Uma pausa forçada

As negociações com os chineses decorriam há mais de um ano, pelo que tempo é o que mais é preciso para encontrar uma solução para a Partex, dar-lhe um rumo e tirá-la da pausa forçada — o mesmo tempo que corre contra ela e contra o seu accionista.

A Fundação Gulbenkian e o Montepio andaram a negociar nos últimos meses com o mesmo conglomerado chinês CEFC a venda de activos importantes, mas embora ambos no mesmo barco, o horizonte que cada uma das entidades portuguesas avista parece diferente. A Gulbenkian estava numa fase adiantada de negociações, mas ainda sem acordo, enquanto o Montepio acena compromissos firmados, embora esteja por se ver se estes são suficientes para responder, de forma transparente, às tantas incógnitas que se acumulam sobre o futuro da CEFC.

O que se sabe hoje é que o destino da CEFC não deverá ser mais o da Gulbenkian e o da sua petrolífera, a Partex. A “espécie de renascimento”, como o presidente executivo da petrolífera chegou a chamar à perspectiva de compra da petrolífera da Gulbenkian pelo conglomerado chinês, não vai acontecer.

As coisas ficam agora mais difíceis para a Gulbenkian, e especialmente mais para a Partex. A fundação arrancou para este processo com uma urgência que se diz não ser boa conselheira nos negócios. E que aumenta à medida que o tempo passa. A petrolífera, por seu lado, numa indústria intensiva em capital a viver tantas mudanças a grande velocidade, atravessa uma pausa forçada. O seu accionista é a sua menos-valia.

A Gulbenkian fez uma mudança de fundo nos últimos anos em relação à direcção estratégica das suas fontes de receita, alegando, por um lado, a necessidade de uma opção de sustentabilidade e, por outro, de maior rentabilidade, num contexto de desvalorização do seu património face ao passado. Avançou, determinada, para a alienação da sua base histórica de receita, que é a Partex, e travou os investimentos que esta estava a fazer na área das renováveis e na maior aposta no gás natural para ser uma “multienergia” e mais limpa.

Com a nova estratégia, que visa trocar activos do petróleo por activos financeiros, as renováveis saíram da Partex e estão à venda. E capital para investir não há. Foi assim que perdeu há dois anos a concessão de petróleo no onshore de Abu Dhabi, por “falta de comparência”. A concessão histórica de Omã termina em 2024 e, para a manter, terá de pagar para isso. E a que resta em Abu Dhabi expira em 2028. São milhões de euros que a Gulbenkian não quer nem tem para gastar.

As negociações com os chineses decorriam há mais de um ano, pelo que tempo é o que mais é preciso para encontrar uma solução para a Partex, dar-lhe um rumo e tirá-la da pausa forçada — o mesmo tempo que corre contra ela e contra o seu accionista.

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