Palavras, expressões e algumas irritações: artes

O primeiro-ministro recebeu uma comissão de artistas e garantiu “um trabalho concertado entre agentes e tutela para um novo modelo”. Soa bem. E a encenação. Director artístico e actor principal: António Costa.

Plural de “arte”, que um dicionário de português do Brasil regista assim: “Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, em geral de caráter estético, mas carregados de vivência íntima e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de os prolongar ou renovar.” Pensa-se logo em Mário Centeno e em António Costa, não é?

É vê-los a toda a hora em salas de espectáculo, a retribuir o beija-mão que se seguiu à investidura da esquerda maioritária eleita… para o Parlamento. “Agora, é que é”, terão pensado os artistas. Enganaram-se.

Recentemente, reclamaram a distribuição de apoios pela Direcção-Geral das Artes, numa inédita (e tardia) união das companhias de teatro e de outras artes: “Estamos certos de que é um momento histórico. Resta perceber se será recordado como o momento em que este Governo desistiu da cultura e assumiu como definitivo um modelo que está a destruir muito do que foi construído, ou como o momento em que houve disponibilidade e coragem para se dotar a cultura nacional de instrumentos que evitem este estado de perda permanente, dando início a um processo de reformulação do modelo de apoio às artes.” Soa bem.

Foi criada uma comissão de artistas, que junta centenas de agentes e instituições (para lá dos protagonistas de sempre) e que foi recebida por Costa. Ficou garantido “um trabalho concertado entre agentes e tutela para um novo modelo”. Soa bem. E a encenação.

Elenco: António Costa (director artístico e actor principal); Catarina Martins e Jerónimo de Sousa (actores secundários); Mário Centeno (ponto, “indivíduo que dá indicações aos actores ou lhes relembra o texto, lendo-o em voz baixa”); Castro Mendes (arrumador, “leva os espectadores aos seus lugares”); Miguel Honrado (figurante).

Para castings em stand-up comedy, o Estádio de Alvalade é um bom cenário. E António Costa e Mário Centeno gostam de ir à bola.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

Sugerir correcção
Comentar