, o ex-ministro afirma que os países devem "evitar medidas pró-cíclicas que providenciem estímulos desnecessários quando a actividade económica já está a acelerar". Em vez disso, defende, "a maioria dos países deve cumprir os seus planos orçamentais e colocar os défices e as dívidas em trajectórias descendentes firmes".

"Os países vão estar mais bem colocados para enfrentar os riscos iminentes se construírem finanças públicas fortes durante os tempos positivos", defendeu o director do FMI.

No relatório divulgado esta quarta-feira, o FMI afirma que a dívida pública a nível mundial está actualmente em "máximos históricos", mas admite que os rácios em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) vão reduzir-se nos próximos cinco anos em cerca de dois terços dos países.

Nas economias avançadas, a dívida representa 105% do PIB e está em níveis médios que não se viam desde a Segunda Guerra Mundial, segundo o FMI.

"Dívidas públicas e défices elevados são uma causa de preocupação", alerta o Fundo, considerando que os países com estas características "são vulneráveis à uma limitação súbita das condições de financiamento, o que poderia dificultar o acesso ao mercado e colocar em risco a actividade económica".

Além disso, a instituição nota que níveis elevados de dívida e de défices "dificultam a capacidade de resposta para implementar políticas orçamentais que apoiem a economia" caso o ciclo económico se inverta.

"A experiência mostra que uma posição fiscal fraca aumenta a profundidade e a duração de uma recessão, porque os Governos não são capazes de implementar políticas orçamentais suficientes para apoiar o crescimento", lê-se no relatório.

Criar margem de manobra é "especialmente importante" para o FMI, também devido aos máximos históricos da dívida do sector privado. Nesse sentido, para Vítor Gaspar é necessário que "os países cumpram os seus compromissos políticos. Não há margem para complacência".

Ainda assim, o ritmo do ajustamento deve ser "calibrado" às condições cíclicas de cada país e perante a margem orçamental disponível para "evitar um impacto indevido do crescimento". Ao mesmo tempo, todos os países precisam de manter em vista políticas que alavanquem o crescimento económico no médio prazo.

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