Crianças fazem quimioterapia em corredores no Hospital de São João

Pais queixam-se sobre falta de condições à administração do hospital, que marcou uma conferência de imprensa para falar sobre a situação. Ala pediátrica funciona há dez anos em contentores.

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FERNANDO VELUDO/NFACTOS

As crianças que precisam de quimioterapia mas não têm de ficar internadas estão a receber o tratamento em corredores. A falta de condições no Hospital de São João, no Porto, é denunciada pelos pais, que alertam também para a situação a que as crianças com cancro são sujeitas quando é preciso internamento. A ala de pediatria da unidade funciona há dez anos em contentores. Os problemas com que doentes e famílias se deparam já foram denunciadas à administração do hospital, que diz estar a fazer obras de melhoria e adaptação, refere o Jornal de Notícias nesta terça-feira.

O diário lembra que a construção da nova ala pediátrica do Hospital de São João — o Joãozinho — está parada há cerca de dois anos e que no mês passado o Ministério da Saúde disse que os 22 milhões de euros disponibilizados pelo Governo já tinham sido transferidos, aguardando apenas a autorização do Ministério das Finanças. Declarações feitas pelo secretário de Estado da Saúde, Fernando Araújo, depois de a administração ter admitido que o bloqueio das Finanças colocava a pediatria em situação de ruptura.

O JN questionou o ministério, a Administração Regional de Saúde do Norte e o hospital sobre se a verba já tinha sido disponibilizada, mas a unidade de cuidados de saúde apenas adiantou que tem tido melhorias.

Três pais contaram ao jornal os vários problemas com que as crianças doentes se debatem. Relatam que, depois de fazerem quimioterapia, as crianças têm de partilhar o elevador com os carrinhos do lixo e que quando é preciso internamento têm de esperar durante várias horas, "sem condições higiénicas", por uma ambulância que as transporte do edifício central para o Joãozinho. Já no internamento, as condições não são melhores, descrevendo quartos de isolamento "com buracos nas paredes" e "janelas [por] onde entra frio".

Já durante a manhã desta terça-feira, a administração anunciou que marcou uma conferência para falar sobre a situação da pediatria. Entretanto a Antena 1 disse que, numa mensagem enviada àquela rádio, os responsáveis pelo hospital admitem que estão "a fazer tudo o que é possível" e assumem que "as condições são indignas". A administração lembra que está há quase um ano à espera que o Governo liberte dinheiro para a nova unidade pediátrica. Contactado pela rádio, o ministério adiantou que o dinheiro será desbloqueado em breve.

O PS considerou a situação "preocupante", mas adiantou estar "bem encaminhada" a concretização pelo Governo de um investimento de 22 milhões de euros. Na Assembleia da República, o dirigente socialista António Sales disse que o PS "está muito preocupado" com a situação, já que se trata "de crianças com patologia oncológica, mas também de profissionais de saúde que trabalham em condições menos boas", cita a Lusa.

"Nos fóruns próprios e junto dos órgãos próprios, o Grupo Parlamentar do PS fará pressão para que esta situação seja resolvida o mais depressa possível. Sabemos que está bem encaminhada a solução, quer por parte do Ministério da Saúde, quer por parte do Ministério das Finanças", garantiu o deputado socialista.

"É para nós estranho que a oposição explore agora esta situação, até porque terá provavelmente conhecimento prévio que esta situação está prestes a ser resolvida", alegou.

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