Zuckerberg pediu desculpas e até concordou com alguma regulação

A sessão no Senado foi vista como um duelo entre o poder político de Washington e os ideais da tecnologia de Silicon Valley. Mas houve pontos de acordo.

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Mark Zuckerberg tenso durante uma das perguntas no Senado LUSA/MICHAEL REYNOLDS
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Protesto em frente ao Capitólio LUSA/MICHAEL REYNOLDS

Foi um Mark Zuckerberg aparentemente tenso e cheio de frases ensaiadas que começou por responder às perguntas do Senado americano com uma revisão da matéria dada: uma mistura de explicações sobre o funcionamento básico do Facebook e de desculpas semelhantes às que já deu nas múltiplas declarações públicas recentes.

O executivo depôs numa audiência com um enorme peso simbólico, que foi seguida em directo tanto nos EUA como no resto do mundo, e comentada em tempo real nas redes sociais. A sessão, vista como um duelo entre o poder da política de Washington e os ideais do mundo tecnológico de Silicon Valley, decorreu numa altura em que o Facebook tem uma imagem desgastada: a dois anos de críticas pela forma como a rede social foi usada para espalhar notícias falsas e desinformação, somou-se o escândalo recente dos dados usados pela consultora política Cambridge Analytica, que trabalhou com a campanha de Donald Trump. As declarações de Zuckerberg em Washington poderão ser determinantes não apenas para o futuro do Facebook, mas também das empresas de Internet.

Zuckerberg voltou a assumir responsabilidades pessoalmente, a dizer que cometeu muitos erros na gestão da empresa e a afirmar que um desses erros foi ter achado que a Cambridge Analytica tinha de facto apagado os dados dos cerca de 87 milhões de utilizadores a que acedeu, violando as regras do Facebook. “Quando soubemos que a Cambridge Analytica tinha comprado dados, agimos”, afirmou Zuckerberg. “Cancelámos a aplicação e exigimos que apagassem todos os dados que tivessem. Em retrospectiva, foi um erro acreditar neles”.

Esta postura de Zuckerberg no Senado contrasta com a visão de há um ano, quando anunciou um novo plano que passava por transformar a rede social numa espécie de infra-estrutura para todo o tipo de relações entre pessoas e para a vida pública dos cidadãos. Já no início deste ano, com um avolumar de críticas sobre os efeitos da rede social tanto nas vidas dos utilizadores, como no funcionamento das democracias, Zuckerberg reconheceu as falhas da plataforma e afirmou que dedicaria 2018 a resolver estes problemas – algo que voltou a afirmar no Senado, onde foi ouvido durante mais de cinco horas.

As desculpas de Zuckerberg, no entanto, não convenceram todos os senadores (alguns dos quais fizeram questão sublinhar o longo historial de pedidos de desculpas do fundador do Facebook), mas houve pontos em que estiveram de acordo – e um deles foi o da possibilidade de regras mais apertadas no que diz respeito à forma como as empresas de Internet lidam com os dados dos utilizadores. “A minha posição não é que não deve haver regulação”, afirmou o presidente do Facebook. “Se for a regulação certa, sim.” Zuckerberg também esclareceu que aplicará nos EUA e no resto do mundo algumas das novas regras de protecção de dados que entrarão em vigor na Europa em Maio.

Em muitos momentos, Zuckerberg capitalizou a falta de conhecimento de alguns senadores. Aconteceu, por exemplo, quando explicou que é a rede social quem mostra os anúncios aos utilizadores com base nos dados que tem, em vez de vender esses dados a anunciantes. E também quando explicou que os sistemas operativos dos telemóveis não permitiram ao Facebook recolher informação de aplicações criadas por outras empresas. Noutras ocasiões, porém, Zuckerberg foi evasivo e recusou-se a dar respostas concretas, mesmo quando se tratava de perguntas de sim ou não.

O discurso de ódio e os limites da liberdade de expressão foram outros dos temas em cima da mesa. Reconhecendo dificuldades em identificar todas as situações de discurso de ódio, o executivo afirmou que vai contratar mais pessoas para moderar conteúdos na rede social. Isto incluirá “dezenas” de moderadores que falam birmanês, uma referência directa à conclusão recente das Nações Unidas de que o Facebook teve um “papel determinante” na violência contra a minoria muçulmana rohingya naquele país. “O discurso de ódio é uma coisa muito específica de cada língua”, justificou Zuckerberg. A generalidade das medidas que o executivo comunicou ao Senado já tinha sido divulgada pela empresa nos meses recentes.

A audiência foi também marcada por algumas memórias de 1998, quando a Microsoft começou a ser investigada por questões concorrenciais, num processo que quase dividiu a multinacional em várias empresas (alguns dos senadores presentes na audiência desta terça-feira estiveram na investigação ao monopólio da Microsoft). Zuckerberg teve o cuidado de argumentar que o Facebook tinha múltiplos concorrentes, incluindo empresas como a Microsoft e o Google. Quando questionado sobre se o Facebook era um monopólio, respondeu: “Eu certamente não sinto isso.”

Um dos momentos a quebrar a rotina da sessão de perguntas e respostas surgiu quando os senadores quiseram fazer uma pausa para intervalo e Zuckerberg entusiasticamente sugeriu que continuassem durante mais 15 minutos. Um outro momento a arrancar sorrisos na sala aconteceu quando um senador perguntou: “Seria confortável para si dizer-nos qual o hotel em que passou esta noite?” Depois de uma hesitação, Zuckerberg corou e admitiu que não.

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