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Rohingya, “um genocídio dos tempos modernos”

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Para o fotógrafo Erberto Zani, a realidade não poderia ser mais clara: "Estamos perante mais um genocídio dos tempos modernos", afirma, em comunicado do P3. O fluxo migratório dos rohingya não parece ter um fim à vista e mantém-se "sob a indiferença do resto do mundo e o pesado silêncio do Prémio Nobel da Paz 1991, Aung San Suu Kyi", de nacionalidade birmanesa e distinguida em 1991.

Desde Outubro de 2016, mais de 600 mil membros da etnia rohingya alcançaram a fronteira da Birmânia com o Bangladesh. Escapam ao que descrevem como "acções violentas" por parte do exército birmanês: agressões, execuções, ocupação e usurpação de território e bens. "Apenas no dia 17 de Outubro de 2017, foram mais de 15 mil os rohingya que atravessaram a fronteira com o Bangladesh e pisaram os campos de arroz de Palangkhali", explica o fotodocumentarista italiano, sediado em Basileia, na Suíça, que esteve no local e registou a chegada. "Exaustos por terem passado dez dias a atravessar selva e montanha, sujeitos ao sol e às frias tempestades, eles esperaram pela sua vez, na lama, para ultrapassar o controlo fronteiriço, feito por militares do Bangladesh."

As raízes do problema que dão origem ao êxodo maciço são diversas. "A pele mais escura dos rohingya, comparada com a da maioria da população birmanesa, deu azo a atitudes racistas e discriminação [por parte da sociedade maioritária da Birmânia]. A religião é usada pelo exército do país para justificar os seus objectivos, embora a religião e a etnia forneçam apenas parte da explicação para este deslocamento forçado." Os rohingya não têm direito a cidadania birmanesa e não estão autorizados a deter propriedade, além de estarem sujeitos, segundo Zani, a "trabalhos forçados e violência de rotina — violações e execuções".

Alguns dias depois de alcançarem a fronteira com o país de acolhimento, os rohyngia "dirigem-se para os gigantescos campos de refugiados de Thangkhali e Balokhali". Erberto Zani acompanhou a travessia dos rohingya até estes se instalarem nos campos e transformou a história no fotolivro intitulado Exodus, que pode ser encomendado através da Amazon. O autor do livro não é estreante no P3, tendo já sido publicado, em 2015, o projecto Black World, que chama a atenção para a violação dos direitos humanos no contexto da mineração ilegal, no Congo.