“Não há nenhuma conversa” com a EDP sobre consolidação do sector, diz Mexia

Esta semana surgiram notícias sobre o interesse da francesa Engie na EDP. Presidente executivo da eléctrica nacional, António Mexia, afirma em entrevista que apenas precisam da confiança dos accionistas e parceiros.

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Rui Gaudêncio

A semana começou com notícias sobre o alegado interesse da francesa Angie, o segundo maior grupo energético mundial, na aquisição da EDP. António Mexia, presidente executivo da eléctrica nacional, diz, numa entrevista ao Jornal de Negócios publicada esta quinta-feira, que não houve qualquer conversa com a EDP.

O jornal Eco avançava na segunda-feira, citando o jornal francês BFM, que a responsável do grupo francês e António Mexia, reeleito a 5 de Abril presidente da EDP, já tinham estado em contacto. A notícia fez disparar as acções da empresa portuguesa. "É muito normal que haja uma série de intervenientes, o mercado vive disso, que algumas entidades falem disso, mas não há nenhuma conversa connosco sobre consolidação do mercado", afirmou António Mexia. 

A EDP já tinha reagido às notícias, num comunicado que informava a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários de que "não foram estabelecidos quaisquer contactos, nem mantidas quaisquer negociações com vista a operações de consolidação".

Na entrevista ao Negócios, o presidente da EDP afirma que a sua prioridade é que a companhia controle o seu destino, o que está a acontecer. A empresa tem um papel relevante na área das energias renováveis, consideradas a aposta para o futuro, e fechou 2017 com lucros superiores a mil milhões de euros. "Nós antecipámos esta revolução e, portanto, estamos a controlar o nosso destino. Não preciso de mais ninguém para controlar o nosso destino, precisamos apenas da confiança dos nossos accionistas, parceiros, colaboradores e clientes. É dessa confiança que nós precisamos", disse.

Questionado sobre se a EDP não precisa de um novo parceiro, o responsável disse que já os tem: o maior, a China Three Gorges [que é também a maior accionista da empresa], "importante para o crescimento no Brasil, importante para a entrada em novos mercados como o caso do Peru e eventualmente o mercado colombiano". 

"Não existe crispação com o Governo"

Em declarações à Lusa, António Mexia abordou um outro tema quente com a EDP no centro e rejeitou a existência de crispação com o Governo, referindo que "em Portugal a energia está do lado da solução". Mas reiterou que as regras fixadas no passado têm que ser respeitadas.

Em causa os Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), criados em 2004 e recebidos pela EDP desde Julho de 2007, devido à cessação antecipada de vários contratos de aquisição de energia (CAE) que a empresa tinha em cerca de três dezenas de centrais eléctricas, e que estão a ser objecto de uma investigação do Ministério Público.

"Não acho que exista crispação (...) com o Governo. Acho que pura e simplesmente tem que se trabalhar no contexto de encontrar soluções", defendeu António Mexia, em declarações à margem da International Electricity Summit, em Washington, referindo que não pode aceitar que sejam mudadas "regras que foram fixadas em 1995, confirmadas na privatização de 1997, que são objecto de lei em 2014 e que presidiram a tudo que tem a ver com a venda de acções do Estado".

Além do processo de investigação, está em causa um diferendo entre a eléctrica e a estimativa do regulador que considera que a EDP ganhou mais 510 milhões de euros com este regime nos últimos dez anos, e que propõe um ajustamento final de 154 milhões de euros até 2027, enquanto o grupo de trabalho técnico EDP/REN — Redes Energéticas Nacionais apurou um valor de ajustamento final de 256 milhões de euros, para o mesmo período, de 1 de Julho de 2017 até 31 de Dezembro de 2027.

"A EDP limitou-se a cumprir legislação de 2004, não houve nada depois disso. Limitámo-nos a respeitar os contratos e a lei. São os deveres fiduciários", declarou. Segundo o líder da eléctrica, "em Portugal a energia está do lado da solução", dizendo que "quem cumpre o seu dever está sempre optimista".

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