Uso de plástico não reduz desperdício alimentar

Aumento do número de embalagens alimentares em plástico não está a ajudar a reduzir o desperdício alimentar, diz estudo. Associações querem mais embalagens reutilizáveis, em vez de descartáveis

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Peter Bond / Unsplash

O aumento do número de embalagens plásticas não reduz o desperdício alimentar na Europa e pode mesmo contribuir para este problema, concluem organizações ambientalistas, alertando que os impactos ambientais do plástico são subestimados.

Informação recolhida e publicada pela Friends of the Earth Europe (Amigos da Terra Europa) e pela Zero Waste Europe (Zero Desperdício Europa), membros da Rethink Plastic Alliance, revela que "o aumento do número de embalagens alimentares em plástico não está a conseguir reduzir o crescente problema europeu do desperdício alimentar e em alguns casos pode estar mesmo a fomentá-lo".

Os resultados do estudo, divulgados em Portugal pela Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável, levam as organizações a defender ser urgente apoiar soluções de embalagens reutilizáveis. Entre as medidas que propõem está a aplicação de metodologias mais abrangentes e rigorosas na avaliação do papel das embalagens de plástico no sistema alimentar e dos impactos que têm na saúde e na poluição marinha, assim como a sua relação com o desperdício alimentar.

Promover propostas legislativas para a redução da quantidade de embalagens descartáveis, apoiar a opção por reutilizáveis, assim como rever os critérios de ecodesign e as regras de rotulagem são outras alternativas avançadas. As organizações defendem ainda a utilização de instrumentos de mercado para evitar o desperdício alimentar e os resíduos de embalagens, nomeadamente através de critérios nesse sentido nas compras públicas, da responsabilidade alargada do produtor, ou de sistemas de depósito e taxação progressiva de plásticos usados pela primeira vez, ou seja, não reciclados.

Impactos ambientais do plástico são "subestimados" 

O estudo chama a atenção para o facto de os impactos ambientais dos plásticos serem "sistematicamente subestimados" quando se definem novas políticas com impacto nas embalagens alimentares. A crítica abrange algumas das medidas que estão a ser desenvolvidas pela Comissão Europeia para resolver o problema da poluição por plásticos. Desde 1950, o uso per capita de embalagens de plástico aumentou ao mesmo tempo que o desperdício alimentar e actualmente o primeiro está nos 30 quilogramas e o segundo nos 173 quilogramas. Entre 2004 e 2014, o desperdício alimentar duplicou (30 milhões de toneladas por ano) e os resíduos de embalagens de plástico aumentaram 50% (15 milhões de toneladas).

"Mesmo considerando que parte do aumento pode ficar a dever-se ao facto de terem entrado novos países para a União Europeia (UE), uma análise mais cuidada aponta para que cerca de 40% dos resíduos de embalagens de plástico sejam para produtos alimentares", apontam as entidades. Estimativas citadas no estudo apontam para um custo do desperdício alimentar na UE de 143 mil milhões de euros por ano, o equivalente ao seu orçamento operacional. Cerca de um terço (37%) de toda a comida vendida na UE está embalada em plástico, acrescentam.

Os ambientalistas defendem que "os grandes retalhistas estão a contribuir para o aumento do desperdício alimentar e das embalagens de plástico através dos seus padrões de classificação, do pré-embalamento dos produtos e das embalagens de formato pequeno". Dão o exemplo de um estudo a demonstrar que a preparação de feijão verde para caber na embalagem pré-formatada pode levar a um desperdício de 30 a 40%.

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