O relativismo europeu

É com dinheiro da União Europeia que Orbán espalha os seus cartazes anti-refugiados, é com as benesses oferecidas pela Comissão que Orbán tem púlpito para atacar os princípios em que se funda a União.

Se a União Europeia vier a sucumbir nos próximos anos, a origem desse evento deverá ser encontrada não no “Brexit”, mas no Fidesz. Não em Londres, mas em Budapeste. Não em Theresa May, mas em Victor Orbán.

Não é demasiado repetir: as eleições húngaras de domingo deram a vitória a um político que repetiu sempre um discurso anti-semita, xenófobo e antiliberal. Victor Orbán consegue reunir várias características que representam o pior do populismo europeu e o colocam no pódio dos políticos odiosos.

A União Europeia é uma das principais culpadas. Sempre que se discutiu a imposição de sanções à Hungria por causa da sua deriva antidemocrática, a conclusão era a mesma: não se podia dar argumentos ao nacionalismo de Orbán, porque isso lhe daria ainda mais votos. Passadas as eleições, é fácil perceber que pior não seria. Esta é a suprema das ironias, a estupidez cristalizada numa só acção política: é com dinheiro da União Europeia que Orbán espalha os seus cartazes anti-refugiados, é com as benesses oferecidas pela Comissão que Orbán tem púlpito para atacar os princípios em que se funda a União. É uma das grandes heranças de Jean-Claude Juncker, a par do “Brexit” e da inépcia com que lidou com a crise dos refugiados.

Ainda na noite de domingo, os racistas e demagogos atropelaram-se para felicitar a Hungria. Marine Le Pen, Gert Wilders e Boris Johnson enviaram mensagens. Trump, se soubesse onde é a Hungria, também felicitaria o protoditador. Vergonhosamente, o Partido Popular Europeu também não se coibiu de sujar as mãos na pouca-vergonha húngara: não só apoiou sempre Victor Orbán durante estes anos, como a maioria dos seus líderes se apressou a elogiar o resultado. Esse resultado, convém recordar, foi conseguido graças a práticas de esmagamento da oposição, ao silenciamento dos meios de comunicação e à manipulação política dos tribunais. E acima de tudo a um discurso populista que viu nos árabes, nos judeus, nos refugiados e em Bruxelas a origem de todos os males do mundo. A mesma receita está a ser seguida na Polónia, com resultados semelhantes.

A UE não tem obrigação de sustentar os membros do clube que não alinham com os seus princípios. Mais vale capitular na estrutura e manter os princípios do que o inverso, até porque o futuro se constrói em comum. Esta Hungria não pode ser membro do mesmo clube que Portugal, a Estónia ou a Dinamarca, porque não partilha dos mesmos valores e não quer partilhar o mesmo futuro.

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