Criptomoedas: o fim da mineração?

Minar ou minerar criptomoedas ainda é uma acção incógnita para a maioria dos leitores. No entanto, ainda antes de a compreendermos, corre o risco de desaparecer. Não porque esgotaram as “picaretas” (placas gráficas) para minerar, mas porque pode deixar de ser preciso fazê-lo. Porquê?

Recordemos primeiro o que é a mineração e para que serve. O algoritmo de aprovação POW (Proof of Work) nasceu com a bitcoin e é utilizado na maioria das criptomoedas para confirmar que as transacções são lícitas e verdadeiras. A lógica de utilizar sistemas descentralizados, onde nenhuma empresa, governo ou organização tem mais autoridade do que todos os outros players na rede, implica uma participação massiva de pessoas na rede a co-participar do sistema. Para isso, são necessárias duas condições complementares: um algoritmo tendencialmente impossível de hackear e micro-recompensas para todos que participam.

Minerar significa, na sua essência, procurar resolver problemas complexos computacionalmente (através de interacções sucessivas efectuadas com rigs de placas gráficas avançadas), para aprovar as transacções e comprovar que existe um trabalho efectivo que merece uma recompensa em criptomoeda. A prova desse trabalho (POW) é também essencial para que nenhuma entidade, por muito grande que seja, tenha poder computacional suficiente para alterar transacções efectuadas ou aprovar movimentos fraudulentos. Ao fazer isto, os mineradores legitimam o sistema e recebem um pequeno prémio em criptomoeda, que acaba por ser a forma como ela é criada. Assim, evita-se a possibilidade de que alguém use criação de moeda como ferramenta de gestão de volatilidade ou de intervenção no mercado, permitindo a sua evolução lenta e gradual.

Este processo de mineração é, no entanto, consumidor de recursos informáticos no limiar do absurdo, para resolver problemas matemáticos que, na realidade, são inventados para o efeito. Por outro lado, o processo consome electricidade de uma forma sem precedentes - estima-se que a mineração das criptomoedas em 2018 possam consumir mais energia do que 20 países juntos. Além disso, o aparecimento de novas máquinas (ASICS) de elevado desempenho, pensadas só para mineração (como acontece no Bitcoin), começam a ameaçar o princípio de crowdsourcing e de pura descentralização, uma das bases elementares da mineração e do Blockchain.  Neste sentido, torna-se imprescindível encontrar uma solução que resolva este problema de sustentabilidade. Por outro lado, existe um problema de escalabilidade com este algoritmo, que importa resolver a prazo.

O ecossistema de Ethereum, quiçá o mais avançado entre os sistemas de tecnologia Blockchain, criou bases a um novo algoritmo chamado POS (proof of stake) e que parte da lógica de que são as pessoas que têm ETH que podem aprovar movimentos, podendo perder uma parte importante de moeda por cada parte (stake) que usam para aprovar as transacções, se tentarem cometer fraude. No fundo, os novos mineradores passam a “votar” com a sua criptomoeda em vez de usarem o seu poder computacional. A mudança do sistema de mineração de criptomoeda (POW) para o algoritmo POS começará com 1% e crescerá até que a mineração desapareça por completo – o que poderá acontecer ainda em 2019.

A mudança de paradigma não é apenas técnica. Na mineração tradicional, a lógica base é de que “é preciso vender as moedas criadas para pagar a electricidade e hardware”, enquanto no POS é preciso “guardar o maior número de moedas para ganhar stake rewards”. Portanto, o estímulo deixa de ser vender moeda e passa a ser guardá-la. E com isso aumenta a probabilidade de reserva de valor, resolvendo o problema energético e de escalabilidade. No entanto, há outras soluções para a escalabilidade: Plasma, Sharding, Segwit, OffChain, etc;

Com esta evolução para POS ou outros algoritmos, para onde estão a ir os mineradores? A maioria deles para o microtrading de ICO, a fase seguinte à das criptomoedas principais. Mas esse é um tema com uma história própria...

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