Movimento Anti-Nuclear desafia Protecção Civil a realizar simulacro de acidente

Só um exercício de larga escala permitirá "concretizar um plano de emergência" que permita às pessoas saber o que fazer numa situação imprevista.

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A central nuclear de Almaraz, em Espanha, ficou a pouco mais de 100 quilómetros da fronteira LUSA/NUNO VEIGA

Uma das propostas que o Movimento Ibérico Anti-Nuclear (MIA), coordenado por António Eloy, apresentou numa reunião nesta terça-feira com o director dos Serviços de Risco e Planeamento da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), Carlos Mendes, foi a de se realizar em Portugal um simulacro de acidente nuclear nas zonas próximas junto à fronteira com Espanha, a 100 quilómetros da central nuclear de Almaraz. Para tal, o exercício deveria envolver, além da Protecção Civil, as autarquias e outras autoridades.

Contactada, a ANPC remeteu para breve respostas às perguntas do PÚBLICO sobre se concorda com a realização desse exercício, se este é condição necessária para concretizar um plano de emergência com impacto, e se a Protecção Civil está a delinear medidas de prevenção a aplicar em eventual caso de acidente em Almaraz.

Por telefone, o chefe da divisão de comunicação da ANPC, Jorge Dias, antecipou que recentemente já foram realizados quatro cursos de emergências radiológicas. “Estes cursos não se confinam aos aspectos das centrais nucleares, que são aqueles que têm menos probabilidade de acontecer no espectro daquilo que poderão ser estas emergências”.

Além das acções de formação, nas quais participaram bombeiros e elementos da Protecção Civil, do INEM, da GNR, das Forças Armadas, dos serviços municipais, a ANPC também realizou exercícios (de simulacro) mas de pequena escala, relacionados com situações de emergência com matérias radiológicas.

"Equacionado como possível"

Para o Movimento Ibérico Anti-Nuclear, as respostas dadas na reunião desta terça-feira mostram que a ANPC está a levar mais a sério potenciais riscos. Porém, no entender do coordenador António Eloy, só um simulacro de larga escala daria a conhecer às populações o que fazer em caso de acidente e serviria para concretizar um plano de emergência e evacuação, que não existe.

“As linhas operacionais que existem neste momento têm que se transformar em algo concreto”, defende António Eloy. “Um exercício [de simulação] é a pedra de toque de um plano”, acrescenta, fazendo uma analogia com a situação dos incêndios. “Uma coisa é ter planos para os incêndios e depois mandar as pessoas para as ruas” quando algo acontece. “Só quando o plano é articulado e tem orientações concretas permitirá que as pessoas não fiquem completamente dispersas e perdidas”, salienta.

Este simulacro “foi equacionado como sendo possível” pelos interlocutores da Protecção Civil na reunião. O facto de não haver uma resposta negativa já é visto como uma abertura positiva e o sinal de que a Protecção Civil começa a estar mais atenta a esta matéria.

“Pelo menos tivemos a sensação de que há alguma preocupação da parte da Protecção Civil, que há algumas diligências em considerar que esta não é uma questão absurda”, disse Eloy que há seis meses denunciou num artigo de opinião no PÚBLICO, com o título Segurança da central de Almaraz em causa, a inexistência de um plano de emergência em Portugal.

Críticas à ANPC

Nesse artigo, o coordenador do MIA referia que, ao contrário do que garantia, a Protecção Civil não tinha um plano de emergência para a eventualidade de uma situação imprevista nesta central “com um imenso historial de incidentes e acidentes”.

A existir, sublinhava na altura, "não era do conhecimento" de quem mais interessava: “As autarquias do Tejo, de Castelo Branco e de Portalegre” e "das escolas, associações profissionais, sociais, sindicais e empresariais” das zonas potencialmente mais afectadas por um acidente.

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