Bolseiros da Universidade de Coimbra voltam a denunciar precariedade

Os manifestantes concentraram-se junto à Porta Férrea da UC, assinalando o dia em que, há 49 anos, no anterior regime, os estudantes pediram a palavra numa visita ministerial, dando início à crise académica de 1969.

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CARLA CARVALHO Tomás

Cerca de quatro dezenas de bolseiros da Universidade de Coimbra (UC) manifestaram-se nesta terça-feira contra a precariedade, que atinge 500 pessoas nas áreas da ciência e ensino superior naquela instituição, reclamando um contrato de trabalho.

Os manifestantes concentraram-se junto à Porta Férrea da UC, assinalando o dia em que, há 49 anos, no anterior regime, os estudantes pediram a palavra numa visita ministerial, dando início à crise académica de 1969.

"Na UC há quem assegure funções determinantes, contribua para a produção científica, dê aulas, angarie fundos, oriente teses de mestrado e de doutoramento, trabalhe e não tenha nenhum direito laboral", lamentou João Pedro Ferreira, vice-presidente da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica.

Além de 500 bolseiros contratados directamente pela UC, somam-se cerca de 750 financiados pela Fundação da Ciência e Tecnologia em doutoramento ou pós-doutoramento que fazem trabalho na UC, acrescentou o dirigente.

"A estas pessoas não é permitido o acesso digno à Segurança Social, subsídio de férias, a direitos laborais mínimos, a contratos estáveis, a uma carreira, nem a participar na vida democrática das suas instituições", denuncia um folheto distribuído pelos transeuntes.

João Pedro Ferreira recorda que "houve um conjunto de medidas que seguiram em frente e foram aprovadas na AR, mas depois nas instituições as coisas continuaram na mesma ou até se têm aprofundado de forma negativa".

Para o bolseiro e vice-presidente da ABIC, o reitor da UC "tem-se colocado ao lado daqueles que defendem que estas pessoas que desenvolvem aqui um trabalho permanente não tenham futuro" e isso "é absolutamente lamentável".

"Nós só descansaremos quando pudermos dizer que a uma bolsa corresponde um contrato de trabalho", enfatizou João Pedro Ferreira.

Investigadora na área da meteorologia espacial na UC desde 1991, Teresa Barata, de 53 anos, está cansada da sua situação precária e defende a integração dos bolseiros, porque não "há uma universidade sem investigação".

"Nós prestamos vários serviços, damos aulas, eu dei durante oito anos, fazemos projectos de investigação, ganhamos prémios e, no fim de contas, não estamos a ser integrados", relatou Teresa Barata.

Fernando Pinheiro, de 41 anos, lamenta que o primeiro-ministro António Costa pretenda criar uma agência espacial, mas aos investigadores desta área "não lhes dê um contrato como a um trabalhador normal".

"Estamos como no antigamente, nos biscates, no tempo em que as pessoas iam de aldeia em aldeia trabalhar à jorna. Isto é irónico, porque passados tantos anos temos um conselho de reitores que quer a mesma coisa para as pessoas que têm mais formação", sublinhou.

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