UE cria programa de 2100 milhões em capital de risco para não deixar escapar vaga tecnológica

Dinheiro público será co-investido com fundos privados, para aproximar o sector da dimensão que tem nos EUA.

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“O VentureEU é um elemento central da estratégia de inovação aberta que lançámos há três anos. É essencial para que a Europa continue a ser um líder industrial e um motor económico”, diz Carlos Moedas LUSA/NUNO ANDRé FERREIRA

A União Europeia vai disponibilizar 410 milhões de euros para atrair investidores privados e assim fazer chegar um total de 2100 milhões de euros a fundos de capital de risco, que por sua vez poderão financiar empresas que desenvolvam tecnologias inovadoras. O mecanismo visa colmatar a falta de capital de risco privado na Europa, onde este sector é substancialmente menor do que nos EUA.

O programa, lançado nesta terça-feira, chama-se VentureEU. Ao todo, seis grandes fundos de capital de risco foram seleccionados para aplicar o dinheiro público e procurar também co-investidores privados. Estes seis fundos deverão depois investir em fundos de capital de risco mais pequenos, que serão os responsáveis por fazer investimentos em empresas, num montante total que a Comissão Europeia espera que chegue aos 6500 milhões de euros.

A medida sublinha a preocupação europeia de não repetir o passado e deixar escapar para os EUA as oportunidades de negócio em áreas de inovação. Os fundos poderão ser aplicados em empresas de vários sectores, mas, na apresentação do programa, a Comissão Europeia destacou áreas as tecnologias digitais e médicas. Na anterior vaga de inovação tecnológica, marcada pela massificação da Internet, a maioria das grandes empresas surgiram do outro lado do Atlântico, como é o caso do Google, Amazon e, mais tarde, do Facebook. Entre as empresas europeias de Internet que tiveram sucesso global estão nomes como o Skype (que nasceu na Estónia e foi comprado pela Microsoft) e o Spotify (que é sueco e entrou recentemente na Bolsa de Nova Iorque).

De acordo com números da Comissão Europeia, em 2016 tinham sido investidos 6500 milhões de capital de risco na UE, um valor muito abaixo dos 39.400 milhões investidos nos EUA. Em média, os fundos europeus têm 65 milhões de euros, menos de metade dos 156 milhões dos fundos americanos. A Comissão observa ainda que, no final de 2017, apenas 26 empresas na UE tinham uma valorização de pelo menos mil milhões de dólares (são conhecidas como “unicórnios”), ao passo que 109 empresas nos EUA e 59 na China tinham chegado àquela fasquia. Há ainda casos de empresas que precisam de procurar capital fora da Europa quando atingem uma grande dimensão.

“A Europa dispõe de um manancial de talento, de investigadores de categoria mundial e de empresários qualificados, mas tem de conseguir converter melhor essa excelência em histórias de sucesso. O acesso ao capital de risco desempenha um papel fundamental na inovação”, refere um comunicado da Comissão Europeia. “O VentureEU é um elemento central da estratégia de inovação aberta que lançámos há três anos. É essencial para que a Europa continue a ser um líder industrial e um motor económico”, disse por seu lado comissário para a Inovação, Carlos Moedas.

Os mecanismos de co-investimento com dinheiros públicos diminuem o risco para os investidores privados e são uma estratégia a que a União Europeia recorre para fazer chegar financiamento às empresas. Dos 410 milhões de investimento público do VentureEU, 200 milhões vêm do Horizonte 2020, o programa da Comissão para financiamento à investigação e inovação. Para além disto, 105 milhões são de um programa de apoio a pequenas e médias empresas e os outros 105 fazem parte do Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos, o chamado Plano Juncker.

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