Partidos saem dos gabinetes em busca de ideias e quadros

A um ano e meio das eleições regionais, os partidos na Madeira olham para a fora das cúpulas à procura de contributos e novos quadros.

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Paulo Cafôfo é um caso de sucesso de independentes na Madeira HOMEM DE GOUVEIA

“Compromisso Madeira”, “Parlamento Aberto”, “Ouvir a Madeira e o Porto Santo” ou, o mais clássico, “Estados Gerais”. As iniciativas que PSD, PCP, CDS e PS, respectivamente, estão a desenvolver na Madeira apresentam-se com nomes diferentes, mas os objectivos convergem: encontrar fora dos partidos contributos e (quem sabe) novos quadros para apresentar ao eleitorado nas eleições regionais de 2019.

O primeiro a ir para o terreno foi o CDS-PP, com o líder regional do partido, António Lopes da Fonseca, a replicar no arquipélago a fórmula que Assunção Cristas seguiu, primeiro em Lisboa e agora pelo país, com o ciclo de conferências “Ouvir Portugal”.

“O que pretendemos é ir para o terreno e ouvir as preocupações e tentar perceber as prioridades reais das pessoas”, sintetiza Lopes da Fonseca ao PÚBLICO, explicando que o levantamento das necessidades e dos problemas da região irá ter uma resposta no programa de governo que o partido pretende apresentar à população em 2019.

O “Ouvir a Madeira” arrancou no início de Fevereiro no Paul do Mar, uma pequena vila piscatória no extremo oeste da ilha, que foi uma das duas novas juntas conquistadas pelo CDS em Outubro. Os centristas saíram das regionais de 2015 como primeiro partido da oposição, mas nas sondagens mais recentes, que continuam a ser lideradas pelo PSD, surgem atrás do PS e do JPP. Lopes da Fonseca é cauteloso. “Antes das eleições regionais ainda vamos ter o congresso [no segundo semestre do ano], mas é importante estarmos no terreno e ouvir as populações.”

O mesmo pensa o PSD de Miguel Albuquerque. O homem que em 2015 sucedeu a Alberto João Jardim na presidência do governo madeirense olha para o “Compromisso Madeira” como uma forma de “auscultar a sociedade” com um duplo sentido. Por um lado, explica Albuquerque ao PÚBLICO, os sociais-democratas querem fazer uma avaliação às políticas que foram executadas pelo governo, fazendo um balanço entre o que foi prometido e o que foi concretizado. Por outro, a ideia é perceber o que pensa o eleitorado sobre essas mesmas medidas.

“Queremos avaliar a repercussão das políticas. Saber se as pessoas estão satisfeitas com o que está a ser feito, e perceber se, do ponto de vista da opinião pública, o programa de governo está a ser cumprido”, diz o também líder do PSD-Madeira, sublinhando que os encontros são abertos a todos os cidadãos.

A ideia é sempre aproximar as políticas das pessoas. Teorizando menos, acertando mais. “Podemos estar a trabalhar num conjunto de propostas que do ponto de vista teórico podem ser muito interessantes, e depois não corresponderem àquilo que as pessoas desejam.” Por isso, ressalva, só ouvindo a sociedade é que o partido pode apresentar um programa que corresponda às expectativas das pessoas.

Para coordenar este ciclo de debates e conferências, que, tal como a iniciativa do CDS, vai percorrer todos os concelhos e muitas das freguesias, o PSD chamou Francisco Santos. O ex-secretário regional de Educação dos tempos de Alberto João Jardim e, mais recentemente, antigo director do Millennium BCP para a Madeira, convidou o presidente do Conselho Económico e Social, António Correia de Campos, para a primeira iniciativa, que decorreu na semana passada.

O calendário definido alterna entre os encontros direccionados para as políticas locais com espaços dedicados a questões mais amplas, como a economia, a fiscalidade ou a autonomia política. Albuquerque não esconde outro dos objectivos deste “Compromisso Madeira”: “Evidentemente que esta também é uma maneira de trazer novas ideias e novas pessoas para o partido.”

À esquerda, o mesmo. O PCP já iniciou o “Parlamento Aberto”, indo de freguesia em freguesia para tomar nota dos problemas, e a nova liderança do PS-Madeira, que saiu do congresso regional de Fevereiro passado, já está a preparar a primeira Convenção dos Estados Gerais, que deverá decorrer em Junho.

Cafôfo: o ensaio

A última vez que os socialistas madeirenses ensaiaram esse modelo foi em 2012 com o “Laboratório de Ideias”. Foi dali que saiu uma nova geração de políticos como o presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, e o seu “vice”, Miguel Gouveia, ou a eurodeputada Liliana Rodrigues.

Tal como em 2012, os objectivos são a promoção do debate em torno do que deve ser o programa socialista a apresentar nas próximas regionais e recrutar os melhores quadros para o partido. “Queremos ir ao encontro das pessoas e descobrir quadros que se identifiquem com o PS e que possam dar contributos positivos para o nosso projecto”, resume o partido.

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