Os três (ou o amor como uma ciência pouco exacta)

Em The Three, Isadora Kosofsky integra-se nos ziguezagues de uma relação a três na terceira idade. A exposição poderá ser vista, entre 17 de Abril e 30 de Maio, no Edifício Chiado - Museu Municipal.

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Isadora Kosofsky

O que Isadora Kosofsky conta em The Three está longe de ser uma história da carochinha. Ou uma narrativa que se encaminha, com mais ou menos sobressaltos, para um final feliz. Ao percorrermos as imagens que testemunham o quotidiano e a intimidade de um homem (Will, com 84 anos) e de duas mulheres (Jeanie, de 81, e Adina, de 90) que, na terceira idade, decidiram estabelecer um triângulo sentimental (amoroso? apaixonado?), podemos sentir em muitas delas a tensão, o desencontro, o desespero, a mágoa e o ciúme. E talvez não seja por acaso que Kosofsky — uma repórter freelancer de Los Angeles que foca o seu trabalho de fotografia e vídeo em temas sociais como os direitos de pessoas com deficiência, violência de género e direitos dos cidadãos idosos — se refere a esta ligação como “um conflito amoroso” e não como uma (mais próxima de um ideal cor-de-rosa) “relação amorosa”. 

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O que Isadora Kosofsky conta em The Three está longe de ser uma história da carochinha. Ou uma narrativa que se encaminha, com mais ou menos sobressaltos, para um final feliz. Ao percorrermos as imagens que testemunham o quotidiano e a intimidade de um homem (Will, com 84 anos) e de duas mulheres (Jeanie, de 81, e Adina, de 90) que, na terceira idade, decidiram estabelecer um triângulo sentimental (amoroso? apaixonado?), podemos sentir em muitas delas a tensão, o desencontro, o desespero, a mágoa e o ciúme. E talvez não seja por acaso que Kosofsky — uma repórter freelancer de Los Angeles que foca o seu trabalho de fotografia e vídeo em temas sociais como os direitos de pessoas com deficiência, violência de género e direitos dos cidadãos idosos — se refere a esta ligação como “um conflito amoroso” e não como uma (mais próxima de um ideal cor-de-rosa) “relação amorosa”. 

Ao longo deste ensaio, que levou quatro anos a concretizar, também vemos os momentos de ternura, de companheirismo e de cumplicidade (seria estranho se não os houvesse). Mas é no registo subtil da “luta” por ocupar um qualquer lugar na vida (e nos braços) uns dos outros que esta série ganha força, conseguindo manter uma ambiência que parece sempre no limite, à beira do fim de qualquer coisa, perto da separação e da dor. Por baixo da capa do romantismo, um mal-estar constante, impossível de ultrapassar.

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Isadora Kosofsky

Quando viu The Three pela primeira vez no Festival Visa pour l’image, em Perpignan, França, o presidente do Prémio Estação Imagem, Luís Vasconcelos, sentiu essa força e decidiu que à primeira oportunidade mostraria este trabalho em Portugal. “O tema é surpreendente. Não estamos habituados a ver relações vividas desta forma. Estas imagens põem em causa as ideias preconcebidas sobre as relações e a maneira de viver o amor e a solidão na velhice.” Para Vasconcelos, este é também “um bom exemplo de como não é preciso viajar para muito longe, para cenários de guerra, para se fazer um excelente trabalho, que consegue pôr-nos a pensar sobre a vida”.

Há dias, na série de conversas Reimagining the future, organizadas pela TEDTalks, Isadora, que revelou que por vezes estas imagens provocam desconforto em quem as vê, resumiu numa frase o resultado do tempo que passou com Will, Jeanie e Adina: “Além de desafiar as normas socioculturais sobre os idosos, este trio lança luz sobre o medo do afastamento.”

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