Hostel premiado da Baixa de Lisboa corre o risco de fechar

A Fidelidade comunicou aos donos do hostel que o contrato de arrendamento não vai ser renovado.

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Rui Gaudêncio
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Um hostel premiado da Baixa lisboeta corre o risco de fechar no fim deste ano. O Yes! Hostel está instalado num prédio da Fidelidade e a companhia de seguros decidiu não renovar o contrato de arrendamento, à semelhança do que fez com alguns inquilinos em Loures. A notícia apanhou de surpresa os gerentes do hostel, que tinham um acordo praticamente fechado com a seguradora para expandir o negócio.

“Isto é muito mau, é má-fé”, acusa André Mesquita, sócio do Yes!, que abriu ao público em 2009. Naquela altura, ainda Lisboa não era a cidade turística em que entretanto se tornou, ele e um amigo tinham vontade de investir e a Fidelidade, então no universo da Caixa Geral de Depósitos, tinha imóveis disponíveis. “Temos uma série de prédios abandonados na Baixa”, diz André que lhe disseram então. Optaram por um na Rua de São Julião, fizeram as obras necessárias e abriram portas. “Fizemos um hostel espectacular e tornou-se uma referência”, salienta o empresário.

Em 2011 o negócio cresceu com a abertura de um hostel no Porto, também num prédio arrendado à Fidelidade. Pouco depois chegaram os prémios. Entre 2012 e 2015, o Yes! lisboeta foi considerado o melhor ou o segundo melhor hostel grande do mundo pelos utilizadores de um popular site de reservas. Foi no meio desse período, em que vários outros estabelecimentos do género em Lisboa e Porto recebiam distinções e Portugal começava a ser presença constante na lista de destinos imperdíveis, que os dois sócios começaram a pensar em crescer.

“Em 2014 reunimos e pôs-se a hipótese de expandir o hostel para um prédio que há aqui atrás”, também propriedade da Fidelidade, conta André Mesquita. “Fomos reunindo, foram-nos pedindo coisas. Contratei arquitectos, perdi horas a pensar na ampliação”, relata. O empresário tem vários e-mails que trocou com pessoas da Fidelidade e com técnicos da Câmara Municipal de Lisboa que estavam a ajudar na definição do projecto. É neles e nas reuniões que André Mesquita se baseia para acusar a Fidelidade de “quebra de confiança”. Em Junho, relata, houve uma última conversa em que “ficou tudo confirmado”. O hostel expandir-se-ia para a Rua da Conceição e duplicaria o número de camas (de 100 para 200).

A carta que mudou tudo chegou em Novembro. “A Fidelidade opôs-se à renovação automática de tal contrato, uma vez que o mesmo terminará no final do presente ano, permitindo assim avaliar as condições do arrendamento em curso”, explica a seguradora, sem contudo precisar o que é que pretende fazer ao prédio. “Neste momento não dispõe de visibilidade sobre o uso futuro a afectar ao imóvel, se de continuidade do arrendamento para exploração de um hostel, ou de um outro, mas acredita que a breve prazo existirão condições que permitam prosseguir com negociações com os actuais arrendatários”, acrescenta a companhia em resposta escrita enviada ao PÚBLICO.

André Mesquita diz sentir-se “enganado” pela Fidelidade. “Nós podíamos comprar o prédio, mas eles não querem negociar. Nós não somos desconhecidos, somos inquilinos deles há nove anos”, diz. Já a companhia de seguros “nega qualquer actuação de má-fé” e responde que “efectua uma gestão activa e profissional do seu portfólio e a todo o momento toma decisões coerentes com a sua política de investimento”.

O empresário diz ainda que, além do seu negócio, está também preocupado com os 28 trabalhadores do hostel, que podem ir parar ao desemprego. “Isto é matar uma empresa que está boa e estava a crescer. Vamos exercer todos os meios de protecção legal que estiverem ao nosso alcance”, garante.

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