O longo historial de desculpas de Zuckerberg

O líder do Facebook já pediu desculpas muitas vezes e tem um historial de promessas não cumpridas que se repetem de forma cíclica.

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Protesto contra Mark Zuckerberg antes da sua audição no Senado LUSA/MICHAEL REYNOLDS

Nesta segunda-feira, vários senadores americanos insistiram em perguntar a Mark Zuckerberg por que é que hão-de acreditar nele desta vez. A pergunta é compreensível. Porque esta vez pode ter sido exactamente como todas as outras, em que o líder do Facebook mentiu e se desculpou, para depois repetir exactamente o mesmo comportamento.

O professor Michael Zimmer, da Universidade do Wisconsin-Milwaukee, passou três anos a construir um site chamado The Zuckerberg Files, onde reuniu todas as intervenções públicas do líder do Facebook. A ferramenta está disponível para investigadores e jornalistas e permite perceber bem o histórico das desculpas sobre abusos à privacidade dos utilizadores. 

Ainda em 2003, quando o protótipo do Facebook era apenas um site em que se comparava a beleza das alunas de Harvard, Mark Zuckerberg emitiu um pedido de desculpas pelo roubo de fotos do site da universidade: “Espero que compreendam que não era isto que queria que acontecesse e peço desculpa por qualquer mal provocado pela minha negligência.”

Com o nascimento do Facebook em 2004, a empresa começou a espalhar a sua influência a partir das universidades americanas. Assim que ganhou alguma dimensão, em 2006, a rede social lançou no site uma versão simplificada do actual feed de notícias. Fê-lo sem qualquer alerta e sem colocar quaisquer mecanismos de privacidade, o que provocou a ira dos utilizadores. A reacção do CEO foi pedir desculpa: “Foi um grande erro da nossa parte, peço desculpa.”

No ano seguinte nascia o primeiro grande serviço de publicidade dentro do site Facebook, chamado Beacon (entretanto abandonado). O lançamento foi tão surpreendente que motivou um protesto que tomou a forma de um abaixo-assinado que recolheu a concordância de 50 mil pessoas. Zuckerberg, compreensivelmente, pediu desculpa: “Fizemos um mau trabalho com este lançamento e peço desculpa por isso.”

Zuckerberg pediu desculpa, de forma directa ou indirecta, muitas vezes mais. Mas muitas outras vezes mandou outros representantes fazê-lo. Em 2014, quando a empresa admitiu que andou a manipular as emoções dos utilizadores de forma a perceber o seu real poder, o CEO não pediu desculpa. Mas mandou a sua Chefe de Operações, Sheryl Sandberg, pedir desculpa: “Foi mal comunicado, e por essa falha de comunicação pedimos desculpa. Nunca quisemos perturbar ninguém.” Vários analistas notaram que não houve uma retratação pela experiência, mas pela má comunicação da mesma.

Há muitas razões para pôr em causa a credibilidade do líder do Facebook. Em 2009, numa entrevista à BBC, decorreu o seguinte diálogo entre a jornalista da estação britânica e Mark Zuckerberg:

BBC: “Quem é o dono da informação que as pessoas colocam no Facebook? Quem a colocou lá? Ou você?”

Zuckerberg: “A pessoa que coloca a informação no Facebook é dona da sua informação. E este é um aspecto muito importante: é por isto que as pessoas sentem a importância do nosso serviço. A informação é das pessoas. Elas são donas dela."

BBC: "E não será vendida?"

Zuckerberg: "Não! Claro que não. As pessoas apenas querem partilhar essa informação com alguns outros."

BBC: "Para ser claro, você não vai partilhar, ou revender nenhuma informação recolhida no Facebook?"

Zuckerberg: “O que os termos [de utilização] dizem é que não vamos partilhar a informação dos utilizadores, excepto com as pessoas com quem eles querem partilhar.”

Se assim fosse, Mark Zuckerberg não seria multimilionário e as audições no congresso não teriam ocorrido.

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