Ir a Beja para mergulhar no mundo (aos quadradinhos)

Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja começa a 25 de Maio. Conheça aqui os autores que nele vão expor até 10 de Junho.

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Ilustração de Susa Monteiro que serve de base ao cartaz do festival deste ano DR

Durante 17 dias, e por causa de um festival, Beja passa de cidade pacata do Baixo Alentejo a capital nacional da banda desenhada. Dezenas de exposições, concertos, conferências, workshops e sessões de autógrafos vão reunir de 25 de Maio a 10 de Junho, e pelo 14.º ano consecutivo, autores portugueses e estrangeiros, agentes literários e editores num “menu variado” que quer garantir aos visitantes, em média dez mil por edição, verdadeiras descobertas.

E é verdade que, se o programa deste Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja conta com exposições de históricos como Jayme Cortez (1926-1987), o português que se estreou na revista O Mosquito mas acabou por fazer carreira no Brasil, estando intimamente ligado a muitos projectos editoriais e à escola de BD de terror que por lá surgiu, também é evidente que deixa espaço a artistas contemporâneos como o italiano Manuele Fior (1975-), o autor de Icarus, ou o sueco Max Andersson (1962-), o homem por trás de Pixy e que desenha a guerra (e olha para ela) como poucos.

“Queremos que as pessoas venham e encontrem grandes nomes do passado e também o que de melhor se está a fazer agora”, diz Paulo Monteiro, autor de BD e desde a primeira hora um dos organizadores deste festival que arrancou em 2005, no mesmo dia em que foi inaugurada a bedeteca da cidade. “Por isso juntamos na mesma edição uma retrospectiva do Cortez, referência absoluta da BD que se fez e faz no Brasil, ao Rossano Rossi, um autor mais mainstream que é o homem do cowboy Tex, ou ao Fior, um dos artistas mais importantes da nova vaga da BD italiana, um cronista do quotidiano, muito alternativo e intimista.”

Todos estes autores fazem parte da oferta deste festival que invade o centro histórico de Beja, da Casa da Cultura ao Museu Regional, passando pelo Teatro Pax Julia, o Forno da Ti Bia Gadelha ou a Galeria da Rua dos Infantes. Da programação de exposições há ainda espaço para os portugueses José Ruy, Cristina Matos, Luís Guerreiro, Mosi, Luís Cruz Guerreiro, Pedro Moura e Marta Teives, o colectivo The Lisbon Studio ou Vilas, um artista local que costuma desenhar a esferográfica e publicar em fanzines.

“Grande parte dos autores que trazemos têm obra editada em livro, mas há outros que não. E neste caso o festival também é importante para apresentar as pessoas umas às outras, à volta de uma cerveja. Vêm muitos autores, editores, agentes que procuram artistas para projectos…” A ideia é criar com o festival um ambiente descontraído, mas sério, em que as coisas possam acontecer naturalmente durante um concerto desenhado (vai haver vários) ou um jantar demorado numa das tasquinhas que vão estar à disposição, explica Paulo Monteiro.

Tal como os autores nacionais e estrangeiros já enunciados, também os brasileiros Tainan Rocha e Wagner Willian, o francês Pierre-Henry Gomont, e o italiano Marco Gervasio estarão presentes no primeiro fim-de-semana (25 a 27 de Maio), em que serão lançados vários livros, incluindo o primeiro de Fior em Portugal, Cinco Mil Quilómetros por Segundo, título que em 2011 lhe valeu o prémio de Melhor Álbum do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, o maior da Europa.

Mostrar a BD italiana ou francesa, a par de outras produções mais periféricas, como em anos anteriores a polaca ou a romena, é outras das marcas do festival. Este ano no capítulo reservado a outras geografias a incursão faz-se pelo País Basco, numa colectiva que promete surpreender. “Há uma tradição fortíssima na BD basca e que tem a ver, como é natural, com o movimento independentista”, diz o organizador do festival. “É uma BD de grande substância, que cumpre uma importante função política e que transmite muito bem a tensão que se vive naquela sociedade. Está aqui tão perto e nós praticamente não a conhecemos.”

Nas duas primeiras noites, lembra Paulo Monteiro, Beja só vai dormir depois das quatro da manhã. “A música prolonga-se para que as conversas também possam continuar. Já estamos quase com 15 edições e as pessoas habituaram-se a que seja assim, muito informal.”

Também se habituaram a contar com uma feira do livro – a deste ano terá representados mais de 60 editores –, com um intenso programa de encontros com autores, e com a maratona de desenho, para a qual todos estão convidados.

O Museu de BD de Beja ainda não abriu, é certo – Monteiro também está envolvido neste projecto com a autarquia e garante que o acervo está quase todo reunido, graças a doações dos autores e das suas famílias –, mas este ano e mais uma vez não faltarão motivos para que todos os que gostam de histórias aos quadradinhos passem uns dias no Alentejo.

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